Judas Priest e Pantera – 15-12-2022 – São Paulo (Vibra SP)

Texto por André Luiz – Fotos por Evanil Jr – Edição por André Luiz

Duas das principais atrações da primeira edição do Knotfest no Brasil, Judas Priest e Pantera apresentaram-se no Vibra SP na noite de quinta-feira, 15, quebrando a rotina de milhares de headbangers presentes os quais lotaram a casa de shows para apreciarem as performances de dois ícones da história do heavy metal mundial.

Se geralmente Rob Halford repete durante as apresentações os dizeres “Priest is back”, a fala do metal god encaixasse perfeitamente para o co-headliner da noite. Uma das bandas de maior sucesso no metal durante os anos 90, o Pantera recém reunido por Phil Anselmo e Rex Brown – ao lado dos músicos convidados Zakk Wylde e Charlie Benante – lançou-se em uma turnê mundial celebrando os 20 anos da última apresentação da banda. Devido a um problema de covid-19, Rex Brown foi obrigado a abandonar a tour, ficando a cargo de Derek Engemann (Cattle Decapitation, parceiro de Phil Anselmo nas bandas The Illegals e Scour) a tarefa de assumir o baixo nos shows pela América do Sul.

E dessa forma, em meio a um Vibra SP tomado de headbangers, às 20h37m os PA’s executaram “Regular People (Conceit)” e “In Heaven (Lady And The Radiator Song)” de David Lynch & Alan R. Splet – ilustradas por imagens antigas dos membros do Pantera –, para na sequência os músicos surgirem no palco ao cair da cortina negra com logo da banda iniciando sua apresentação com o petardo “A New Level”, levando o Vibra SP abaixo em meio aos jatos de gelo seco; emendando “Mouth For War” e com um simples anuncio, a devastação de rodas na pista do Vibra SP em “Strength Beyond Strength” – com direito a Rob Halford ao lado da mesa de som acompanhando direto do palco a performance de Anselmo e companhia, local no qual ficaria até metade do show.

“Muito obrigado a todos, estamos tocando hoje por Dimebag (Darrell) e (Vinnie) Paul, Rex não pôde estar hoje mas prometemos voltar com ele aqui” discursou Anselmo, apresentando o substituto Derek Engemann e anunciando a faixa seguinte, o hino “Becoming” entoado a plenos pulmões, com trecho de “Throes Of Rejection” e agradecimentos de Phil, antes de um novo clássico ensandecer a casa de shows: “I´m Broken” cantada em alto volume pelo público – detalhe para trecho de “Demons Be Driven” ao fim.

“Vocês estão tendo bons momentos esta noite?” questionou Phil, antes de brincar junto a Benante e anunciar “5 Minutes Alone” com refrão entoado alto pelos presentes. Gritos de “Pantera, Pantera” ecoaram na casa de shows enquanto Phil se hidratava, e seguiu o início de um dos principais hits da banda, “This Love”, acompanhada na base das palmas pelo público e encobrindo a voz de Anselmo até a explosão do refrão – ápice da noite, em meio a vários picos da apresentação até o dado momento. Destaque para o solo inspirado de Zakk Wylde, precedido por uma nuvem de gelo seco produzida por maquinário da estrutura montada exclusivamente para performance do Pantera.

“Às vezes nada soa perfeito, a próxima música fala sobre isso, vocês estão prontos?” questionou Phil anunciando “Yesterday Don’t Mean Shit”. “Gostaria de dizer que é uma grande honra tocar com o Judas Priest” discursou Anselmo, pedindo palmas e gritos de “Priest, Priest” antes de Benante fazer a intro de “Painkiler” e Anselmo cantar a capela trecho do refrão de “Exciter”, iniciando a avassaladora “Fucking Hostile” com Benante dando o ritmo da canção e Wylde arrebentando no solo em meio as rodas formadas na pista do Vibra SP.

As luzes da casa de shows foram apagadas, os PA’s executavam “Cemetery Gates” enquanto os telões exibiam imagens de Dimebag Darrell e Vinnie Paul. Em meio ao ambiente descrito, Benante surgiu com uma percussão ao lado de Derek Engemann, ambos  sentados à frente do kit da bateria, enquanto Phil e Wylde mais a frente comandavam uma versão intimista  de “Planet Caravan” do Black Sabbath ilustradas por vídeos antigos do baterista e guitarrista falecidos – durante o emocionante solo de Zakk, em dado momento Phil apontou para as imagens dos antigos parceiros de banda no telão, comovendo o público.

Phil apresentou Benante e pediu palmas ao baterista, depois repetiu o gesto ao ovacionado Zakk Wylde e anunciou “Walk” – comemorada pelos headbangers como um gol em final de campeonato de futebol –, mas Anselmo parou durante a introdução, disse que queria ver todos loucos durante a música e reiniciaram a canção em meio ao público ensandecido bradando alto o clássico do Pantera. O petardo foi emendado com o inconfundível baixo de “Domination” em meio ao medley com “Hollow”, e Phil regendo os presentes que bangueavam o pescoço no ritmo do instrumental.

“Façam barulho” bradou Phil, o qual agradeceu ao público, ao Priest e ao trio de músicos que o acompanhava em meio ao riff de guitarra inicial clássico do hino “Cowboys From Hell”: o uníssono era iminente na canção derradeira da apresentação, encerrando às 21h55m em meio a nuvem de gelo seco, foto com público ao fundo, palmas e gritos de “Pantera, Pantera”, finalizando com Phil arrancando a capela trecho de “Starway From Heaven” dos presentes e deixando o palco. Aos novos fãs ou àqueles que não tiveram a oportunidade de assistir o quarteto norte-americano ao vivo no auge dos anos 90, a experiência foi indescritível, um clima nostálgico cujo momento nem mesmo o fã mais xiita – que torceu o nariz para ideia da reunião – poderia negar a importância. Uma celebração à história do Pantera, um dos maiores nomes da história do heavy metal, cujo legado a nova geração pode conferir ao vivo graças à reunião de Phil e Rex mais a presença de nomes do quilate de Wylde e Benante.

Set List Pantera:
A New Level
Mouth For War
Strength Beyond Strength
Becoming / Throes Of Rejection
I´m Broken / Demons Be Driven
5 Minutes Alone
This Love
Yesterday Don’t Mean Shit
Fucking Hostile
Cemetery Gates / Planet Caravan (Black Sabbath cover)
Walk
Domination / Hollow
Cowboys From Hell

Um pelotão de roadies surgiu para a retirada dos equipamentos do Pantera e montagem do palco para o Priest. Devido ao volume de trabalho, a demora era iminente para início da apresentação seguinte – assim como o temor para o fim tardio do evento, madrugada a dentro, devido ao encerramento de atividades no transporte público da cidade.

Posicionado o enorme símbolo iluminado do Priest no meio do palco, acima do local no qual os músicos estariam, às 22h47m os PA’s do Vibra SP executaram “War Pigs” do Black Sabbath em meio a nuvem de gelo seco e público bradando alto cada trecho da canção de Ozzy e cia., até o início de “The Hellion” e os músicos – Rob Halford (vocal), Ian Hil (baixo), Richie Faulkner (guitarra), Scott Travis (bateria) e Andy Sneap (guitarra) – surgirem executando o clássico “Electric Eye” do ‘Screaming For Vengeance’ de 1982 para delírio dos presentes, emendada com outra do mesmo disco, o petardo “Riding On The Wind”.

Aos gritos de “Priest, Priest” ecoados na casa de shows, Halford saudou a todos e começou o discurso, “São Paulo Brasil, Priest is back, vocês estão estão prontos para o heavy metal?” e – não antes de Rob se livrar do sobretudo inicial – iniciaram outro hino do álbum de 1982, “You’ve Got Another Thing Comin’”, cantada em uníssono pelos presentes, com solo estendido de Travis ao final. Faulkner regeu os brados de “Priest” e o petardo “Jawbreaker” (‘Defenders Of The Faith’ de 1984) foi executado, com destaque para interação de Rob junto aos guitarristas em seus respectivos momentos solo.

Os britânicos do Judas Priest, considerado um dos precursores do heavy metal moderno e um dos grupos mais influentes na história do gênero, aportaram no país celebrando uma história de 50 anos da banda, interrompida por causa da pandemia e retornando agora em grande estilo. O último trabalho de estúdio da banda foi lançado em 2018, e justamente a faixa que carrega o título deste disco, “Firepower”, seguiu a apresentação quase que de maneira ininterrupta, com direito a solo no melhor estilo guitarras gêmeas. Os riffs iniciais com Faulkner fazendo gestual de “horns” anunciava outra faixa do já citado disco de 1982, “Devil’s Child” – no dado momento, Phil Anselmo assim como Rob no show anterior, surgiu junto a mesa de som para não apenas acompanhar o show do Priest, mas como fazer sinais de aprovação e mesmo interações direcionadas ao público.

Enquanto Faulkner novamente regia as palmas dos presentes, o petardo “Turbo Lover” (‘Turbo’ de 1986) veio à tona em meio ao retorno de Rob ao palco com um sobretudo prateado e fazia o Vibra SP cantar em peso – até Phil Anselmo vibrou da mesa de som enquanto Halford performava junto a Hill durante o solo de guitarra. A “riferama” de “Steeler” (‘British Steel’ de 1980) iniciou com Travis jogando a baqueta no ar e manteve a animação no alto, enquanto Faulkner regia as palmas da plateia e o símbolo do Priest desceu tomando o centro do palco durante o estendido duelo de guitarras de Richie e Andy Sneap – momento no qual Rob deixou o palco para se hidratar.

Os guitarristas tomaram a fronte do palco enquanto o símbolo do Priest se elevava novamente, Halford retornou – trajando sobretudo negro/prata brilhante – para o petardo “Between The Hammer And The Anvil” (‘Painkiller’ de 1990). Os trovões nos PA’s anunciavam o que viria, simplesmente o hino “Metal Gods” (‘British Steel’ de 1980) bradado em uníssono na casa de shows, com direito a “marcha” de Rob ao final. Em meio aos gritos de “Priest, Priest” e “ole ole ole Judas Judas”, Halford apontou para o telão exibindo imagens do público e iniciou a interação com os presentes na base do “eu canto e vocês repetem” – tradicional em show do Judas. Após o retorno dos companheiros de banda, Halford anunciou a versão do Fleetwood Mac para “The Green Manalishi (With The Two Prong Crown)”, na regência dos maestros Rob e Faulkner enquanto Sneap subia em uma plataforma lateral do palco para solar.

Travis assumiu o microfone, agradeceu o Pantera, comentou que “estamos fazendo isso (metal) há 50 anos”, anunciou a faixa que dá nome ao album amarelo – nas palavras dele, fazendo sinal de um quadrado com as mãos em referência ao disco – e pediu a participação dos presentes em “Screaming For Vengeance” (1982) mediante o retorno dos músicos ao palco e Rob – trajando sua jaqueta negra – iniciar uma sequência de agudos feroz – detalhe: o vocalista britânico aos 71 anos de idade. Os músicos deixaram o palco novamente para Travis protagonizar, primeiro interagindo ao microfone, depois com a introdução clássica do hino do metal mundial que dá nome ao disco do Judas de 1990, “Painkiller”. Rob com sua jaqueta negra literalmente se acabou nesta música, notava-se o esforço do já septuagenário frontman para entregar uma performance digna aos presentes. Ao fim, extenuado, permaneceu no palco enquanto os demais músicos rumaram aos bastidores, virou de costas e apontou para as palavras “heavy metal” as costas de sua jaqueta – como que dizendo “isso é metal de verdade” – e dirigiu-se ao backstage enquanto o público reverenciava o metal god. Apenas para relembrar qualquer desavisado o qual não tenha acompanhado o último parágrafo desta matéria com atenção: aos 71 anos de idade.

O barulho do motor nos PA’s anunciava o que viria: Halford dirigindo sua motocicleta Harley Davidson no centro do palco para o clássico do ‘Killing Machine’ (1978), “Hell Bent For Leather”, permanecendo montado no veículo durante toda canção fazendo gestuais aos presentes os quais bradavam alto cada trecho da letra da música. Emendando hits, o Priest executou o hino “Breaking The Law” (‘British Steel’ de 1980) cantado em uníssono enquanto Hill e Sneap performavam ao fundo e Faulkner foi o responsável pelo solo assim como por comandar a dança junto a Sneap e Rob enquanto o público bradava o nome da canção. No ritmo das palmas, foi emendada “Living After Midnight” (‘British Steel’ de 1980) cantada alto por todos enquanto Rob se debruçava com seu colete jeans junto a motocicleta. O encerramento ocorreu às 0h10m com músicos se despedindo – Halford visivelmente acabado fisicamente – e “We Are The Champions” (Queen) nos PA’s.

Uma noite memorável, simbólica em se tratando do ano de 2022 o de retomada aos grandes eventos pós período de pandemia, e celebrando também não apenas o retorno do Pantera com 2/4 – neste caso, 1, apenas Anselmo – da formação clássica como os 50 anos de carreira de um dos maiores expoentes da história da música pesada mundial. Os frontmen assistindo as apresentações da outra banda da mesa de som durante metade dos shows de cada grupo assim como a troca de elogios durante suas performances no palco demonstravam o profundo respeito mútuo entre os co-headliners da noite, um exemplo àqueles que em pleno 2022 apregoam xiitismo musical e preconceitos acéfalos na cena. Como Halford sinalizou ao final de “Painkiller”, mesmo extenuado fisicamente, aquilo que se viu no palco do Vibra SP foi a essência do heavy metal apresentado por algumas das figuras mais icônicas da história do estilo, os quais não mediram esforço para entregar ao público o seu melhor (agradecimentos à 30E – Thirty Entertainment e Midiorama).

Set List Judas Priest:
The Hellion / Electric Eye
Riding On The Wind
You’ve Got Another Thing Comin’
Jawbreaker
Firepower
Devil’s Child
Turbo Lover
Steeler
Between The Hammer And The Anvil
Metal Gods
The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (Fleetwood Mac cover)
Screaming For Vengeance
Painkiller

Hell Bent For Leather
Breaking The Law
Living After Midnight

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