Texto por André Luiz – Fotos por Camila Cara (T4F) – Edição por André Luiz
Em sua segunda edição no Brasil, o festival Solid Rock promovido pela T4F trouxe ao país os norte-americanos do Black Star Riders e Alice In Chains, além dos ícones britânicos do heavy metal Judas Priest. Com shows em Curitiba e São Paulo – além da apresentação do Priest e BSR em Belo Horizonte –, a turnê foi a oportunidade única de curtir shows completos, na mesma noite, com verdadeiras lendas da história do rock. Na capital paulista, o local escolhido para receber o festival fora o mesmo de 2017, o Allianz Parque, palco de grandes shows nos últimos anos e consolidado como principal centro de grandes concertos da cidade.
Prevista para iniciar às 18h, a performance do Black Star Riders não fugiu muito do cronograma estabelecido. Ao som da faixa título do álbum de 2013, “All Hell Breaks Loose”, a banda formada pelos guitarristas Scott Gorham (Thin Lizzy) e Damon Johnson (Thin Lizzy, Alice Cooper), o vocalista/guitarrista Ricky Warwick (Thin Lizzy, The Almighty), o baixista Robert Crane (Vince Neil, Ratt) e o baterista Chad Szeliga (Black Label Society, Breaking Benjamin) inauguraram o palco do Solid Rock em SP em grande estilo, emendando a versão de “Jailbreak” do Thin Lizzy.
Com nome inspirado na gangue do filme de velho oeste de 1993 “Tombstone – A Justiça Está Chegando” – estrelada por Kurt Russel e Val Kilmer –, a banda está em seu quinto ano e já lançou três álbuns: o já citado ‘All Hell Breaks Loose’ de 2013, ‘The Killer Instinct’ de 2015 e ‘Heavy Fire’ de 2017. É basicamente uma continuação do legado do Thin Lizzy, e até por este motivo clássicos da banda (originalmente) irlandesa estão presentes constantemente no repertório do BSR, como o destaque do show, “The Boys Are Back In Town”. A performance encerrou com a dobradinha “Kingdom Of The Lost” e “Bound For Glory”, além da curiosidade do novo público pela discografia da banda e os desejos de vida longa ao TL.
Set List Black Star Riders:
All Hell Breaks Loose
Jailbreak (Thin Lizzy)
Finest Hour
Heavy Fire
The Killer Instinct
Before The War
When the Night Comes In
The Boys Are Back In Town (Thin Lizzy)
Kingdom Of The Lost
Bound For Glory
Exatamente às 19h36m (seis minutos após o programado pela produção), o Alice in Chains de Jerry Cantrell (vocal, guitarra), William DuVall (vocal, guitarra), Sean Kinney (bateria) e Mike Inez (baixo) surgiu no palco do Allianz Parque ao som nos PA’s da “Musica Ricercata, II” de György Ligeti e iniciou seu espetáculo com “Check My Brain” do ‘Black Gives Way To Blue’, de 2009 e “Again” dos áureos anos 90.
Divulgando o álbum ‘Rainier Fog’ de 2018, a excelente “Never Fade” foi a primeira do recém lançado trabalho de estúdio executada no Solid Rock, e logo veio a explosão do público com o hino “Them Bones” emendada com “Dam That River”, ambas do clássico ‘Dirt’ de 1992. E desta forma os músicos foram mesclando faixas mais recentes com petardos da época de Layne Staley: “Hollow”, “Down In A Hole”, “No Excuses”, “We Die Young”, “Stone”.
Dominando o palco através dos vocais e presença de palco de William DuVall – fazendo jus ao legado do saudoso Staley – e solos impecáveis do mítico Jerry Cantrell, o Alice In Chains empolgou os presentes com o clássico “Angry Chair”, mas trouxe o caos verdadeiramente ao Allianz Parque quando executou um dos hinos do grupo de Seattle, “Man In The Box”.
Após deixarem o palco brevemente, os músicos retornaram ao som de “The One You Know”, do mais recente álbum, a qual contou com DuVall regendo o público utilizando sua guitarra como batuta. Com “um amo vocês” em bom português, William deu a largada para celebrada faixa “Would?” – destacando a cozinha formada por Sean Kinney (bateria) e Mike Inez (baixo). Finalizando em grande estilo com “Rooster”, em novo show particular da marcante figura de William DuVall, os norte-americanos coroaram uma performance na qual – assim como no Rock In Rio 2013 e no festival SWU 2011 – demonstraram a força deste grupo de Seattle que se renovou musicalmente após o período grunge dos anos 90 e continuam empolgando os fãs com seu legado.
Set List Alice In Chains
Check My Brain
Again
Never Fade
Them Bones
Dam That River
Hollow
Down In A Hole
No Excuses
We Die Young
Stone
Angry Chair
Man In The Box
The One You Know
Would?
Rooster
Em meio a expectativa pela banda britânica, o público aglomerou-se nas proximidades do palco e grades de divisão entre pista normal e premium, até que às 21h10m – apenas dez minutos após o programado – “War Pigs” do Black Sabbath começou a ser executada nos PA’s do Allianz Parque, o prenúncio de início do espetáculo mais esperado da noite. A intro do novo álbum seguiu e a faixa título título do décimo oitavo trabalho de estúdio do Judas, “Firepower”, começou a ser executada após o cair do pano/cortina com símbolo do Priest, para êxtase completo em cerca de 35 mil pessoas presentes no Allianz Parque. A faixa foi emendada com o clássico “Running Wild” do ‘Killing Machine’ de 1978.
“Grinder” do ‘British Steel’ de 1980 antecedeu a primeira interação de Halford, acenando ao público, agradecendo a todos e perguntando se estávamos prontos para o que viria. Rob tirou sua jaqueta prateada e iniciou um dos momentos mais intensos da noite: “Sinner” do ‘Sin After Sin’ de 1977, com show à parte de Richie Faulkner no solo de guitarra, chamando o público a participar na base das palmas. Citando o guitar, tanto ele quanto seu companheiro de cordas Andy Sneap estiveram full time no front, acenando ao público e fazendo as vezes da mítica dupla Glenn Tipton e K.K. Downing, mas a presença de palco de Faulkner nos faz lembrar os principais guitarristas dos anos 80 e sua interação com a plateia. Impressionante como as caras e bocas entre riffs e solos cativam, um verdadeiro deleite aos fotógrafos de plantão…
E se o tema é instrumentistas, o que dizer do “polvo” Scott Travis? Enquanto a banda deixou o palco, ele regeu os presentes na base das palmas até o retorno com “The Ripper” do ‘Sad Wings Of Destiny’ de 1976, mais um momento épico da noite – e ainda estávamos no começo do show. ‘Firepower’ fez-se presente novamente com “Lightning Strike”, faixa lançada como vídeo clipe de divulgação do álbum e recebida efusivamente pelo Allianz Parque, com destaque para o metalgod literalmente escrachando nos agudos – um dos vários momentos em que o público se perguntou “67 anos de idade mesmo?”.
Após “Desert Plains” do ‘Point Of Entry’ de 1981, Rob discursou aos presentes em tom conciliador, dizendo que “nós somos a comunidade do metal e temos o poder de mudar” antes de anunciar mais um petardo do último álbum, “No Surrender”. Quando a capa do clássico disco de 1986 surgiu no telão ao fundo pôde se ouvir os gritos do público: prenúncio de “Turbo Lover”, momento memorável de participação ativa dos presentes em uma das faixas mais conhecidas dos britânicos.
Os músicos deixaram o palco, exceto Rob, o qual interagiu com o público na base do “ieieie” antes de anunciar mais uma faixa – a versão para “The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)” do Fleetwood Mac, presente no ‘Killing Machine’ de 1978 – e reger as palmas dos presentes. O frontman deixou o palco mas retornou rapidamente com nova jaqueta, brindando a todos com um momento intimista através da faixa “Night Comes Down” – ‘Defenders Of The Faith’ de 1984. A instrumental “Guardians” passou a ser executada nos PA’s e precedeu mais uma do ‘Firepower’, “Rising From Ruins”, muito bem recebida pelo público.
Originado na cidade inglesa de Birmingham em 1969, o Judas Priest atualmente formado por Rob Halford (vocal), Ian Hill (baixo), Glenn Tipton (guitarra), Scott Travis (bateria), Richie Faulkner (guitarra) e Andy Sneap (guitarra) possui um vasto repertório, por este motivo volta e meia clássicos são deixados fora do set list – como desta vez podemos citar “Metal Gods”, “Beyond The Realms Of Death” ou “Victim Of Changes” por exemplo –, mas também surpresas agradáveis surgem. “Freewheel Burning” de 1984 pode ser considerada uma destas, destacando o espetáculo à parte de Rob nos vocais e finalizando com homenagem à Ayrton Senna no telão – na véspera do GP Brasil de Fórmula 1 em SP –, para ser ovacionado de vez pelos presentes. Simplesmente um momento apoteótico da noite, unindo a performance impecável dos britânicos on stage com a referência a um dos maiores – se não o maior – ídolo do esporte brasileiro.
Ao ritmo do bumbo de Scott Travis, o hino “You’ve Got Another Thing Comin’” do ‘Screaming For Vengeance’ de 1982 contou com a regência do mestre Halford, interagindo junto ao público na base do “oiê” e comandando a festa trajando seu sobretudo brilhante. Ao fim, aplaudiu e reverenciou a participação efusiva do Allianz Parque – novamente sendo ovacionado em forma de palmas e gritos – antes de deixar o palco. Os PA’s soaram o barulho de motores, Rob adentrou no palco com sua Harley Davidson e de cima dela comandou a festa em “Hell Bent For Leather” – ‘Killing Machine’ de 1978 –, em uma sequência de clássicos marcante da noite de sábado.
Os músicos deixaram o palco, exceto Scott o qual assumiu os microfones, perguntou o que o público queria e com a capa do petardo de 1990 no telão ao fundo não ficava difícil de se imaginar o que seguiria: Travis executou as batidas iniciais de “Painkiller” e transformou o estádio paulistano em um mar de rodas de mosh. Inicialmente de cima da moto e posteriormente circulando junto aos demais músicos com sua jaqueta preta e laminados prateados, Halford comandou a festa. Um show de luzes, telão psicodélico com imagens do palco e até do guitarrista Glenn Tipton. Ao fim um agudo fantástico do metalgod para arrancar chuva de aplausos dos presentes, em uma das melhores performances do vocal em solo paulistano desde seu retorno ao Priest – pessoalmente, considero a melhor desde a tour do ‘Angel Of Retribution’ em 2005 quando retornou ao Judas.
Com os músicos no backstage, os PA’s passaram a executar a clássica instrumental “The Hellion”, seguida pelo retorno da banda e a execução de outro hino atemporal do Priest: “Electric Eye”, outra do álbum de 1982. E se estamos falando de hino, o que dizer do Allianz Parque bradando a plenos pulmões o clássico do ‘British Steel’, talvez a canção mais conhecida dos britânicos, “Breaking The Law”? O clima de festa tomou conta do estádio, e para completar nada melhor do que uma celebrada faixa da carreira do Judas e presente no mesmo álbum de 1980 citado anteriormente, “Living After Midnight”, tendo Halford e seu sobretudo jeans com paints de várias bandas como mestre de cerimonias. Agradecimentos, fotos com o público ao fundo e a promessa de retorno com a mensagem no telão “The Priest will back” ao som do clássico do Queen “We Are The Champions” nos PA’s marcaram um encerramento apoteótico da apresentação do Judas.
A exemplo do ano anterior, a edição 2018 do festival Solid Rock em SP foi uma oportunidade única para os fãs apreciarem na mesma noite shows de verdadeiras lendas da história do rock. O legado do Thin Lizzy sob a alcunha do Black Star Riders, o retorno do Alice In Chains ao país cinco anos depois e a sempre celebrada apresentação dos ícones do heavy metal mundial Judas Priest, estes foram os ingredientes para levar mais de 35 mil pessoas ao Allianz Parque e consolidar o sucesso do festival na capital paulista. Aguardemos as novidades para 2019 e a expectativa de um novo excelente line up. Agradecimentos à T4F e fan pages do Alice In Chains e Judas Priest no Brasil.
Set List Judas Priest:
Intro – Firepower
Running Wild
Grinder
Sinner
The Ripper
Lightning Strike
Desert Plains
No Surrender
Turbo Lover
The Green Manalishi (With The Two Prong Crown) (Fleetwood Mac cover)
Night Comes Down
Guardians
Rising From Ruins
Freewheel Burning
You’ve Got Another Thing Comin’
Hell Bent For Leather
Painkiller
The Hellion
Electric Eye
Breaking The Law
Living After Midnight