
Texto por André Luiz – Fotos por Evanil Jr. – Edição por André Luiz
“We’ll be Back in Brazil… No matter how old we get, we’ll keep coming back until we FUCKING DROP DEAD in front of you!” – Dickinson, Bruce
Uma das bandas mais aclamadas por fãs brasileiros de heavy metal e rock pesado, o Iron Maiden se tornou desde os anos 80 uma instituição da música mundial. São mais de quatro décadas de serviços prestados, uma discografia repleta de clássicos e mesmo hits comerciais, turnês pelos quatro cantos do planeta e uma verdadeira legião de “maiden maníacos”. A nova passagem do sexteto britânico deu-se pela “Legacy Of The Beast Tour 2019”, com produção de palco baseada no jogo para aplicativos de celulares “The Legacy Of The Beast”, o qual basicamente apresenta várias encarnações do Eddie nos diferentes mundos da donzela de ferro. Além da passagem pela capital paulistana, o Iron passaria em nosso país por Porto Alegre e Rio de Janeiro novamente pelo festival Rock In Rio. E a promessa através da frase proferida por Bruce Dickinson que abriu esta matéria é um sinal de que não será a última visita ao Brasil.

Os arredores do Estádio do Morumbi estavam em festa, ritmo de partida de futebol com público tomando os arredores do local, desde a estação de metrô até a Avenida Jorge João Saad e todo em torno do estádio composto por dezenas de bares e food trucks. O clima de euforia e empolgação gerou imensas aglomerações por volta das 16h, horário programado para abertura dos portões do Morumbi, porém até meados do início da apresentação da banda de abertura ainda haviam milhares de pessoas do lado de fora do local. E desta forma, às 17h45m iniciou a intro “Bloom Of The Poison Seed” e os integrantes da The Raven Age surgiram no palco executando “Betrayal Of The Mind”, emendada com “Promised Land”.

Com curto tempo para o show, o frontman agradecimeu aos presentes e anunciou a rápida “Surrogate” seguida por “The Day The World Stood Still” após curta intro instrumental. Ainda não tão conhecida dos presentes – mesmo abrindo show anterior da donzela de ferro no país, ainda são conhecidos como a banda do filho do Steve Harris por estes lados –, o ambiente não colaborava tanto para o grupo: os telões estáticos com imagem promocional da banda não contavam com registro ao vivo em vídeo, mistura de gelo seco em demasia – arremetendo aos shows por exemplo de bandas como The Sisters Of Mercy – com a chuva e grande estrutura de palco do Iron dificultavam a visualização do show para quem estava próximo na pista premium – quanto mais na pista comum e arquibancadas…
Mesmo com os problemas, o vocalista Matt James, mais novo membro da banda, tentava interação junto aos presentes a todo momento, como durante a calma e intimista faixa “The Face That Launched A Thousand Ships” durante a qual ele portando um violão discursou ao público antes de anunciar a faixa de seu mais recente disco ‘Conspiracy’. A banda também é composta pelo co-fundador George Harris (guitarra), Matt Cox (baixo), Jai Patel (bateria) e do novo guitarrista Tony Maue (guitarra).

Mais pesada que a anterior, “Fleur De Lis” trouxe viradas de bateria iniciais dando lugar a uma sequência no bumbo e riff de guitarra simples porém direto. Com repertório focado no álbum de 2019, seguiram “Grave Of The Fireflies” – luzes dos celulares iluminando o Morumbi a pedido do vocal – e após rápida saída do palco, “Seventh Heaven”. O encerramento veio através da faixa do debut album ‘Darkness Will Rise’ de 2017 “Angel In Disgrace” com riff e bateria marcantes, regada a palmas pedidas pelo vocal, encerrando sua performance às 19h38m. Aguardemos os próximos passos da banda após a entrada de novos integrantes e a excursão do ‘Conspiracy’, especialmente pela estabilização do line up, para que finalmente o grupo saia da sombra do pai do guitarrista George Harris.
Set List The Raven Age:
Bloom Of The Poison Seed / Betrayal Of The Mind
Promised Land
Surrogate
The Day The World Stood Still
The Face That Launched A Thousand Ships
Fleur De Lis
Grave Of The Fireflies
Seventh Heaven
Angel In Disgrace
Aos gritos do tradicional cântico “olê olê olê olê Maiden Maiden” o público aquecia as cordas vocais para o mágico momento que seguiria naquela noite. Exatamente às 20h08m o telão estático da atração anterior deu lugar a exibição de vídeo promocional do jogo “The Legacy Of The Beast”, logo a clássica “Doctor Doctor” foi executada nos PA’s enquanto dois rapazes trajados com vestimenta militar surgiram e após alguns segundos retiraram os panos pretos do cenário de palco. A intro “Churchill’s Speech” foi exibida com direito a vídeo no telão e os músicos surgiram para execução da clássica “Aces High” do ‘Powerslave’ de 1984 e o destaque da réplica de um avião Spitfire no palco. Bandeirão ao fundo, intro característica e a faixa do ‘Piece Of Mind’ de 1983 “Where Eagles Dare” foi executada com Bruce ao fundo de jaleco branco cantando a canção e bradando o seu primeiro “Scream for me São Paulo” da noite. A nova explosão veio com outra do ‘Powerslave’, “2 Minutes To Midnight”.

“Muito obrigado” agradeceu em português o frontman, o qual começou seu primeiro discurso sarcástico da noite comentando sobre um “pequeno show no Rio de Janeiro, o melhor do RIR”, mas que naquela noite seria diferente porque estavam em São Paulo e queria ver um show bem melhor do que duas noites antes. Em meio a explosão vinda do público, o anúncio do clássico da era Blaze do ‘Virtual XI’ de 1998, “The Clansman”, levou ao alvoroço geral, enquanto Bruce brindava a todos com sua exuberante voz e corria com espada em mãos de um lado para o outro no palco. Frontman sem palavras para recepção no Estádio do Morumbi em meio a gritos de “Maiden” ecoando no local, e “The Trooper” jogou ainda mais gasolina no fogo com estádio bradando alto a letra do clássico, Eddie versão “The Trooper” no palco duelando com Bruce o qual ao fim, atirou no “monstro” com um mosquete portando bandeira do Brasil, para delírio da platéia.

A produção de palco novamente revelou surpresas com candelabros no alto e imagens de vitral ao fundo para execução do clássico de 1983 “Revelations”, entoado por todos, com interpretação impecável de Bruce e fantástico solo de Adrian Smith. Luzes em Steve Harris e Janick Gers, gritos de “Maiden Maiden” e a intro da faixa do ‘A Matter Of Life And Death’ de 2006 “For The Greater Good Of God”, com Bruce sentado em uma caixa de som no palco interpretando com gestuais em meio a aula de vocal – aos 61 anos de idade e após tratar um câncer –, destacando-se também o revezamento de solos entre Janick, Adrian e Dave Murray – de encher os olhos. Já “The Wicker Man” – a faixa do ‘Brave New World’ de 2000, símbolo do retorno da dupla Bruce/Adrian ao grupo – trouxe público cantando alto, Janick e Dave brincando com os instrumentos enquanto Adrian solava.

Se reinventando a cada tour, o sexteto de sexagenários trouxe ao Brasil a tour com mais complexidade de palco em sua história: Steve Harris (baixo, 63 anos), Dave Murray (guitarra, completando 63 anos em dezembro), Adrian Smith (guitarra, 62 anos), Bruce Dickinson (vocal, 61 anos), Nicko McBrain (bateria, 67 anos) e Janick Gers (guitarra, 62 anos) são verdadeiras instituições da história do heavy metal mundial. E nesta toada de reinvenção, pode-se dizer que a versão para “Sign Of The Cross” do ‘The X Factor’ passou de faixa normal para hino após aquela interpretação marcante de Bruce Dickinson da tour do ‘Brave New World’ – canção da era Blaze. Nesta performance contou com chamas ao fundo durante o refrão, Bruce portando um pedestal em formato de cruz com leds brancos brilhantes durante o solo de guitarra, uma aula no revezamento de solos de guitarra e Nicko/Steve completando o momento hipnose do público o qual apreciava o mágico momento.

A execução de “Flight Of Icarus” trouxe um gigante Icarus ao fundo e Bruce portando lança-chamas, público cantando alto, já ao fim o “gigante” foi tomado por fogo e caiu atrás de Bruce e Nicko, para delírio geral. Já “Fear Of The Dark” contou com público a plenos pulmões cantando a clássica faixa título do álbum de 1992, Bruce com roupa fazendo em alusão ingleses antigos e candelabro na mão, tudo isso em meio ao mar de celulares no Estádio do Morumbi. A introdução trazendo o versículo do livro de Apocalipse da bíblia sagrada foi entoado em uníssono, e em meio a chamas no palco iluminado em vermelho, a faixa título do disco de 1982 “The Number Of The Beast” trouxe o caos ao local. Já a música que traz o nome da banda britânica, “Iron Maiden” do homônimo de 1980, contou com mais chamas e uma imensa cabeça de Eddie ao fundo explodindo o Morumbi antes do grupo deixar rapidamente o palco.

Aos gritos de “olê olê olê olê Maiden Maiden”, a banda retornou executando “The Evil That Men Do” – ‘Seventh Son Of A Seventh Son’ de 1988 – levando novamente a explosão dos presentes. “Hallowed Be Thy Name” foi movida a palmas e público bradando alto junto a Bruce o qual performava com uma corda de enforcamento no palco. O encerramento apoteótico se deu com “Run To The Hills” às 22h03m e vários destaques: um peixe amarrado à guitarra de Adrian Smith, Bruce fugindo das chamas na plataforma em alusão ao título da faixa e ao fim, acionando um dispositivo semelhante as dinamites de minas de ouro e causando uma grande explosão no palco. No discurso final do frontman, além do vocalista afirmar que foi o melhor show da banda no Brasil, veio a promessa de que continuariam voltando ao país mesmo que caindo mortos em nossa frente – quem ousa duvidar após a grandiosidade da performance presenciada? Sexagenários ou não, o Iron Maiden nunca precisou dar desculpas para deixar de vir ao Brasil, retornou tour após tour e sempre tratou os fãs no palco como parte integrante de seu show. Por isso há uma legião de “maiden maníacos” mundo afora, por isso são a maior banda de heavy metal do planeta. Agradecimentos à Midiorama e Move Concerts.
Imagens do público em https://www.facebook.com/portalmetalrevolution/photos/?tab=album&album_id=1645276352276392 .
Set List Iron Maiden:
Churchill’s Speech / Aces High
Where Eagles Dare
2 Minutes To Midnight
The Clansman
The Trooper
Revelations
For the Greater Good Of God
The Wicker Man
Sign Of The Cross
Flight Of Icarus
Fear Of The Dark
The Number Of The Beast
Iron Maiden
The Evil That Men Do
Hallowed Be Thy Name
Run To The Hills