Texto por Carlos Ferracin – Fotos por Marcos Hermes (FleishmanHillard) – Edição por André Luiz
Não há como contar a história da década de 60 sem falar nos Beatles. Exagero? De forma alguma, já que o legado é inegável e não apenas na esfera musical, mas também de um comportamento o qual ecoou pelo mundo todo. Esse legado vem passando de geração em geração e foi exatamente o que vimos em um Allianz Parque completamente lotado de fãs de todas as idades para receber o primeiro dos três shows da “GOTBACK Tour 2023” em terras paulistanas.
Com o telão exibindo imagens de Paul desde o início até chegar nos dias atuais, a plateia foi devidamente aquecida para a sua entrada acenando com um semblante de “é aqui que vou me apresentar?”, iniciando com “Can’t Buy Me Love”, uma das canções mais populares da fase “yeah yeah yeah” do quarteto de Liverpool, levando o estádio à efervescência – como se as temperaturas da cidade nos últimos dias tivessem sido amenas…
“Junior’s Farm” e “Letting Go” foram canções do Wings as quais cumpriram bem o papel de manter o clima no início do show, mas “She’s A Woman” e “Got To Get You Into My Life” foram aquelas surpresas que ninguém esperaria: enquanto a primeira trata-se do lado B do single “I Feel Fine” (1964), a segunda foi lançada em ‘Revolver’ e não estou dizendo que seja descartável – algo que não existe em sua discografia –, mas estamos falando de um álbum estupendo cuja canção aparece um tanto quanto tímida entre vários clássicos. Verdade seja dita, a execução desta canção arrancou lágrimas de muita gente – inclusive do autor deste texto.
“Let ‘Em In” e “Maybe I’m Amazed” estão entre as melhores canções da carreira de Paul pós-Beatles e saber mescla-las com composições mais novas foi uma ótima ideia, também usada em outros momentos do show com “Blackbird”, “Getting Better” e “Lady Madonna” – Paul tem a noção de que a maioria das pessoas estava ali pela discografia do quarteto de Liverpool.
Anunciada como “a primeira canção gravada pelos Beatles”, “In Spite Of All The Danger” foi originalmente composta quando ainda se chamavam The Quarrymen – essa foi a única canção creditada à dupla Paul e George – e “Love Me Do” – primeira canção composta por Paul e John lançada oficialmente – formaram uma sequência nostálgica com grande participação do público.
Aos 81 anos de idade, Paul ainda mantém o brilho de quem está começando e amando o que faz, se comunicando em português (“só um pouquinho” como ele disse) e interagindo constantemente com a plateia e banda, formação esta que excursiona junta há um bom tempo: Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (baixo, guitarra), Paul ‘Wix’ Wickens (piano) e o figuraça Abe Laboriel Jr (bateria) que fez uma espécie de ‘dancinha’ durante “Dance Tonight”.
Antes de “Here Today” do álbum ‘Tug Of War’ (1982), Paul disse “dedico essa canção ao meu querido amigo John” e os versos “eu ainda lembro como era antigamente / e não vou mais segurar as lágrimas / eu te amo” foram carregadas de muita emoção. A mesma emoção e respeito que ele também demonstrou por George ao dizer ao final de “Something”: “agradeço ao George por ter feito uma canção tão bela”. A música que foi executada em uma versão um pouco diferente – Paul utilizou um ukelele no início –, marcou o início da “fase karaokê” do show: “Band On The Run” e “Live And Let Die” – esta com pirotecnia digna de um show de heavy metal – estavam entre as canções mais populares dos Wings. E, bem, “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, “Let It Be” e “Get Beck” – na qual Paul agradeceu ao diretor do documentário que leva o mesmo nome, Peter Jackson – são mágicas, difícil achar alguma outra palavra que as definam melhor. E ainda teve “Hey Jude”, eu duvido que exista melhor canção para encerrar uma apresentação e todos merecem uma vez pelo menos na vida cantar o “na, na-na-na-na-na-na-na-na, hey Jude” junto com o Paul.
O encore com I’ve Got A Feeling” reservava uma surpresa carregada de emoção: Paul fez um dueto com as imagens de John filmadas no telhado do prédio onde funcionava a Apple Records naquela que foi a última apresentação ao vivo dos Beatles. “Birthday”, canção do ‘White Album’, abriu para outra banda que os presentes amavam: a “Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta” e, claro, todos cantaram junto “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. “Helter Skelter” trata-se de uma canção “proto heavy metal” – os caras influenciaram praticamente tudo que veio depois – a qual deixou a plateia pasma com o excelente jogo de imagens nos telões.
“Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End”, a trinca que encerra ‘Abbey Road’ – último álbum gravado por Paul, John, George e Ringo – finalizou o show de forma fenomenal, assim como foi o encerramento da carreira dos Beatles. Dificilmente um músico possui um passado tão “pesado” quanto Paul McCartney – mas ele olha para esse passado e sorri, lembra dos bons momentos, homenageia os amigos que já partiram e entrega uma apresentação espetacular a qual, quem presenciou, tem o dever de passar para as futuras gerações (agradecimentos à 30E, Bonus Track e FleishmanHillard).
Set List Paul McCartney:
Can’t Buy Me Love
Junior’s Farm
Letting Go
She’s A Woman
Got To Get You Into My Life
Come On To Me
Let Me Roll It
Getting Better
Let ‘Em In
My Valentine
Nineteen Hundred And Eighty-Five
Maybe I’m Amazed
I’ve Just Seen A Face
In Spite Of All The Danger
Love Me Do
Dance Tonight
Blackbird
Here Today
New
Lady Madonna
Jet
Being For The Benefit Of Mr. Kite!
Something
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Band On The Run
Get Back
Let It Be
Live And Let Die
Hey Jude
I’ve Got A Feeling
Birthday
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
Helter Skelter
Golden Slumbers
Carry That Weight
The End