Glenn Hughes – 29-04-2018 – Rio de Janeiro (Circo Voador)

Texto por Rodrigo Gonçalves – Fotos por Arony Martins – Edição por André Luiz

“Rio, vocês vivem dentro da minha alma. Deixe eu dizer algo a vocês: não foram vocês que vieram ao Circo Voador ver o Glenn Hughes, foi o Glenn Hughes que veio ao Circo Voador para ver vocês”. Com essas palavras, ainda no comecinho do show, o baixista e vocalista saudou o público que entupiu as dependências do Circo Voador e deu o tom da noite que os cariocas teriam pela frente. Uma noite de celebração ao incrível catálogo do sujeito que é popularmente conhecido como “A Voz do Rock”.

Embora tenha se mantido bem ocupado nos últimos anos com inúmeros projetos – o ótimo Black Country Communion lançou o seu quarto álbum no fim do ano passado, só para citar um –, Glenn Hughes finalmente resolveu ceder a um antigo apelo de seus fãs que gostariam de ver o experiente músico tocando ao vivo material de sua época com o Deep Purple. Foi assim que surgiu a turnê “Classic Deep Purple Live”, em que Hughes apresenta canções dos três álbuns que gravou com a banda ‘Burn’, ‘Stormbringer’ e ‘Come Taste The Band’, além de outras que se não foram gravadas por ele, faziam parte dos repertórios do grupo durante sua passagem e foram eternizadas em lançamentos ao vivo como “Made In Europe”.

Tendo conseguido adentrar o recinto em cima do laço após a grande fila que se formava desde cedo no lado de fora, consegui me posicionar na lona justamente quando os cariocas do Seu Roque davam início ao seu show. A banda mostrava boas composições autorais como “Diana” e “Visceral” em um hard rock bem tocado e interessante, quando incorreram naquele que é um dos maiores erros que bandas nessa posição cometem: descambaram a tocar covers ao invés de continuarem cativando o público tocando o seu próprio material.

Pouco tempo depois, eis que era chegado o grande momento. Com o sistema de som reproduzindo passagens do clássico ‘California Jam’, Glenn entrou em cena detonando “Stormbringer” mostrando logo que não estava para brincadeira. “Sail Away” pôs o público a cantar junto e “Mistreated” decidiu a partida de vez a favor de Glenn e companhia.

Uma das propostas desse novo show era executar as canções mais próximas do que o Deep Purple fazia ao vivo nos anos 1970 e que ficaram eternizadas em álbuns ao vivo como os já mencionados ‘California Jam’ e ‘Made In Europe’, ao invés de suas versões oficiais, o que ficou evidenciado em passagens do show, como o baterista chileno Fer Escobedo, que emulava – e bem – o estilo do grande Ian Paice. Além disso, Glenn quase não interagia com seu guitarrista Soren Anderson sempre relegado ao canto esquerdo do palco. Por outro lado, Hughes demonstrou grande afinidade com o tecladista Jesper Bo Hensen, com quem travou “duelos” durante toda a apresentação. Ou seja, tudo pensado nos mínimos detalhes para levar os fãs em uma grande viajem e tentar reproduzir o que era o clima de um show do Deep Purple naquela época.

Em grande parte, isso se mostrou um enorme acerto, com a banda demonstrando um grande entrosamento, mudando arranjos e dando nova cara a algumas canções. O problema é que em alguns momentos isso acabou ficando um pouco exagerado, como no caso de “You Fool No One”, a qual quando a banda finalmente encerrou a música um amigo virou para o outro e comentou “pow, eles ainda estavam tocando isso”. Pois é, creio que esse não seja o cenário ideal em um tipo de show desses.

Àquela altura, Glenn já dava sinais de cansaço e com isso o show acabou dando uma caída, mas ainda o lendário cantor conseguiu emocionar em temas como a maravilhosa “This Time Around” (que sensibilidade para cantar umas das mais belas canções do Deep Purple) e Gettin’ Tighter (com uma bela homenagem ao amigo e ex-companheiro de Deep Purple, Tommy Bolin). A se lamentar, é que nesse miolo deveria ter entrado a espetacular “Holy Man”, pérola pincelada diretamente do álbum ‘Stormbringer’ e que Glenn poucas vezes havia cantado ao vivo antes do início dessa turnê. Antes de sair do palco e retornar para o tradicional bis, houve tempo para um medley do clássico “Smoke On The Water” e “Georgia On My Mind”, famosa na voz de Ray Charles.

No retorno para o bis, Glenn emocionou os presentes com uma bela rendição de “You Keep On Moving”, a qual contou com grande participação do público, além dos clássicos “Highway Star”, em que fez algo que raramente costuma fazer ao se livrar do baixo e atuar como um “reles” frontman. E, para alegria geral do público que compareceu em peso ao Circo Voador, encerraram o show com “Burn” – aquele que talvez seja o maior clássico do Deep Purple na fase Coverdale/Hughes –, canção bradada em alto e bom som comemorada por todos. O sucesso do show da “Classic Deep Purple Live” no Rio de Janeiro evidenciou a proximidade não apenas do músico com o público carioca como também o apreço dos fãs pela grandiosa fase de Glenn junto ao Purple, por mais projetos paralelos que o músico se envolva ele estará marcado para presente por este período memorável. Agradecimentos à assessoria do Circo Voador.

Set List Glenn Hughes:
Stormbringer
Might Just Take Your Life
Sail Away
Mistreated
You Fool No One
This Time Around
Gettin’ Tighter
Smoke On The Water / Georgia On My Mind

You Keep On Moving
Highway Star
Burn

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