Maneskin – 09-09-2022 – São Paulo (Espaço Unimed)

Texto por André Luiz – Fotos Ricardo Matsukawa (Mercury Concerts) – Edição por André Luiz

Intensidade ou insanidade? Difícil definir a primeira apresentação da banda Maneskin em São Paulo, no dia seguinte após o debut dos italianos no palco do Rock In Rio. A diferença foi que, na performance paulistana, o grupo não dividiria palco com Guns N’ Roses, The Offspring e CPM 22, muito menos teria tempo contado para apressar seu show, e principalmente entrava em campo – ou no palco – com o jogo ganho sendo recepcionado por um público fiel 100% voltado aos italianos. O que se viu no Espaço Unimed, na noite de sexta-feira, 09, foi uma mescla de intensidade com insanidade resumida por vários momentos nas expressões faciais de Damiano no palco: surpresa, euforia, descrédito, estupefatez, assombro, perplexidade…

Victoria De Angelis (baixo), Damiano David (vocal), Thomas Raggi (guitarra) e Ethan Torchio (bateria) desembarcaram no Brasil para shows pela Loud Kids Gets Louder Tour, divulgando os hits dos dois álbuns de estúdio da banda – ‘Il ballo della vita’ de 2018 e ‘Teatro d’ira: Vol. I’ de 2021 –, além de singles e versões de clássicos do rock no melhor estilo Maneskin, o qual tornou a banda italiana como um dos principais destaques da cena rocker mundial nos últimos anos.

O público lotou o Espaço Unimed em São Paulo, mesmo que predominantemente jovem – estimaria 80% abaixo dos 30 anos de idade com margem para porcentagem maior –, a presença de pessoas mais “experientes” soava como uma curiosidade pela performance da banda ao vivo. De fato, a apresentação dos italianos no Rock In Rio transmitida na noite anterior aumentou ainda mais a expectativa pelo show daquela noite de sexta-feira, e a ansiedade era manifestada pelos gritos antes do show: “vamo caraleo porra” – palavrões aprendidos por Damiano e repetidos na noite anterior em palco carioca –, “Victoria gostosa”, “Ethan seu gostoso”, os xingamentos ao atual presidente da república tão comuns em shows desde o retorno da pandemia…

Após minutos de atraso, às 22h10m as luzes da casa de shows foram apagadas, os gritos subiram de tom durante cinco minutos, no momento em que os músicos adentraram ao palco e, passado o cumprimento de Damiano “olá sampa”, iniciaram o hit multi premiado “Zitti e Buoni” emendada com “In Nome Del Padre” – público ensandecido, Victoria de um lado para o outro no palco e o vocal interagindo constantemente regendo os presentes, os quais, literalmente eufóricos, bradavam alto os refrões com as mãos para o alto e vibrando nos solos de Thomas.

Durante o petardo “Mammamia”, a presença energética do público fez Damiano apontar para uma pessoa no backstage como quem diz “que loucura é essa?”, e foi encerrado estando Victoria portando uma baqueta e ajudando Ethan nos pratos de seu instrumento. “Nunca havia deixado de ouvir minha própria voz [devido ao alto volume do público cantando], mas nem ligo, ouço ela tantas vezes” iniciou o vocal dizendo que a canção seguinte era dedicada especialmente ao público de São Paulo pela energia do show, iniciando a introspectiva penúltima faixa do disco de 2021, “La Paura Del Buio”, com o público recitando alto os dizeres da música, a tal ponto que ao final Damiano aplaudiu o público dizendo que estavam incríveis e pareciam saber a letras melhor do que ele. Após os gritos efusivos, ele se rendeu e repetiu o “vamo caraleo porra” tão pedido pela platéia, para delírio dos presentes.

O grande hit do Maneskin, “Beggin’”, versão para a música do Four Seasons, fez o público pular e cantar em uníssono, levando Victoria a tocar seu baixo no pit entre o palco e a grade pela primeira vez – de muitas que seguiriam – na noite. “Vocês devem ficar felizes com…” comentou o vocalista anunciando “Coraline”, destacando-se a marcante interpretação do vocal, a interação junto ao público bradando alto cada trecho da letra, o solo de guitarra e muitos aplausos ao fim – apontaria como o principal momento da apresentação. “Close To The Top”, a primeira do ‘Il ballo della vita’ (2018) executada na apresentação, contou com dança característica de Damiano e Thomas, Victoria se jogando no público, posteriormente Raggi solando deitado no palco com sua guitar e a baixista por cima performando, despida de qualquer pudor.

“Vocês estão tendo uma boa noite? Obri “fuckin” gado! Ok, vamo porra” bradou Damiano, para gritos gerais e iniciaram o single mais recente dos italianos, “Supermodel”, outra muito bem recebida pelo público. “Como vocês estão?” questionou o frontman em português carregado de sotaque, o mesmo interagiu com uma fã na grade junto ao palco e iniciaram mais um petardo do disco de 2021, “For Your Love”. Em dado momento, com as luzes apagadas no Espaço Unimed, Damiano portava um holofote com o qual ora iluminava Thomas junto a Ethan na bateria, ora Victoria no canto do palco, até que a baixista deitou nos pés do guitar e o vocal se juntou à dupla na escada de fronte à bateria. O clima de descontração era evidente, tanto que Damiano despejou uma garrafa de água em em Thomas, o qual após solo de guitarra imitou Victoria e foi ao vácuo entre palco e a grade junto ao público.

“Este é o melhor público da vida” comentou o vocal, antes de iniciarem “Touch Me” com Damiano jogando água nos presentes na pista, indo cantar junto da grade e depois se jogando nos braços da plateia. Emendaram a canção com uma versão mais curta de “My Generation”, clássico do The Who, destacando-se os presentes bradando alto o refrão junto ao frontman. Ao fim, após ecoarem os gritos de xingamento ao presidente da república, Damiano perguntou se eram protestos contra Bolsonaro e, após a resposta positiva, falou em português “fora Bolsonaro” – a reação efusiva do público já é imaginada pelo leitor desta matéria…

O hit “I Wanna Be Your Slave” contou com Thomas no “foço” entre o palco e a pista enquanto o vocal regia o coral junto ao público. Victoria e Raggi retornaram ao pit dos fotógrafos no meio da canção para tocar junto aos presentes, o empolgado Damiano – tanto que até mesmo errou a entrada com os vocais na música – tirou a camisa, pediu para abrirem um corredor no meio da pista e comandou a bagunça ordenando para todos pularem juntos sem se machucarem – enquanto isso Thomas ajudava Ethan com uma baqueta em mãos e Victoria tocava na escada em frente a bateria. “Quero ver vocês fazendo barulho” pediu Damiano antes da versão para “I Wanna Be Your Dog” dos Stooges, durante a qual Victoria permaneceu no foço e o vocal regeu os presentes na base das mãos, enquanto estes bradavam alto o refrão.

“Vamos tocar nossa última canção, mas enquanto isso, curtam Ethan” discursou o frontman, para o início de um solo de bateria enquanto o trio restante deixava o palco e retornava indo diretamente ao foço selecionando dezenas de pessoas presentes na pista – para loucura dos seguranças. Na sequência, durante “Lividi Sui Gomiti”, aproximadamente 40 a 50 pessoas destes “selecionados” surgiram no palco e por lá permaneceram durante toda a execução da música. O quarteto deixou o palco enquanto os seguranças restabeleciam – a muito custo – a ordem.

Minutos se passaram, quando muitos pensavam que havia acabado – alguns mesmo deixavam o Espaço Unimed –, Thomas surgiu no palco executando um curto solo, Damiano seguiu o companheiro e iniciaram um dueto para “Le Parole Lontane”, do debut album dos italianos de 2018, até o retorno de Ethan e Victoria e o público entoar alto cada frase em italiano do petardo, rivalizando com a voz de Damiano. Um gran finale mais calmo se comparadas as músicas anteriores, mas a gritaria do público fez o quarteto emendar a canção com um replay de “I Wanna Be Your Slave”. No momento, foi possível ver nos telões Victoria usando adesivos no peito com a bandeira do Brasil e Thomas voltou a tocar do foço, enquanto Damiano pediu para os presentes abaixarem e pular ao seu comando – prontamente atendido. “Sao Paulo amamos vocês, thank you, vamo caraleo porra” bradou o vocalista, arrancando gritos dos presentes, com Victoria encerrando na escada de fronte a bateria e Thomas solando deitado no chão. Ao fim, com os quatro integrantes em frente ao palco, Damiano visivelmente emocionado discursou rapidamente – “muito obrigado, de verdade, vocês tornaram esta noite muito especial, inesquecível, jamais esqueceremos esta noite incrível, obri “fuckin” gado, vamo caraleo” – e os músicos deixaram o palco às 23h44m.

Após uma hora e meia de show, exalava o sentimento de satisfação dos quase oito mil presentes no Espaço Unimed, mediante tanta energia despendida durante as dezesseis canções do repertório – destacando-se oito das nove faixas de ‘Teatro d’ira: Vol. I’ de 2021, quase que uma execução da íntegra do referido disco. Aos céticos os quais consideravam o Maneskin banda de apenas um hit, nuvem passageira no mercado musical ou foram com o pensamento de “será que é tudo isso mesmo”, o que se viu na noite de sexta-feira, 09, foi uma das apresentações mais impressionantes no sentido sintonia banda/público que o autor desta matéria pôde presenciar ao vivo desde 2001 – quando o mesmo passou a escrever sobre eventos no meio digital. A energia despendida podia ser sentida no ar e refletida no rosto de quem esteve no Espaço Unimed, fazendo ressurgir a pergunta inicial desta matéria: intensidade ou insanidade? A resposta, fica no subconsciente de cada um dos presentes na referida data e/ou que leu este texto até o fim. Damiano, Victoria, Thomas, Ethan, obrigado pela inesquecível noite e por trazer novamente o rock and roll aos holofotes do mainstream (agradecimentos à Mercury Concerts, Move Concerts, Catto Comunicação e ForMusic).

Set List Maneskin:
Zitti e Buoni
In Nome Del Padre
Mammamia
La Paura Del Buio
Beggin’ (The Four Seasons cover)
Coraline
Close To The Top
Supermodel
For Your Love
Touch Me
My Generation (The Who cover)
I Wanna Be Your Slave
I Wanna Be Your Dog (The Stooges cover)
Ethan Torchio drum solo
Lividi Sui Gomiti

Le Parole Lontane
I Wanna Be Your Slave

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