Texto por André Luiz – Fotos por Patricia Patah (Mercury Concerts) – Edição por André Luiz
A United Forces World Tour 2022 chegou ao Brasil trazendo Helloween e Hammerfall, dois dos mais importantes nomes do metal europeu. Os alemães e suecos aportaram na América Latina, e após apresentações impactantes por Costa Rica, México, Equador, Colômbia, Argentina e Chile, desembarcaram no Brasil por onde se apresentaram na Arena Eurobike em Ribeirão Preto, antes da jornada dupla no palco do Espaço Unimed, em São Paulo.
O show de sábado, com ingressos esgotados antecipadamente, levou a formação de filas quilométricas na entrada do Espaço Unimed. A casa de espetáculos rapidamente encheu-se com a abertura dos portões às 18h – o início do show do Hammerfall estava anunciado para às 20h, ou seja, pelo menos duas horas de intervalo para ansiedade dos que optaram por ocupar as regiões mais próximas a grades/palco.
Às 20h o público bradou alto no Espaço Unimed, entoou gritos de “Hammerfall, Hammerfall”, mas permaneceriam no aguardo por mais 31 minutos, até a entrada da banda sueca com “Brotherhood” emendada com “Any Means Necessary”, já destacando-se a performance de palco da dupla de guitarristas Oscar Dronjak e Pontus Norgren, além da interação de Joacim Cans com o público regendo os corais junto aos presentes.
“Vamos tocar uma old school do Hammerfall” discursou o frontman enquanto Dronjak executava o riff inicial do clássico “The Metal Age”, petardo do disco de 1997 ‘Glory To The Brave’. Gritos de “Hammerfall” ecoaram na casa de shows, Joacim em seu primeiro ‘discurso limpo’ – sem trilha ao fundo – iniciou: “Boa noite aos champions do Brasil, somos o Hammerfall da Suécia, é ótimo estar aqui, vamos tocar músicas antigas e novas, mas durante a pandemia entramos em estúdio para gravar um novo álbum e esta próxima música leva seu nome” anunciando “Hammer Of Dawn” – faixa título do disco lançado este ano pelos suecos – trazendo o potente refrão e Oscar com sua guitarra personalizada no formato de um martelo.
O ronco do motor da moto nos PA’s indicava o petardo que viria, a celebrada “Renegade”, faixa que carrega o nome do clássico álbum lançado em 2000 – o qual voltou a ser incluído no set latino-americano desde o show no Equador, substituindo “Blood Bound” –, durante a qual o público cantou muito alto e Joacim regeu as mãos e brados na casa de shows, destacando-se também a coreografia dos músicos no solo de guitarra. “Last Man Standing” foi cantada tão alto que o vocal deixou o público bradar o trecho inicial e durante vários momentos, os presentes no Espaço Unimed sobrepujaram a voz de Cans.
Joacim Cans (vocal), Oscar Dronjak (guitarra, backing vocal), Pontus Norgren (guitarra), Fredrik Larsson (baixo, backing vocal) e David Wallin (bateria) retornaram ao Brasil prestes a completarem 30 anos de carreira, em divulgação ao disco lançado em fevereiro, ‘Hammer Of Dawn’, via Napalm Records. A sequência da apresentação contou com um medley do disco ‘Crimson Thunder’ de 2002 – em comemoração aos 20 anos do álbum –, composto por trechos de “Hero’s Return”, “On The Edge Of Honour”, “Riders Of The Storm” e a faixa título “Crimson Thunder”, com a dupla Oscar e Pontus regendo os presentes.
“Vocês estão demais hoje, mas tenho uma pergunta a vocês. Quem está aqui pela primeira vez em um show do Hammerfall?” questionou Cans, logo brincando com o volume da resposta – “Estamos em um show de heavy metal, então vamos gritar alto” – e pedindo ajuda para o que viria a seguir: “Preciso que me ajudem na próxima música, enquanto eu grito ‘hammer’ vocês falam ‘fall’, é simples, apenas o nome da banda” (brincando ao virar-se para a bandeira ao fundo, a qual não trazia o logo do grupo estampada) e, após alguns ensaios com a plateia, anunciou “Let The Hammer Fall”, uma verdadeira catarse pela sequência de riffs que regeu o Espaço Unimed.
O frontman em tom cômico apresentou os músicos – para cada um proferia uma piada ou trocadilho – e, ao fim, discursou “nós somos o Hammerfall e nós fazemos rock sueco”, anunciando a faixa seguinte, “(We Make) Sweden Rock” – uma verdadeira ode à música de sua terra natal presente no álbum de 2019 ‘Dominion’ e que se tornou presença obrigatória nos shows do Hammerfall –, encerrando com o frontman e os músicos de cordas na plataforma central em meio ao público.
“Hammer High” (‘Built To Last’, de 2016) iniciou com os presentes no Espaço Unimed de punhos ao ar entoando o refrão em alto e bom som, desta forma ocorrendo novamente durante a repetição do mesmo. “Vocês foram incríveis hoje, logo vem ao palco o Helloween, então vamos para nossa última música” discursou Cans, anunciando a faixa que se tornou um hit do Hammerfall mundo afora, “Hearts On Fire”, cantada alto e em uníssono, encerrando o show às 21h30m com Joacim estendendo uma bandeira do Brasil, Dronjak jogando sua guitarra ao alto, músicos cumprimentando o público enquanto “Dreams Come True” era executado nos PA’s.
Presente como convidado especial da United Forces World Tour 2022 desde a parte europeia da excursão no primeiro semestre de 2022, o Hammerfall ao longo de seus quase 30 anos de carreira constituiu um vasto repertório calcado em 12 álbuns de estúdio. Desta forma, canções como a emocionante “Glory To The Brave”, ou mesmo “Legacy Of Kings”, “Heading The Call”, “Fury Of The Wild”, “Stone Cold”, entre tantas outras, seriam sentidas em um set de sessenta minutos, assim como a produção de palco mais aquém – composta pela bandeira de fundo e telões laterais, mais a plataforma central montada conforme o mapa de palco da atração posterior. Mas com um público engajado no power metal tradicional, foi cativante assistir a apresentação do Hammerfall mediante a participação dos presentes e empolgação dos músicos no palco, afinal, aquela não se tratava da performance de um special guest qualquer.
Set List Hammerfall:
Brotherhood
Any Means Necessary
The Metal Age
Hammer Of Dawn
Renegade
Last Man Standing
Hero’s Return / On The Edge Of Honour / Riders Of The Storm / Crimson Thunder
Let The Hammer Fall
(We Make) Sweden Rock
Hammer High
Hearts On Fire
Assim que os suecos direcionaram-se ao backstage, uma enorme cortina negra com o logo do Helloween desceu a frente do palco, encobrindo o trabalho dos roadies para deixarem o ambiente propício à entrada da banda alemã. Bexigas na cor laranja eram vistas na pista premium enquanto uma enorme abóbora inflável era instalada ao redor da bateria de Dani Löble – por mais que a cortina fosse negra, as luzes deixavam o backstage visível àqueles mais próximos ao palco. Às 22h02m a intro “Halloween” iniciou-se nos PA’s, o vídeo da United Forces exibido nos telões do Espaço Unimed – inclusive ao fundo – e os músicos adentraram com o primeiro single do mais recente álbum de estúdio auto-intitulado, “Skyfall”. Kiske e Deris um de cada lado da abóbora gigante com clipe da canção ao fundo, durante o solo de guitarra, os vocais na passarela regeram o público em uma batalha de lados e, no retorno o trecho cantado por Kai Hansen foi acompanhado a plenos pulmões pelos presentes.
A partir de então, os vocais principais revezaram-se nas canções: o hino do ‘Keepers… II’ de 1988 “Eagle Fly Free” ensandeceu a casa de shows com uma águia em 3D no telão ao fundo e explosão de serpentinas jogadas ao público enquanto Kiske brindava aos presentes com um espetáculo de agudos; Deris retornou ao palco, deu boa noite ao Espaço Unimed, pediu ao público para fazer barulho e anunciou “Mass Pollution” destacando-se seu show particular; com Kiske e Hansen na passarela, iniciou-se o clássico “Future World” (outra do “Keepers…”, porém da parte I), levantando a casa de shows o qual cantou inicialmente a canção deixando Kiske satisfeito antes de agraciar à todos com seus agudos contundentes; “Estava vendo vocês do backstage e estão insanos. Deixe-me ouvi-los, vocês continuam tendo a força”, discursou Deris anunciando “Power”, do ‘The Time Of The Oath de 1996 ’com participação sensacional dos presentes enquanto Andi interagia no palco junto ao baixista Markus; “Save Us” (novamente o clássico atemporal de 1988 marcando presença no repertório da noite) com Kiske nos vocais e o trio de guitarristas dando o tom.
“Oh oh oh oh happy happy helloween” entoou o público, arrancando um “obrigado” em português de Deris o qual convocou ao palco Kai Hansen o qual pediu a todos que levantassem as mãos e iniciou o medley bombástico composto por “Walls Of Jericho (Intro)”, “Metal Invaders”, “Victim Of Fate”, “Gorgar”, “Ride The Sky” e finalizando, “Heavy Metal (Is The Law)”, com participação totalmente ativa dos presentes, seguida por efusivos gritos de “Hansen Hansen” ao final. Deris e Kiske retornaram ao palco – dando um alivio à Kai, o qual direcionou-se ao backstage –, levaram cada qual um banquinho e sentaram-se na mini passarela central, Kiske comentou sobre uma gravação que fizeram para a música seguinte no mesmo local em 2019 e Deris anunciou “Forever And One (Neverland)” – do já citado disco de 1996 – com dueto dos vocais, celulares ao alto e público cantando junto em uníssono, tanto a capela quanto durante a parte elétrica: simplesmente emocionante.
Um guitar solo de Sascha Gerstner seguiu a apresentação dos alemães, emendada com um dos singles do último disco auto-intitulado da banda, “Best Time”. “São Paulo vocês estão preparados?” questionou Kiske anunciando “Dr. Stein” com clipe em 3D ao fundo e público bradando alto um dos hinos das abóboras – destaque para o solo, com os três guitars à frente do palco enquanto Deris e Markus ao fundo interagiam na base de danças coreografadas e gestuais aos companheiros de banda. Kiske entoou “ole ole ole” e o público continuou com “Kiske Kiske”, sendo seguido por gritos de “Deris Deris”. Os vocais conversaram sobre a faixa seguinte e anunciaram o petardo atemporal do ‘Walls Of Jericho’ de 1985, “How Many Tears”, comemorada por todo Espaço Unimed enquanto o protagonismo entre o trio de vocalistas revezava junto ao trio de vocalistas, Dani Löble fulminava sua bateria e Markus Grosskopf rodeava o palco com sorriso estampado no rosto.
Os músicos deixaram o palco, mas logo retornaram para performance do carismático Andi Deris em “Perfect Gentleman” – de seu primeiro álbum à frente da banda alemã, ‘Master Of The Rings’ de 1994 – trajando cartola e capa brilhantes característicos, interagindo junto ao público e banda como um legítimo mestre de cerimonias. “Keeper Of The Seven Keys” levou Kiske novamente ao palco, para a banda executar a faixa a qual carrega o nome do disco dividido em duas partes cuja audição é obrigatória para todo apreciador de power metal. A apresentação dos músicos foi conduzida inicialmente pelos vocais e conforme eram apresentados se direcionavam ao backstage, seguidos por Kai e ao fim Sascha permanecendo interagindo enquanto o público gritava seu nome e o músico finalmente deixou o palco. Os músicos retornaram para o gran finale aos gritos de “Helloween” após longa pausa – por volta de dez minutos – e executaram mais um hino dos alemães, “I Want Out” – para variar, mais uma do ‘Keepers…’ – finalizando a performance com maestria as 00h12m em meio a chuva de papeis picados e os músicos deixando o palco ao som de “For The Love Of A Princess” (James Horner) nos PA’s.
A passagem da United Forces World Tour 2022/23 pelo Brasil culminou em três apresentações lotadas, milhares de fãs em Ribeirão Preto e São Paulo satisfeitos com uma grande noite de power metal raiz e a certeza de que o retorno de Michael Kiske (vocal) e Kai Hansen (guitarra, vocal) ao lado Andi Deris (vocal), Michael Weikath (guitarra), Markus Grosskopf (baixo), Sascha Gerstner (guitarra) e Dani Löble (bateria) elevou o patamar do Helloween seja nas apresentações ao vivo – o revezamento nos vocais entre Kiske/Deris/Hansen com 54/58/59 anos respectivamente mantém alto o nível –, na qualidade do mais recente trabalho de estúdio e na questão de marketing por unir o carisma de figuras emblemáticas na história da música metal cujas trajetórias se confundem com a do próprio Helloween. Com respeito a crenças ou incredulidades dos leitores desta matéria, mas o fato de vivermos em um período em que podemos assistir esta formação da icônica banda alemã em septeto é privilégio tamanho que pode ser considerado como uma benção (agradecimentos à Mercury Concerts, Espaço Unimed e Catto Comunicação).
Set List Helloween:
Halloween (intro) / Skyfall
Eagle Fly Free
Mass Pollution
Future World
Power
Save Us
Walls Of Jericho (Intro) / Metal Invaders / Victim of Fate / Gorgar / Ride The Sky / Heavy Metal (Is The Law)
Forever And One (Neverland)
Guitar Solo (Sascha Gerstner) / Best Time
Dr. Stein
How Many Tears
Perfect Gentleman
Keeper Of The Seven Keys
I Want Out