Krucipha: o metal pinhão de Hindsight Square – Entrevista exclusiva com Fabiano Guolo e Luis Ferraz

Krucipha - 2015

Entrevista por Clovis Roman – Imagens por divulgação – Edição por André Luiz

A banda curitibana Krucipha é um grupo que preza suas raízes, tanto que o termo “Metal Pinhão”, criado para defini-los foi inspirado em seu logotipo, que retrata algo tipicamente curitibano (o pinhão). Mas o som vai além dessas fronteiras, e agrega influências das mais diversas, o que forma um som homogêneo, característico e empolgante. Na estrada desde 2010, os caras colocaram no mercado no fim do ano passado seu debut, Hindsight Square One, um petardo que reúne cinco músicas “inéditas” (ao menos em formato físico), além de três vindas do seu EP de estreia Preemptive Uproars. Uma delas é “Affordiction”, que antes mesmo do referido disco, ganhou o Prêmio Ivo Rodrigues de Melhor Música do ano na cidade.

Em um bate papo extenso e divertido com o vocalista, guitarrista e fundador Fabiano Guolo e com o guitarrista Luis Ferraz, passamos por toda a história do Krucipha, além de falar sobre os planos para o futuro.

Clovis Roman – A ideia do financiamento coletivo para produzir o novo disco, Hindsight Square One. Vocês arrecadaram mais que o valor estipulado inicialmente. No que foi usada esta grana excedente?
Fabiano Guolo –
A gente reinvestiu em marketing e merchandising. Acabamos nem gastando tudo, mas reinvestimos na própria banda.

Clovis – Após as gravações, realizadas em 2013, vocês liberaram boa parte do trabalho para audição no Youtube. Vocês não acham que isto fez perder um pouco da magia quando o álbum em si chegou as mãos da galera?
Fabiano –
Isso é meio pessoal, mas vou tentar derrubar seu argumento. A maioria das pessoas que compra o CD não conhece a banda. Nós fazemos um show, e é comum que quem compra o disco conheceu a banda lá. Pode acontecer, temos muito amigos que já conhecem [o material]. Na verdade, tivemos esse espaço de tempo grande entre o lançamento do CD e o online, pois fizemos a campanha primeiro, depois tivemos problemas com a prensagem, [um atraso de] pelo menos uns três ou quatro meses. Não foi proposital, mas fugiu do controle essa parte do tempo.

Clovis – Vocês tiveram algumas mudanças de formação com o passar do tempo, como a saída do Caio Ribeiro (percussão) e a rápida passagem de Yuri Seima após a saída do guitarrista Luiz Gabriel. Comente essas mudanças e como os “novos” integrantes agregaram ao som do Krucipha.

Fabiano – O Luiz Gabriel é um membro fundador da banda, e tem a mão dele nas composições do CD. Ele saiu no começo das gravações. Ele gravou as bases e fez dois solos. O Yuri entrou durante a finalização, e gravou dois solos. E também tem dois solos do Alex Cegalla (produtor e ex-guitarrista do Maelstrom). O Yuri ficou uns dois meses, e fez um show.
Luis Ferraz – Entrei na banda depois do CD, depois de ouvir as músicas. Eles lançarem as músicas na internet acabou ajudando. Nos conhecíamos já, mas nunca tivemos uma relação próxima. Depois que saíram as músicas do CD [online], soltei: “O dia que precisarem de um guitarrista, me dá uma ligada”. As músicas novas, principalmente, tinham me interessado bastante…
Fabiano – Ele falou com o Felipe logo que o Yuri tinha entrado. E o Yuri acabou saindo logo depois, ele trabalha com tatuagem, e resolveu sair para não eventualmente atrapalhar a banda.

Clovis – Foi um processo bem tranquilo então, não rolou teste…
Fabiano –
Teve sim! Tipo, para ver se ele ia querer mesmo…
Luis – Eles nunca tinham me visto tocar. Peguei as músicas, e eu e Fabiano ensaiamos um tempo em casa, ele me passou uns detalhes, e só depois fomos para o estúdio ensaiar com a banda toda. E deu certo.

capa_krucipha

Clovis – Os discos comercializados pelo Catarse foram já entregues aos seus respectivos compradores. Quantas cópias foram produzidas pela fábrica, quantas foram aos investidores, e consequentemente, quantas sobraram?
Fabiano –
A tiragem é de mil discos. É muito comum nesse tipo de produção, pedir mil e vir um pouco a mais ou a menos. Para a gente veio mais, e ainda temos bastante, cerca de 80%. Eu não tinha noção do espaço físico que isto ocupa [risos]. Agora estamos entregando para resenha e tudo o mais, e queremos fazer a venda, no show e na loja online. Ela já está funcionando, no ar, pra quem quiser acessar. O CD já está à venda, os outros materiais ainda não.

Clovis – Sobre a parte lírica, de onde surgem as ideias. O processo de criação é centralizado ou todos os integrantes surgem com ideias nesse quesito? Há algo que delimita os temas abordados?
Fabiano –
Quem escreve sou eu e o Felipe. Ele é membro fundador, as composições são primordialmente dele, e as vezes chega com uma música ou arranjo, já com uma ideia de letra, um tema, um esboço de refrão… Aí a gente junta e passamos para o papel. A parte instrumental é mais dele e do Luiz [Gabriel, ex-guitarrista]. Gostamos de abordar críticas ao ser humano, as atitudes. A gente evita tocar em assuntos pessoais, como religião, porque é intrínseco a pessoa. No CD tem um pouco de tudo, e só duas faixas não falam disso. Uma é a ”Tribal War”, a única fictícia, meio Mad Max, e a “Pulse”, que fala sobre sexo num sentido instintivo, não pornográfico. O resto das letras são críticas sociais. Uma é sobre obsessão, outra sobre uma pessoa que tenta te dominar, uma sobre consumismo, aquecimento global. A “Denial” fala sobre uma pessoa que não consegue transcender a barreira social e mostrar o que ela realmente é.

Clovis – A ideia da banda vem de 2008, 2009…
Fabiano –
Eu já toco com o Felipe desde 2004, o João [baixista] também. Quando surgiu a idéia do Krucipha, chamamos ele novamente.

Clovis – O som da banda mescla influências das mais diversas, entretanto, obviamente, focando mais na parte “metálica”. Atualmente, quais sons você anda ouvindo e que você sente que podem influenciar composições futuras?

Luis – A gente está sempre tentando mostrar algo diferente. Tem influências unânimes, como Sepultura e Slayer. Mas agora eu peguei umas bandas como Whitechapel, o Lamb Of God, o Decapitated, que tem uma pegada crua mais extrema. Bandas com essa pegada Metalcore, mas sem cair no “clichezão”, e bandas mais Death Metal como o Bloodbath, coisas que eu gosto bastante. Eu gosto muito de progressivo e o Fabiano também, e coisas como Animal As Leaders e Messhugah, então tem sempre uma pitadinha assim duma coisa com tempo mais quebrado, estamos começando a flertar com afinações mais baixas ainda, em Dó. Não é nem pelo peso, mas essas bandas que gostamos usam esse tipo de afinação, e influencia [a gente].
Fabiano – Estamos começando a nos adequar, eu tenho uma maneira de escrever diferente, mas está bem bacana, ver como cada um trabalha. Logo queremos dar uma mostra para o pessoal de novas ideias.

Clovis – O disco de vocês é um lançamento recente. Mas já há novas composições ou até mesmo uma ideia – mesmo que distante, de produzir um segundo álbum?
Fabiano –
No vídeo da campanha, que fizemos quando a mesma terminou, tem um teaser com o Luis mostrando alguns riffs que a gente tem. Mas ainda não colocamos a mão na massa de verdade. Foi mais por uma questão de tempo, por ter que finalizar o trabalho [o álbum]. As músicas do disco vem de 2012 já, a última que compusemos já tem dois anos, a “Greater Good Parasite”.

Clovis – Essa vocês apresentaram ao vivo no show de lançamento do Curitiba Metal Sound, em meados de 2012. No evento eu falei para você, Fabiano, o quão boa era essa música. E minha opinião continua agora que ouvi o disco, é a minha favorita junto com a “The Warning”.
Fabiano –
Não me lembrava disso, bom saber. A “The Warning” é a minha favorita e a dele também [Luis Ferraz].

Clovis – Em 2012, vocês foram convocados para abrir a apresentação do Cavalera Conspiracy. Como a produção chegou até vocês naquela época?
Fabiano –
Cara, é até difícil explicar. Eles são uma influência nossa, o nome tem o peso do nome dos Cavalera, era uma das bandas ideais pra gente tocar junto. Isso foi em novembro de 2012, dia 17 em Curitiba e 18 em São Paulo. Já tinhamos recebido os horários, os crachás. Na quinta (o show seria num sábado), eu estava em casa e o produtor ligou falando que tinha uma má notícia. Na hora eu senti que era algo nesse sentido, e ele confirmou “os caras cancelaram o show”. Fiquei sem palavras. Em setembro fomos confirmados, e foram dois meses de ansiedade e de preparação. No fim das contas o show foi cancelado, e acabou rolando o show [do Cavalera Conspiracy] em São Paulo apenas.

Krucipha ao vivo - 2015 I

Clovis – O primeiro EP, Preemptive Uproars, de 2011.
Fabiano –
A gente gravou em outubro de 2010 as três músicas do EP, e lançamos em dezembro, online, no Myspace e outros canais. Nos não tínhamos o EP físico e nunca tínhamos tocado. Fizemos uma prensagem de 200 cópias e lançamos ele no primeiro show, que foi em julho [dia 30, no Blood Rock Bar].

Clovis – Na época, as músicas fizeram sucesso, e estava rolando a organização do Prêmio Ivo Rodrigues. Eu sugeri que a música “Afforddiction” entrasse na votação popular para melhor música do ano. E vocês ganharam sem ter disco e sem ter feitos shows, como foi a reação de vocês?

Fabiano – Pra mim foi muito estranho esse negócio do Prêmio, eu estava fora, passando uma temporada nos EUA. Quando recebi a notícia, eu não tinha com quem conversar sobre, [eu estava morando] com pessoas que nem faziam ideia que eu tinha uma banda. Na época éramos em seis, e os cinco foram na premiação, e gravaram um vídeo para me mostrar, foi muito legal. A gente não esperava, não tinha show, não tinha CD físico, não tinha nada. Quem votou na gente e conhecia foi [porque ouviu] pela internet. Foi bem bacana.

Clovis – Luis, como você se interessou pelo som do Krucipha?
Luis –
Eu cheguei a ouvir na época [do Prêmio Ivo Rodrigues, no começo de 2011], mas passou meio batido. Na verdade eu realmente prestei atenção no Krucipha depois que o Hindsight saiu [na internet, em 2012]. Quando saiu, eu falei para o Felipe quando saiu: “eu me interessei pelo som de vocês”.

Clovis – Outra apresentação que pode ser considerada um ponto alto da caminhada do Krucipha, foi a recente realizada no Amplitude Rock Fest, que teve como atração principal o Sepultura – certamente uma grande influência de vocês. Como foi participar do festival?
Fabiano –
A gente prefere levar o que a gente conseguiu aproveitar, tirar de positivo, não vale a pena fazer o contrário. O fato da gente ter sido selecionado para fazer a abertura… A gente ficou sabendo uns quatro dias antes o horário, e fomos a terceira das locais, que das posições possíveis, era a melhor. Em termo de público não adiantou muito, a gente tocou 19h30m. Acabou rolando um atraso, que influenciou no tempo de set, eram 45 minutos e tocamos pouco mais de 30. Teve essa disparidade entre “caramba, a gente tá tocando com o Sepultura” e “poxa, a gente tá tocando as 19h30m, né”, mas acho que foi muito mais válido que o fato negativo de ter tocado cedo, a gente tirou muita coisa boa.
Luis – Por mais que a gente tenha tocado cedo e pego um público meio frio ainda, tinha gente com a camisa do Krucipha, gente que eu não conhecia. Consegui ver bastante gente com a camiseta da banda que não é conhecido nosso, foram para ver o Sepultura, mas foram também prestigiar o Krucipha, mesmo cedo. Isso foi extremamente gratificante.
Fabiano – A gente via que ali na frente, na grade, tinha gente curtindo o nosso som. A hora que você tá em cima do palco, você pensa “Eu vim aqui pra isto”, por mais que sejam 50 ou 700 pessoas.

Clovis – Vocês foram uma das bandas participantes do projeto Curitiba Metal Sound, onde o Krucipha registrou dois vídeos de alta qualidade, no Hangar. A resposta desse investimento foi a que vocês esperavam?
Fabiano –
Foi satisfatório pra caramba, não só pela experiência de fazer uma gravação, mas pelo material final. A gente conseguiu bastante visualização no Youtube, especialmente na época que lançamos os vídeos. Foi muito válido, para divulgação. Não em termos financeiros, pois a gente não comercializou.

Clovis – Vocês já realizaram diversas datas fora de Curitiba, principalmente em Santa Catarina. O público de lá tem diferenças substanciais em relação ao local [de Curitiba]?
Fabiano –
Tem uma diferença absurda, mas não por causa do estado. Se deve ao fato da gente estar numa grande área urbana, então a quantidade de shows que temos aqui é muito grande, não existe carência [de shows]. Em Santa Catarina, a maior parte das cidades que rola festivais são pequenas. Eles tem uma carência, tem poucos shows por lá, então quando chega uma banda de Curitiba, os caras vão e curtem demais. O Luis estreou lá, os primeiros shows dele foram em Laguna e Imbituba.
Luis – A galera vai pelo evento em si, independente se a banda é muito grande ou pequena, o pessoal vai pra prestigiar, e a gente acaba conseguindo agregar novos fãs. A galera é muito aberta [por lá]. Nosso tipo de som, não chega a ser tão porrada, tem um groove cativante, o pessoal curte. Normalmente o pessoal fica curioso no começo, ressabiado, mas depois da 3ª ou 4ª música o pessoal vai e agita, faz mosh.
Fabiano – Em Joinville a galera agitou do começo ao fim.
Luis – O que vende a banda é o show, ali o cara vê como é. O Henrique, do Necropsya, fala: “o cartão de visita da banda é o show”. Com essa crise da indústria fonográfica, mais do que nunca, é o show que acaba vendendo as bandas, e a gente consegue público tocando ao vivo.

Krucipha ao vivo - 2015

Clovis – Como você vê o espaço dado a vocês e a outros grupos de Metal nos mais diversos veículos existentes? Você acha que a oferta de sites, canais no youtube, jornais, tv e rádio tem interesse em veicular entrevistas e matérias relacionadas ao Krucipha?
Fabiano –
A procura é mais restrita a veículos especializados. As vezes eu me deparo com coisas na internet que saíram há duas semanas e eu nem sabia. Agora estamos fazendo um trabalho pesado, com assessoria, para divulgar, em um mês fez uma diferença muito grande já. É o tipo de coisa que a gente tem que investir mesmo. O trabalho da imprensa é imprescindível, a divulgação culmina com o show, que é a parte gostosa desse trabalho.

Clovis – Fabiano e Luis, a gente se conhece há muito tempo, e vimos nesses últimos dez anos muitos shows de bandas locais. Me falem algumas bandas locais que assistimos, que não existem mais, que vocês sentem falta.
Luis –
A primeira que vem a cabeça é o Maelstrom, por causa do Sérgio [Mazul, atual Semblant]. Tivemos um contato, e cheguei a ver eles ainda em São Paulo, eu tocava nas mesmas festas que ele, e eu gostava bastante. Tenho o CD até hoje. Depois descobri que na época o Felipe era o baterista, e falei pra ele “pow, eu vi você tocando sem saber que você era você”. E o Alex [produtor] era o guitarrista.
Fabiano – Red Dawn Seasons. O som era muito legal, faz uns três anos que ouvi a última vez, e eles tiveram uns problemas e acabaram dissolvendo a banda. Mas o que eu ouvi eu gostei demais.
Luis – Uma que você citou que foi e voltou e acho que foi de novo é o ATTTP, nos festivais de Doom que rolavam aqui, quando o Doom estava em voga, com Lachrimatory … E o Eternal Sorrow, outra banda que eu gostava bastante, tinha uma pegada bem Doom/Death… o Julio foi meu professor… Outra é o Cromathia, eles tocaram no Wacken Metal Battle, tinham um som porrada mas bem timbrado, coeso. No dia me apaixonei pela banda, mas eles sumiram.
Fabiano – Last Sigh. A gente tocou com eles, o CD dos caras é muito bom, super bem produzido, mas pelo que sei já era. O André está no ThirdEar. É uma pena que acabaram.

Clovis – Eu vou falar uma então, o Deafening.
Luis –
Os caras do RedTie.
Fabiano – Child O´Flames. Tão na geladeira, a gente é amigo do guita deles e do baixista. Tocamos com ele no Blood em 2012, o som deles era muito bacana, bem produzido.
Luis – Diz que o CD tá pronto. Um lançamento póstumo.
Fabiano – Darma Khaos, que apesar de não ser curitibana morreu aqui [risos]. A banda é mineira, os caras são extremamente gente boa. Era muito legal.

Krucipha
Site oficial: http://www.krucipha.com/
Facebook: https://www.facebook.com/krucipha/

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