Texto por André Luiz – Fotos por Ricardo Matsukawa (Mercury Concerts) – Edição por André Luiz
Passadas quase cinco décadas de carreira, o Kiss aportou na capital paulista para não apenas mais um show… Após o período de pandemia e todas incertezas decorrentes da mesma, a “maior banda de rock de todos os tempos” decidiu retomar sua “End Of The Road Tour”, turnê esta que marca o que seria a aposentadoria do Kiss dos palcos mundo afora. Será?
Após performances empolgantes pela Europa e América do Norte, a “End Of The Road Tour” prosseguiu para América do Sul com apresentações no Chile e Argentina antes de chegar ao Brasil e prosseguir rumo ao Peru e Colômbia. Em nosso país, as cidades de Porto Alegre, Curitiba e Ribeirão Preto – além da própria capital paulista – foram agraciadas com espetáculos repletos de fogos, pirotecnia e interação junto ao público, conduzidos pelo quarteto formado por Paul Stanley “The Starchild” (vocal, guitarra), Gene Simons “The Demon” (baixo), Tommy Thayer “The Spaceman” (guitarra) e Eric Singer “Catman” (bateria).
Aguardando avidamente após reagendamentos decorrentes da pandemia, o público esgotou os ingressos para a apresentação no Allianz Parque (65 mil segundo Paul Stanely, porém geralmente são liberadas 45mil pessoas no local) e lotou os arredores do estádio desde o final de tarde – sem mencionar fãs que acamparam na porta do local –, coroando àquele que se tratava de um momento de celebração dos rockers paulistanos. De fato, a cidade recebe apresentações da banda nova-iorquina desde 1983, no debut dos mascarados em nosso país pela “The Creatures Of The Night Tour” e, nesta sétima passagem por nosso país, pode-se dizer que consolidou uma das principais bases da Kiss Army do planeta no Brasil.
Nos perímetros do estádio, foram distribuídas máscaras dos integrantes do Kiss aos presentes, e solicitado que as mesmas fossem usadas durante a primeira música do show. De fato, a empolgação do público aumentava a ponto de que cada música executada nos PA’s do Allianz Parque fosse cantada a plenos pulmões, assim como fotos do palco – com visão bloqueada por uma imensa cortina negra com o logo prateado da banda – e selfies eram registrados em volume tão alto quanto o consumo de bebidas pelo estádio. Até pelo fato de se tratar de um evento de grande porte após dois anos de pandemia, o show de despedida do Kiss na capital paulista foi interpretado pelos rockers da cidade como “O” retorno do público deste gênero – comuns foram as cenas de pessoas cumprimentando-se efusivamente por se reencontrarem após os dois anos restritivos devido ao covid-19.
A ansiedade e clima de celebração deram lugar ao êxtase às 21h12m, momento no qual os PA’s do estádio reproduziram “Rock And Roll” do Led Zeppelin, canção à qual antecede o início dos shows da “End Of The Road Tour”. Os telões exibiram as cenas dos músicos nos bastidores seguindo em direção ao palco, o público ensandecido repetiu em alto e bom som cada palavra do tradicional anuncio da banda: “all right Sao Paulo, you wanted the best you got the best, the hottest band in the world, KISS”.
Os acordes do hino do ‘Destroyer’ de 1976, “Detroit Rock City”, foram seguidos pelo cair da cortina, show de luzes, pirotecnia, labaredas, explosões, e, em meio a tudo isso, o trio de cordas descendo de plataformas do alto do palco para delírio das dezenas de milhares presentes no estádio (a maioria com seu aparelho celular no alto registrando a cena). Enquanto as citadas plataformas subiam novamente, deixando os integrantes no palco, já na primeira frase da canção clássica, Paul Stanley interagiu com os presentes – “I feel uptight on a Saturday night Sao Paulo Brasil” – e, desta forma prosseguiu ora dançando, ora fazendo coreografias com Gene e Tommy, ou pedindo “as mãos no alto” para o público. A continuação com outro petardo do disco de 1976, “Shout It Out Loud”, trouxe novo show de luzes, labaredas e público bradando a música em uníssono.
Durante a primeira pausa, Paul Stanley como um verdadeiro mestre de cerimônias discursou elogiando os presentes, pedindo para gritarem – constantes foram os comentários de “beautiful” e “you’re crazy” durante a noite – e anunciou uma faixa do primeiro álbum (o homônimo de 1974), “Deuce”. Em meio a labaredas, o telão exibia imagens antigas da banda mescladas com outras do show atual, enquanto bolas de fogo ao fundo durante solo de Tommy Thayer “incendiavam o palco”, culminando em uma grande explosão ao fim da canção.
Gene bradou o nome da cidade de São Paulo com seu sotaque americano e voz grave, pediu para ver as mãos ao alto, e iniciou “War Machine” (‘Creatures Of The Night’ de 1982). Em meio a um palco predominante avermelhado pelas luzes, o telão ao fundo exibia um clipe em 3D com robô e dragão “duelando”, enquanto labaredas de fogo ao ritmo da bateria de Eric Singer se destacaram na parte final do refrão – como que um prenuncio da clássica canção seguinte a qual fora emendada. “Heaven’s On Fire” do ‘Animalize’ de 1984 foi celebrada no Allianz Parque, cantada pelo público a plenos pulmões enquanto Stanley regeu o coral e as palmas.
Paul anunciou “I Love It Loud” do já citado disco de 1982, trocou de guitarra e cedeu espaço para Gene começar seu show particular. As plataformas no alto do palco exibiam imagens das máscaras dos integrantes da banda, o telão ao fundo mesclava dizeres “hey hey hey yeah” – como se fosse um lyric video – e imagens do público. Ao fim da canção, Gene cuspiu fogo de uma espada e a cravou num “puff” estrategicamente colocado no palco. “Obrigado Sao Paulo” Paul agradeceu em português, disse que era sempre ótimo estar em no Brasil, que somos loucos e anunciou a canção seguinte pedindo para os presentes repetirem o simples refrão – como um treino – antes de iniciarem “Say Yeah”, do álbum de 2009 ‘Sonic Boom’.
“Este é old school classic Kiss” anunciou Paul, recitando algumas frases da faixa seguinte, “Cold Gin” do debut album de 1974. Em meio as mãos no alto após pedidos de Stanley e imagens da banda em preto e branco no telão da banda, Gene e Thayer interagiram até o momento do solo estendido de guitar e, com Tommy sozinho no palco, iniciou o seu momento de destaque: o disco voador ao fundo em alusão ao seu apelido “The Spaceman”, o músico atirava rajadas de fogo de seu instrumento fazendo alusão a acertar as plataformas acima como se estourassem uma caixa de som (imagem refletida nelas). Com os demais músicos de volta ao palco, Paul anunciou a faixa que dá nome ao disco de 1983, “Lick It Up”, uma das mais populares canções do Kiss, arrancando gritos gerais e fazendo com os que presentes pulassem na pista e bradassem o refrão – destaque para execução do trecho de “Won’t Get Fooled Again” do The Who, além do show de luzes e a performance impecável de Eric Singer na bateria.
Paul bateu a mão no peito agradecendo e o Allianz gritou o nome da banda a plenos pulmões. No dado momento, um grilo surgiu justamente no microfone de Stanley o qual a princípio brincou com a situação, mas depois claramente demonstrou-se incomodado em abrir a boca próximo ao objeto – arrancando risadas gerais. Mesmo em meio ao “risco”, Paul passou a bola para Gene em “Calling Dr. Love” (‘Rock And Roll Over’ de 1976). Ao fim da música, na base do sopro, o vocal conseguiu afastar o grilo do microfone e desta forma prosseguiu suas falas, primeiramente perguntando “vocês estão cansados?”, depois comentou que o público estava ensandecido e de que gostaria de ouvi-los gritarem mais uma vez, anunciando “Tears Are Falling” do ‘Asylum’ de 1985 (NOTA DO EDITOR: faixa muito bem escolhida para o set da tour, a qual ao vivo recebeu uma roupagem interessantíssima).
A celebrada faixa que nomeia o disco de 1998, o qual marcou a reunião dos quatro integrantes originais da banda após quase duas décadas, “Psycho Circus”, trouxe novo show de labaredas de fogo ao palco e foi bradada alto pelos presentes – pode-se dizer que trata-se da principal ou mais popular canção da banda na segunda metade de sua prolífera carreira. O trio de cordas deixou o palco, Eric Singer iniciou seu momento solo com a bateria erguida no ar por uma plataforma, em meio a interações junto as câmeras e muita fumaça. Paul retornou carismático com o público, rodando o microfone pelo cabo no ar e no próprio corpo, iniciando – já buscando sua guitarra – “100,000 Years” do disco de 1974. Enquanto a música findava-se, uma das plataformas do alto descia no palco para Gene subir na mesma e, iniciar o aguardado momento de seu solo – cuspindo sangue no alto da plataforma em meio a muita fumaça. Ainda erguido no palco, o músico protagonizou a canção seguinte, “God Of Thunder” – do disco ‘Destroyer’ –, destacando-se a nova sequência de rajadas de fogo.
“É lindo estarmos aqui, mas nesta noite eu quero estar mais próximo de vocês, só que para isso devem me convidar” discursou Paul. Em meio aos brados de “Paul Paul”, o vocal pediu para gritarem o nome dele “o mais alto que podiam”, e assim seguiu até ele julgar que foi suficiente. Desta forma, o frontman executou seu tradicional sobrevoo pelo público até um palco localizado na região central do Allianz Parque, iniciando o hino que nomeia o disco de 1977, “Love Gun” – a dança caricata de Stanley e suas interações arrancaram gritos ensandecidos no estádio paulistano. “Vocês estão lindos, vou continuar por aqui mais uma música” discursou o vocal, incitando os presentes a iniciarem a intro da canção seguinte, o petardo “I Was Made For Lovin’ You” (‘Dynasty’, de 1979) – culminando no retorno de Paul ao palco principal, local do qual se declara aos presentes “Sao Paulo, I was made for loving you”.
The Starchild sozinho no palco, primeiramente introduziu um solo na guitarra e, com o retorno dos músicos, iniciaram a faixa icônica “Black Diamond” do disco debut do grupo norte-americano, cantada por Eric Singer. Em meio ao show de fogos de artifício no palco regidos pelas baquetas do Catman, o qual teve seu instrumento novamente levantado no alto, o público cantou em uníssono o petardo, até seu encerramento e os músicos deixarem o palco. A pausa proposital deu-se para que os roadies acomodassem um piano no centro do palco, no qual surgiu a figura de Eric Singer e, em meio a um ambiente fantástico proporcionado pelas luzes dos celulares do público iluminando o estádio, foi executada “Beth” (‘Destroyer’, 1976).
A banda saudou os presentes, foi fotografada com o púbico ao fundo e Paul anunciou a faixa seguinte – mais uma do disco de 1976 –, “Do You Love Me”, com bolas gigantes sendo jogadas em meio as pistas normal e premium do Allianz Parque. Mantendo o embalo, a indispensável música do ‘Dressed To Kill’ de 1975 foi executada sem maiores anúncios – seria necessário? –, simplesmente “Rock And Roll All Nite”. No dado momento, todo o arsenal de recursos da produção foi despejado ao público presente: fogos de artifício, papel picado e em fitas, explosões, plataformas com os músicos voando alto, labaredas de fogo, Paul girando sua guitarra no ar até quebra-la e fazer explodir mais fogos e papel picado no palco – encerrando a apresentação às 23h13m em meio a “God Gave Rock ‘n’ Roll to You II” nos PA’s do estádio.
A idade não perdoa por mais que a pessoa se cuide, porém Gene e Paul com 72 e 70 anos respectivamente – seus companheiros também estão acima dos 60 de idade – ao anunciarem a tour de despedida, não contavam com uma pandemia a nível mundial atrasando os planos de aposentadoria do Kiss. Ao fim da “End Of The Road Tour”, teriam os músicos energia extra (após estes dois anos parados) para um novo giro pelo planeta em um futuro próximo? Difícil dizer, por exemplo, a comparar os shows anteriores no Brasil notou-se claramente a maior utilização de arsenais pirotécnicos durante a apresentação, os quais aliados a performance de palco transformaram este, na opinião do autor da matéria, no melhor show da banda em terrar brasileiras até hoje. O ponto fundamental é que a banda continua a entregar aquilo que promete: um espetáculo digno dos melhores – e maiores – do planeta (agradecimentos à Mercury Concerts e Catto Comunicação).
Set list Kiss:
Detroit Rock City
Shout It Out Loud
Deuce
War Machine
Heaven’s On Fire
I Love It Loud
Say Yeah
Cold Gin
Guitar Solo
Lick It Up (trecho de “Won’t Get Fooled Again” – The Who cover)
Calling Dr. Love
Tears Are Falling
Psycho Circus
Drum Solo
100,000 Years
Bass Solo
God Of Thunder
Love Gun
I Was Made For Lovin’ You
Black Diamond
Beth
Do You Love Me
Rock And Roll All Nite