Texto por André Luiz – Fotos por Click da Suellen (OKF Produções) – Edição por André Luiz
Uma ode aos primórdios do Odin’s Krieger Fest, assim podemos resumir a edição 2019 do festival a qual reunião alguns dos principais nomes da história do evento em um cast 10% nacional. Pela primeira vez no Fabrique Club, o OKF reuniu Terra Celta, Hugin Munin, Confraria da Costa e Taberna Folk para shows completos, além de contar com exposições, vendas de produtos medievais e muito hidromel. A presença do público, essencial para o sucesso do festival com o passar dos anos, mais uma vez foi suntuosa: na véspera da data marcada para realização do Odins, a produção anunciou que todos ingressos haviam sido vendidos, em clara demonstração de força do festival pelo sold out em meio a uma data com tantos eventos concorrentes na linha heavy/rock – nomes do calibre de Cradle Of Filth, Slash, Raimundos e Skank se apresentaram no mesmo sábado, 25, e ainda houve o cancelamento do Dead Kennedys devido polêmica envolvendo cartaz da turnê.
Com abertura da casa prevista para às 14h, cerca de uma hora depois a banda oriunda de Campinas, Taberna Folk, surgiu no palco do Fabrique Club com “In Taberna” e a duo “Trotto / A Que Por”. Principal representante da cena medieval brasileira, com uma sonoridade típica cativante e presença constante em diversos eventos temáticos, o grupo do interior de São Paulo possui em seu repertório uma mescla de temas medievais, célticos, germânicos, nórdicos, a citar exemplos das faixas executadas no festival “Da Que Deus”, “Jag Såg En Ulv”, “Kesh / Morris / Road” e “Hot Asphault”.
Marca importante da Taberna Folk trata-se da constante energia demonstrada no palco pelo quinteto formado por Ricardo Amaro (violão, flauta, gaita de fole, vocal), Luis Romagnolo (violão, bandolim, vocal), Karina Moreno (percussão, vocal), Hugo Taboga (percussão, flauta) e Anderson Bardo (violino, harpa, vocal). Desta forma, “Lanningan’s Bal” e “Some Say The Devil Is Dead” deram vazão a várias rodas abertas na pista com danças típicas feitas pelo público, assim como a seguinte, “Drunken Lullabies” cantada pelo violinista Anderson Bardo.
“Esse novo tema vem lá da Bielorrússia como se fosse um ataque a um castelo, se vocês participassem do coro ficaria bacana” discursou Ricardo Amaro, o qual levantou de sua banqueta e empunhando uma gaita de fole arrancou gritos dos presentes em “Sturm” – o coral solicitado antes do início da música foi atendido pelos presentes em alto e bom som, assim como a imensa roda formada na pista com todos batendo palmas no ar e entoando o coro de “oh oh oh”. “Vamos agora para o lado mais nórdico do repertório”, comentou Ricardo abordando sobre a história das músicas seguintes, as quais estão relacionadas a descoberta da América pelos vikings antes dos espanhóis e a história de Siegfried e Fafnir metamorfoseado de dragão protegendo suas riquezas dentre as quais o anel de nibelungo – a história em que J. R. R. Tolkien baseou-se para O Senhor dos Anéis –, e desta forma executaram “Vejen Til Vinland/ Sigurdkvaden”.
Em ritmo dançante, seguiram com “Herr Mannelig” e público em meio a roda na pista do Fabrique Club. “Esta é uma composição do grupo que reflete bem os locais onde tocamos, estará presente no próximo CD que um dia chegará”, brincaram Ricardo e Luis Romagnolo antes da faixa em português “Canecos”; já em “I’se The B’y” o que ditou o ritmo foi a flauta de Ricardo com palmas e gritos dos presentes. Finalizando a primeira performance do festival, Ricardo agradeceu a produção e público, iniciando “Sieben Tage Lang” com sua flauta novamente, uma faixa bem conhecida dos presentes os quais na base das palmas brindaram a parte derradeira do show encerrado às 16h13m. A Taberna Folk demonstrou em mais uma cativante apresentação no Odin’s Krieger Fest a essência dos 11 anos de história na cena, uma trajetória marcada pelas performances empolgantes ao vivo as quais – esperamos – em breve deve ter novo registro de estúdio para celebrar a música medieval feita no país.
Set List Taberna Folk:
In Taberna
Trotto / A Que Por
Da Que Deus
Jag Såg En Ulv,
Kesh / Morris / Road
Hot Asphault
Lanningan’s Bal
Some Say The Devil Is Dead
Drunken Lullabies
Sturm
Vejen Til Vinland / Sigurdkvaden
Herr Mannelig
Canecos
I’se The B’y
Sieben Tage Lang
O representante das vertentes mais pesadas no festival tem origem na cidade de Santos, litoral paulista: os vikings brasileiros da Hugin Munin. Às 16h42m uma “Intro” passou a ser executada nos PA’s do Fabrique Club, as cortinas se abriram com a capa do novo álbum ‘The Valkyrie’ estampada no telão ao fundo e a clássica faixa “What Lies Below” inaugurando a apresentação com Surt pedindo as mãos para o alto dos presentes. “Obrigado São Paulo”, agradeceu o vocal antes de iniciarem o potente instrumental de “All For Nothing”. A roda do show anterior deu lugar a um aglomerado de pessoas acompanhando a apresentação da banda santista, levantando os punhos a cada interação do frontman e finalmente “startando” os bate-cabeças. A faixa foi emendada com “Flight Of Ravens” do EP ‘Mountainbreaker’ de 2013, com Surt convocando os banguers no Fabrique Club.
“Que começo heim, a galera veio pronta para batalha?” discursou o frontman o qual complementou com agradecimentos ao público, a mais um Odin’s Krieger Fest sold out, e finalizou perguntando “quem curtia Manowar” antes de convocar ao palco Cleber Krichinak e Alex DiArce da banda Kings Of Steel para executarem a faixa do novo álbum intitulada “Invincible” – uma roda violenta surgiu no meio da pista da casa de shows enquanto câmeras filmavam a performance para futuro lançamento em forma de vídeo clipe. “Com vocês Troll” anunciou Surt para o que seria um solo energético do baterista em meio a gritos dos presentes, baquetas jogadas ao público, luz piscante, e início dos riffs das guitarras com o vocal pedindo um circle pit gigante – prontamente atendido – antes de “Ashes Of My Enemy”.
Surt (vocal), Thorgrim (guitarra) Hjalmar (guitarra), Alex Hugin (baixo) e Troll (bateria) possuem em sua trajetória de 12 anos de carreira uma relação estreita com o Odin’s Krieger Fest. Relembrando suas participações desde os primórdios do evento, Surt discursou: “Valeu São Paulo, mais uma novidade, esta música foi feita em homenagem a cada um de vocês para comemorar este evento especial, vamos ficar todo mundo loucos!”. Esta foi a deixa para o anúncio de mais uma faixa do novo full lenght, “ODIN’s Krieger”, contando com circle pit agitado e Surt incitando os presentes a cantar o refrão com nome do festival.
O vocalista organizou um grito de “Odin” junto aos presentes e anunciou o clássico de 2016 “Hail Odin”, muito comemorada no Fabrique Club. Após novos agradecimentos, Surt pediu o acompanhamento nas palmas, e disse que a faixa seguinte seria a forma de dizer obrigado a todos, iniciando a canção do ‘Ten Thousand Spears for Ten Thousand Gods’ de 2011 já considerada indispensável no repertório dos santistas: “Death Or Glory”, destaque para o circle pit cada vez mais violento e o encerramento caótico com um wall of death às 17h36m. A Hugin Munin possui um nome estabelecido no cenário brasileiro, mesmo assim os vikings brasileiros não costumam prender-se a mesma fórmula há 12 anos e apresenta surpresas ao público a cada show ou lançamento de estúdio. O que resta-nos é aguardar quais as novidades que a banda santista brindará o público em sua próxima apresentação, seja na capital paulista ou em uma nova edição do Odin’s Krieger Fest.
Set List Hugin Munin:
What Lies Below
All For Nothing
Flight Of Ravens
Invincible
Drum solo / Ashes Of My Enemy
ODIN’s Krieger
Hail Odin
Death Or Glory
De Londrina novamente para o palco do Odin’s Krieger Fest, o Terra Celta desfilou seu repertório de 14 anos de estrada para o público presente no Fabrique Club. Exatamente às 18h12m, as cortinas da casa de shows se abriram para execução de uma “Intro” instrumental a qual despertou os presentes – afinal, foi pouco mais de meia hora de intervalo. “Boa noite cambada, salve salve Terra Celta na área para quem não nos conhece, e ae cambada de bêbado maluco pra quem nos conhece…” brincou Elcio Oliveira convocando os presentes a fazerem um aquecimento – literalmente, com alongamento e afins – e incitando o público para execução da conhecida faixa “O quadrado”, com sua coreografia característica sendo repetida por todos. “Vamos fazer um passeio às “irelands” escocesas” comentou o frontman antes da dançante instrumental “Scotland Medley” e de mais uma divertida faixa cantada pelos presentes em alto e bom som, “O porco”.
“Vamos fazer uma música cover, mas a propósito, hoje reunimos duas gaitas de fole no mesmo palco, isso é o que podemos chamar de sinfonia do inferno” discursou Elcio arrancando risadas e gritos do público, antes de ensinar a letra e coreografia da versão para “Chip” da banda The Real Mckenzies. “Vocês são muito loucos, tipo cabrita na nóia de lsd” brincou o vocal em alusão a empolgação dos presentes, empolgação esta que deu lugar ao euforismo com um dos momentos marcantes da apresentação dos paranaenses, a cativante “Gaia”. Após gritos de “Terra Celta” por parte do público, Elcio pediu para todo mundo ficar parado e iniciou-se a rápida “Até o ultimo gole”, incitando os mosh pits na pista do Fabrique Club.
O sexteto formado por Elcio Oliveira (vocal, violino, gaita de fole, nyckelharpa), Alexandre “Arrigo” Garcia (acordeão), Edgar Nakandakari (banjo, bandolim, tin whistle, clarinete, gaita de fole, Hurdy Gurdy), Luís Fernando Nascimento Sardo (bateria, percussão), Eduardo Brancalion (guitarra, violão, bouzouki) e Bruno Guimarães (baixo) possui, em seus 14 anos de estrada, 03 full lenghts e alguns singles os quais foram lançados no intervalo dos álbuns. Nesta toada, após os parabéns cantados ao guitarrista aniversariante Eduardo, Elcio anunciou uma música sobre os contos de fadas, exatamente o single lançado em 2013 “Era uma vez”, com letra cantada em alto e bom som no Fabrique Club.
Após uma agitada faixa instrumental com destaque para o Hurdy Gurdy de Edgar Nakandakari, o vocal anunciou que “a próxima vem precedida de uma notícia ruim e outra boa: a ruim primeiro, é que a próxima será nossa última música, a boa é que o melhor do show é o bis e se vocês pedirem quando sairmos, voltaremos não com um bis mas com um ‘bisão’”. A faixa anunciada foi dedicada as mulheres, exatamente o último single lançado ainda em 2019, “Mulher Maravilha”, emendada pela cativante faixa título do álbum de 2016 que também leva o nome da banda, “Terra Celta”, e o grupo deixou o palco rapidamente.
O retorno aos gritos do nome do sexteto ecoando pelo Fabrique Club, seguiu com outro lançamento em single, “Um outro lugar” de 2016 e seu cativante refrão. Mas nada melhor do que acabar a apresentação com euforia: a versão dos paranaenses para “Bella ciao” foi emendada com “Ressaca” – no meio da faixa, agradecimentos de Elcio aos companheiros do jantar medieval Taberna Folk, Hugin Munin pela composição da música que dá nome ao festival, Confraria que vai acabar com o pessoal na sequência e o público – e uma violenta roda a qual arrancou até mesmo do frontman um “lascou” em meio a formação do circle pit, finalizando a performance às 19h34m. Foram pouco mais de uma hora e vinte minutos de empolgação e euforia mescladas com momentos de letras cativantes e um alto astral ímpar, mais uma vez a Terra Celta marcou seu nome no festival.
Set List Terra Celta:
Intro
O quadrado
Scotland medley
O Porco
Chip (The Real Mckenzies cover)
Gaia
Até O último gole
Era uma vez
Medley Instrumental
Mulher maravilha
Terra Celta
Um outro lugar
Bella Ciao
Ressaca
A apresentação derradeira da noite também veio do Paraná, mais precisamente da capital Curitiba, com a Confraria da Costa. Iniciando exatamente às 20h27m com uma “Intro”, o grupo surgiu no palco executando a faixa título de seu último full lenght, “Motim” de 2015, com o circle pit empolgante no Fabrique Club. “Dá-lhe companhia de canalhas” bradou Ivan Halfon, anunciando a clássica faixa de abertura do mais recente disco dos paranaenses, “Cia de canalhas”, seguida por “Coisas piores acontecem no mar” e o canto pirata ecoado na casa de shows.
A agitada “Oh! Garrafa” foi emendada com “Eu Já Esqueci Mais do Que Você Um Dia Vai Saber”, mas embora a pista do Fabrique estivesse efervescente, os músicos demonstravam-se incomodados com problemas de retorno no palco. O baterista Abdul Osiecki comentou sobre merchandising da banda enquanto a equipe técnica ajustava o som do violino, e ainda presenteou um aniversariante da plateia com baqueta antes da execução da faixa “Lagartos”. Ao final da instrumental “Marcha Turca”, Ivan arrancou risadas do público ao comentar “obrigado pelo som sem retorno” e emendou questionando se “alguém precisa acordar vivo amanhã” antes de “Balada dos mortos” – com direito a rápido solo de André Nigro na percussão enquanto novamente se faziam ajustes técnicos na parte instrumental.
Os músicos Ivan Halfon (vocal, violão, banjo, flauta), Luiz Pantaleoni (baixo elétrico, contrabaixo, vocal de apoio), Abdul Osiecki (bateria, vocal de apoio), Anderson Lima (guitarra, vocal de apoio), Marco Polo (violino) e André Nigro (percussão), foram acompanhados de um músico identificado como “Caveira” no saxofone nesta apresentação. Com uma sonoridade envolvente e divertida incluindo elementos de folk, blues e mesmo música cigana, a banda que completa uma década no próximo ano possui três álbuns em sua discografia, a citar o homônimo de 2010, ‘Canções de Assassinato’ de 2012 e o mais recente, ‘Motim’, de 2015. E foi justamente com a furiosa faixa título de 2012, “Canções de assassinato” que os piratas curitibanos jogaram gasolina no fogo do Fabrique Club, com circle pits cada vez mais violentos a medida que que “Cantos do piratas” e “Polka do Diabo” deram sequência a performance do grupo.
Em mais uma sessão de ajustes técnicos, Ivan viu-se frustrado sem o som no banjo e retornou ao violão – não sem antes comentar “deixa pensar como tocar esta música no violão” arrancando risadas dos presentes – e executou junto aos seus companheiros a cativante “Meu pequeno demônio” no melhor estilo folk/blues. Uma grande roda formou-se na pista do Fabrique Club durante a instrumental “Hungarian Dance n°5”, já “Rússia reversa” foi emendada com “És cadavérico” em um duo de tirar o fôlego dos presentes. “The Basso” novamente colocou a casa de shows para dançar, em meio a percussão e violino ditando o ritmo em uma jam, caveira com dois facões debatendo e a execução de outro petardo, “A deriva”, destacando-se a dança no melhor estilo festa junina propiciada pelo público.
A última – e rápida – saída do palco, contou em seu retorno com um conhecido trecho literalmente recitado por Ivan, André Nigro com um tambor na pista ditando o ritmo do que seria o avassalador circle pit final em “Preparar.. Apontar.. Fogo!!”, com direito ao vocal se jogando em mosh no meio do público, encerrando às 21h49m não apenas a apresentação como o festival em grande estilo. Qualidade musical, estandes diversos, hidromel, companheirismo e parceria público/bandas/produção… Dentre a gama de eventos temáticos no cenário brasileiro, o clima do Odin’s Krieger Fest é diferenciado, mais do que um festival o evento tornou-se uma celebração obrigatória no calendário de shows paulistano, tanto que novamente foi sold out mesmo com tantos eventos concorrentes envolvendo bandas de renome internacional no mesmo sábado. Aguardemos novidades, e que nossos “amigos da economia” não impactem negativamente no valor do dólar para que possamos novamente ter uma segunda edição anual do festival até o final de 2019. Agradecimentos à OKF Produções e Tedesco Comunicação.
Set List Confraria da Costa:
Intro Nova
Motim
Cia de Canalhas
Coisas piores acontecem no mar
Oh! Garrafa
Eu Já Esqueci Mais do Que Você Um Dia Vai Saber
Lagartos
Marcha Turca
Balada dos Mortos
Canções de Assassinato
Canto dos Piratas
Polka do Diabo
Meu pequeno demônio
Hungarian Dance n°5
Rússia Reversa
És Cadavérico!
The Basso
À Deriva Preparar.. Apontar.. Fogo!!