Max e Iggor Cavalera, Krisiun e Sinaya – 07-08-2022 – São Paulo (Audio)

Texto por André Luiz – Fotos por Leandro Godoi (Honorsounds/Audio) – Edição por André Luiz

Em comemoração aos 25 anos do lançamento do álbum ‘Roots’, um dos grandes clássicos do metal mundial, os irmãos Max e Iggor Cavalera aportaram na Audio, em São Paulo, trazendo na abertura a banda paulistana Sinaya e um show especial do Krisiun. Max e Iggor Cavalera encerraram na capital paulista a tour “Return To Roots” – executando o álbum ‘Roots’ na íntegra e alguns sucessos da carreira – e, ainda contam com a presença do lendário guitarrista Dino Cazares (Fear Factory, Brujeria, Soulfly, Asesino, Divine Heresy) e Mike Leon (Soulfly) no line up da banda.

A abertura da casa de shows às 18h coincidiu com o término de uma partida de futebol no Allianz Parque, nas imediações da Audio, mesclando o público palmeirense com o do show – detalhe que Max e Iggor estiveram no estádio e anunciaram a escalação do Palmeiras, time de coração de ambos, do gramado do Allianz Parque.

A Audio comportava um bom público exatamente às 19h10m – horário programado para início do evento –, momento em que Pompeu do Korzus surgiu no palco saudando aos presentes e anunciando a primeira atração da noite. A Sinaya iniciou sua performance com curto solo na bateria de Amanda Imamura, emendado com a faixa “Pure Hate”. “Boa noite São Paulo, somos a Sinaya, o próximo som é de nosso EP de 2013” discursou a vocal Mylena Monaco, anunciando “Legion Of Demons” – o citado EP trata-se de ‘Obscure Raids’, origem também da canção executada anteriormente pelo quarteto paulistano. Seguiram com o single de 2019 “Riddle Of Death” e a faixa do full length de 2018 – ‘Maze Of Madness’ – intitulada “Buried By Terror”, com destaque ao riff marcante e solo de Helena Nagagata, além das interações entre a frontwoman e a baixista Amanda Melo.

“Muito obrigada, espero que estejam gostando, é uma honra estarmos aqui ao lado dos Cavalera” agradeceu Mylena, antes de comentar sobre a estreia de uma música naquela noite a qual foi originalmente cantada junto à Diva Satanica do Nervosa – com quem a Sinaya fará shows no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte ao final do ano, segundo a frontwoman. “Cadê as minas do metal?” incitou Mylena, sendo aplaudida pelos presentes antes de anunciar “Struck Out By You”, seguida pela faixa título do EP de 2013, “Obscure Raids”.

Antes de “Afterlife”, a vocalista da Sinaya comentou sobre a nova fase da primeira banda de deathcore formada inteiramente por mulheres e o pontapé inicial que foi dado em 2021 com a faixa seguinte do set, convocando Mayara Puertas ao palco. A vocalista do Torture Squad comentou sobre a amizade com Mylena – nas palavras de May, “mais de 10 anos atrás eram duas minas procurando banda no Orkut” – e iniciaram “Afterlife” com Puertas fazendo as vezes de CJ McMahon (Thy Art Is Murder) na faixa, destacando-se o show de luzes enquanto as vocais interagiam no palco.

“Psychopath”, single lançado meses atrás, foi a canção escolhida para encerrar a performance do quarteto às 19h45m. Mylena Monaco (vocal), Helena Nagagata (guitarra), Amanda Melo (baixo) e Amanda Imamura (bateria) demonstraram energia on stage, especificamente a dupla de cordas permaneceu um tanto quanto “presa” de início, mas se soltaram com o passar da apresentação e ajudaram a entregar uma boa performance aos presentes na Audio. A anunciada nova fase da Sinaya tende a trazer uma evolução, já demonstrada pela faixa inédita “Struck Out By You” e a mescla de técnica com ousadia sinalizadas pelo quarteto – acompanharemos de perto os próximos passos da banda.

Set List Sinaya:
Drum Solo – Pure Hate
Legion Of Demons
Riddle Of Death
Buried By Terror
Struck Out By You
Obscure Raids
Afterlife
Psychopath

Pouco antes do previsto para início do show do Krisiun (20h10m), o mestre de cerimônias da noite, Pompeu, retornou ao palco discursando sobre o lado social do projeto Honorsounds e convocou a maior banda de death metal do Brasil – para alvoroço geral na Audio. “São Paulooooooo, o Krisiun está aqui” bradou Alex, antes de iniciarem com o hino da banda, “Kings Of Killing”, do ‘Apocalyptic Revelation’ de 1998. “Aqui é death metal nacional, vocês estão muito comportados, abre uma roda ae” pediu Alex antes de “Ravager”.

Divulgando o álbum ‘Mortem Solis’, lançado mundialmente pela Century Media alguns dias antes, Moyses Kolesne (guitarra), Alex Camargo (vocal, baixo) e Max Kolesne (bateria) deram início à tour do novo disco exatamente na Audio em São Paulo. “Vamos tocar pela primeira vez músicas do ‘Mortem Solis’, vamos derrubar essa porra” bradou Alex antes de anunciar “Swords Into Flesh”, terceiro single do álbum cujo vídeo clipe fora divulgado três semanas antes. “Quero ver todo mundo agitando, isso é show de death metal” discursou Moyses Kolesne, seguido por Alex antes de exaltar o orgulho de ser brasileiro e anunciar o petardo do ‘Southern Storm’ de 2008, “Combustion Inferno”.

“Sem o apoio de vocês não somos porra nenhuma, sei que estamos abrindo para os Cavalera o que é um grande orgulho, mas sem palavras pra (sic) vocês. Está todo mundo se divertindo ae? Vamos fazer barulho!!!” bradou Alex, antes de anunciar mais uma nova, “Serpent Messiah” – com Cavaleras, Dino Cazares e staff assistindo do lado do palco. Antes de “Scourge Of The Enthroned” – e a atuação monstruosa de Moyses na guitarra sendo ovacionado ao final –, Alex continuou agradecendo pela grande noite: “É maravilhoso estar aqui hoje abrindo para estes monstros do metal mundial, se estamos aqui hoje é por causa do Sepultura dos anos 80, um saúdo também ao mestre Dino”.

De certo, além de comunicativo, o baixista/vocalista do Krisiun também notou um certo “guardar de energias” por parte do público, e a todo momento pedia circle pits aos presentes. “Tem alguém cansado ae? Vamos fazer barulho nessa porra” bradou Alex novamente, antes de mandar um “salve” à equipe da Honorsounds e executarem outra faixa do ‘Mortem Solis’, a acelerada “Sworn Enemies” – antes o vocal/baixista arrancou risos com a frase “vocês estão parados ae no meio (da pista premium), precisam tomar umas cachaças”.

Alex anunciou “um clássico do maior frontman da história do metal”, iniciando a versão do Krisiun para “Ace Of Spades” do Motorhead. “Muito obrigado São Paulo, de coração, um salve à Sinaya também, e vamos com a saideira” discursou Camargo, antes de executarem o hino da banda, “Hatred Inherit” (do ‘Conquerors Of Armageddon’ de 2000, um dos principais álbuns de death metal da história), encerrando a performance bombástica do power trio às 21h – e a curiosa cena de Max Kolesne totalmente encharcado de suor se dirigindo ao fronte do palco para fotografar ao lado de seus irmãos. Celebrada pelo mundo, com shows em sequência no velho continente e tour ao lado de grandes nomes do metal extremo mundial, o Krisiun há muito ultrapassou o patamar de promessa para se tornar um expoente da história da música pesada brasileira. Mas é comovente como, mesmo em meio a tanto tempo de estrada, o trio não perde a humildade e deixa de demonstrar não apenas o agradecimento como o orgulho da origem no Brasil.

Set List Krisiun:
Kings Of Killing
Ravager
Swords Into Flesh
Combustion Inferno
Serpent Messiah
Scourge Of The Enthroned
Sworn Enemies
Ace Of Spades (Motörhead cover)
Hatred Inherit

Os irmãos Cavalera trouxeram para São Paulo o show “Return To Roots” – em que a banda executa o álbum ‘Roots’ na íntegra, além de alguns sucessos da carreira. Tornando esta celebração ainda mais especial, os irmãos Cavalera trouxeram o lendário guitarrista Dino Cazares (Fear Factory, Brujeria, Divine Heresy, Asesino, Soulfly) e o baixista Mike Leon (Soulfly), um super line up para o que seria uma noite especial a todos.

Após minutos de atraso, às 21h43m Pompeu surgiu no palco e anunciou o “Return To Roots”. Luzes apagadas na Audio, gritos de “Sepultura, Sepultura” ecoaram na casa de shows, a intro instrumental tradicional fora executada nos PA’s e os músicos surgiram no palco com Max anunciando o hino “Roots Bloody Roots” – celebrado pelos presentes os quais pulavam na pista e bradavam a letra – emendada com outro petardo, “Attitude”. A potente “Cut-Throat” seguiu a performance, ao fim Max jogou água no público e anunciou que “começaria a bagunça”: a deixa para a celebrada “Ratamahatta”. Ao fim, com gritos de “Zé do Caixão” e a troca da guitarra – pela ilustrada com a bandeira do Brasil –, o frontman comentou que “essa música fala sobre abrir a cabeça e seguir seu caminho”, anunciando “Breed Apart”.

A “energia guardada” durante o show do Krisiun comentada anteriormente nesta matéria, estava sendo esbanjada pelo público na pista da Audio: rodas, moshs, pancadaria, público bradando as letras e celebrando cada canção executada pelos Cavalera, Dino e Mike no palco. Desta forma, o set contou com “Straighthate”, emendada com “Spit” e os pedidos de Max: “abre a roda agora, quero ver, é o punk do Roots” enquanto o público obedecia e os músicos seguiam o set quase sem pausas com “Dusted” e “Lookaway”. Naquele momento, os gritos de “ei ei ei” dos presentes ecoavam na casa de shows, Max solicitando ao público para erguer as mãos – prontamente atendidos – e pedindo para apagar todas luzes da Audio com o palco sendo iluminado pelos celulares dos presentes enquanto trechos de “War Pigs” do Black Sabbath e “Territory” explodiram a casa de shows.

“Esta música foi gravada na aldeia dos Xavantes, o futuro é indígena” discursou Max antes da instrumental “Itsári”, na qual Iggor interagiu com o playback do restante dos instrumentos. Gritos de “Iggor, Iggor” e ao fim, Max trouxe ao palco o que ele chamou de responsável por levar a banda aos Xavantes, o Cacique Cipasé, anunciado orgulhosamente pelo vocalista: “este é um tesouro, uma riqueza nacional”. O indígena iniciou um discurso emocionante no palco da Audio: “É um sonho realizado 25 anos atrás, eu sou Cipasé Xavante, estou representando neste momento a terra indígena”, comentando em seguida que “Itsári” trata-se da dança de cura e por isso é tão importante. “Como é uma dança de cura, queria falar com vocês, estamos vivendo em um período delicado em relação à vida, nós precisamos respeitar ao próximo, para gente viver em paz, para ter um mundo melhor, por isso precisamos preservar o meio ambiente como se fosse nossa casa, é uma responsabilidade não apenas do povo indígena, mas de todo ser humano, senão daqui 50 anos não existirá mais” – e enquanto isso o público bradava efusivamente “fora Bolsonaro”.

Após o cacique deixar o palco aplaudido, Max continuou dizendo que “essa próxima é em memória de Chico Mendes que foi assassinado na Amazônia”, anunciando “Ambush”. No meio da canção, Max fez um “break” celebrando “Viva Chico Mendes, Zumbi, Lampião, Zé do Caixão, viva todos nós”, retomando a música. “Se for para mandar Bolsonaro tomar no cu, tem que ser essa aqui”, bradou Max anunciando “Dictatorshit”, finalizando o set ‘Roots’ da apresentação. “Se quiserem mais metal, mais Cavalera, vocês tem que gritar”, bradou o frontman antes da banda deixar o palco.

Em meio a luzes apagadas e gritos xingando o presidente ecoados ainda da música anterior, os músicos retornaram ao palco executando o trecho inicial de “Raining Blood” do Slayer. Max convidou Alex Camargo – o qual chamou equivocadamente de Moyses – do Krisiun e Iccaro Cavalera – filho do Iggor –, iniciando uma versão poderosa de “Troops Of Doom”, ensandecendo a Audio. Max brincou com a frase “filho de jacaré” enquanto Iggor trajava uma camiseta do Palmeiras. Após gritos de “Krisiun, Krisiun” conclamados por Max, Dino Cazares assumiu o microfone agradecendo aos presentes enquanto a Audio bradava “Dino Dino” e “viva Mexico”, até o anúncio de “La Migra” do Brujeria com Max cantando em português.

Novamente portando sua guitarra estilizada com a bandeira do Brasil, Max iniciou o hino “Refuse/Resist”, cantada em uníssono na Audio. O frontman comandou o público dividindo a pista na casa de shows: “do lado direito os troglodistas e na esquerda os cavernosos, no meio um suicida, somente um”. O momento energético foi concluído com “Territory”, explodindo mais uma vez a Audio. “Vocês querem mais ou não, caralho? Dedicado a todos vocês, ao Krisiun, ao Cipasé, vamos voltar à praça Charles Miller em frente ao Pacaembu”, discursou Max, antes de iniciarem a clássica versão para “Orgasmatron” do Motörhead. Curiosa a frase do baixista enquanto executavam a canção: “vamos cantar ao Lemmy que me batizou com whisky na cabeça”.

“Bora cantar Policia? Bora?” questionou Max aos músicos, antes de iniciarem a versão mais pesada de um dos petardos imortalizados pelo Titãs, faixa icônica da década de 80. “Valeu São Paulo, esta é nossa última, quero ver todo mundo cantando”, finalizando com uma versão mais acelerada de “Roots Bloody Roots” destacando-se Iggor destruindo na bateria, um instrumental estendido, trecho de “Arise”, pedido de bola de fogo na mão “pela última vez até o próximo ano” e o retorno para o fim de “Roots”. O espetáculo foi finalizado às 23h16m com os músicos agradecendo aos presentes, Iggor e Max – trajando sua blusa do Palmeiras – posando para fotos e o baterista estendendo a bandeira com os dizeres “Antifacist Action” amarrada à seu instrumento durante todo o espetáculo.

Uma noite memorável (para dizer o mínimo) celebrando um dos marcos da música brasileira, o clássico ‘Roots’, mas sem deixar de lado outros sucessos da carreira dos Cavalera junto ao Sepultura, abrilhantado pelas presenças de Dino Cazares e Mike Leon e momentos inesquecíveis como o discurso do cacique xavante ou a jam durante “Troops Of Doom”, palco iluminado pelo público em “War Pigs”, enfim… Difícil citar apenas um momento entre tantos picos de emoção durante a noite de domingo na Audio em São Paulo (agradecimentos à Honorsounds, Hoffman & O’Brian e Audio).

Set List Max e Iggor Cavalera
Roots Bloody Roots
Attitude
Cut-Throat
Ratamahatta
Breed Apart
Straighthate
Spit
Dusted
Lookaway (Sepultura) / War Pigs (Black Sabbath) / Territory
Itsári
Ambush
Dictatorshit

Raining Blood (Slayer cover) / Troops Of Doom (com Alex Camargo e Iccaro Cavalera)
La Migra (Brujeria cover)
Refuse/Resist / Territory
Orgasmatron (Motörhead cover)
Polícia (Titãs cover)
Roots Bloody Roots / Arise / Roots Bloody Roots

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