Texto por André Luiz – Fotos por Edi Fortini – Edição por André Luiz
Com quase três décadas de carreira, a lendária banda norueguesa Satyricon retornou ao Brasil para uma sequência de três shows no país. Promovendo o recém lançado full lenght ‘Deep Calleth Upon Deep’, um dos principais lançamentos do meior metal de 2017, o grupo retornou à capital paulista seis anos após o debut em São Paulo, desta vez para apresentação na Fabrique Club – o show que aconteceria na Clash Club, porém a casa passa por reformas, o que obrigou a mudança de local – para um bom público o qual participou ativamente da performance dos noruegueses.
A abertura da noite se deu com os gaúchos do Patria. Em tour de divulgação do álbum ‘Magna Adversia’, a banda originada da cidade de de Carlos Barbosa iniciou seu show às 18h50m – 10 minutos antes do programado – com a dobradinha formada por “Now I Bleed” e “Outrage”. “São Paulo, é um prazer estar aqui de volta, este será um som do álbum novo” discursou o frontman Triumphsword antes de “Heartless”, um dos destaques da noite pela interação junto ao público, ao lado da experiente line up formada por Mantus (guitarra), Ristow (guitarra), WS Vulkan (baixo) e Abyssius (bateria).
Privilegiando sua discografia formada por 08 trabalhos de estúdio, os gaúchos seguiram com “Nyctophilia”, mais uma do novo álbum “Axis” e uma de suas principais composições, “Death’s Empire Conqueror”. Após aplausos do público, o vocal agradeceu a todos e anunciou que a faixa seguinte seria o último som da noite, “Culto das Sombras” – do álbum ‘Gloria Nox Aeterna’ de 2010. Muito bem quisto pelos presentes, com um “obrigado São Paulo, obrigado a todos vocês” do vocal a banda encerrou sua performance às 19h27m. Assim como fora na abertura para o Tsjuder meses atrás, esta foi mais uma amostra do poderio do grupo que nos brinda com sua sonoridade crua e visceral desde o clássico ‘Hymns Of Victory And Death’ de 2009 até este ótimo novo trabalho ‘Magna Adversia’, contendo trechos mais técnicos e mais diversificado.
Set List Patria:
Now I Bleed
Outrage
Heartless
Nyctophilia
Axis
Death’s Empire Conqueror
Culto das Sombras
Dois anos após ser diagnosticado com um tumor benigno no cérebro, ninguém imaginava ver Sigurd “Satyr” Wongraven nos palcos brasileiros novamente. O músico que já revelou não saber se ‘Deep Calleth Upon Deep’ trata-se do último trabalho de sua carreira certamente não esquecerá o motivo pelo qual o trouxe ao Brasil, após seu debut em palcos paulistas no ano de 2011. Ao lado do eterno parceiro de banda Kjetil-Vidar “Frost” Haraldstad na bateria, o line up ainda esteve representado por um time experiente no palco do Fabrique Club: Steinar “Azarak” Gundersen na guitarra – Spiral Architect e Sarke –, Anders “Neddo” Odden no baixo – Cadaver, já trabalhou com Celtic Frost, Mayhem, Ministry entre outros –, Attila Voros na guitarra – Sanctuary e Strength Of Will, já trabalhou como “live guitar” no Nevermore – e Anders Hunstad no teclado – Sarke.
A exemplo do Patria, minutos antes do programado os PA’s da casa de shows – com considerável público presente – nos brindava com uma Intro, enquanto se via um pedestal de microfone em alusão ao “Y” do logo do Satyricon e ao fundo era exibido no telão a arte de capa trata-se de ‘Deep Calleth Upon Deep’ – uma ilustração de 1898 do renomado artista norueguês Edvard Munch, conhecido mundialmente pela obra marco do Expressionismo intitulada “O Grito”. Os integrantes foram surgindo no palco um a um até iniciar-se o espetáculo com a primeira faixa do mais recente álbum da banda, “Midnight Serpent”, emendada com o petardo “Our World, It Rumbles Tonight” do autointitulado ‘Satyricon’ de 2013 – muito bem recebida pelos presentes – e “Black Crow On A Tombstone” do ‘The Age Of Nero’ de 2008 – cabe comentário sobre som da main guitar e vocal literalmente “indo e voltando” em dados momentos nesta trinca inicial, situação a qual seria totalmente sanada apenas da metade do show em diante.
“São Paulo é muito bom estar aqui de volta” discursou Satyr antes de mais um grande momento com a faixa-título do mais recente álbum, “Deep Calleth Upon Deep”, com uma incrível recepção do público que visivelmente empolgou Satyr e seus asseclas on stage, vocal este o qual regeu um coral junto aos presentes e ao fim saudou com palmas este que pode ser considerado um novo clássico dos noruegueses – qualquer desavisado diria que esta música se trata de uma faixa dos anos 80 ou 90. Dali em diante o jogo estava ganho, ainda mais com Frost literalmente destruindo seu instrumento no massacre sonoro chamado “Walker Upon The Wind” do álbum de 2013 – solo de bateria? Com esta música era mesmo desnecessário…
O frontman novamente agradeceu os presents antes de novo clássico cantado por todos, “Repined Bastard Nation” do disco ‘Volcano’ de 2002, o trabalho que colocou a sonoridade do Satyricon em novos rumos. Após breve intro, os músicos brindaram os fãs com um novo petardo, “Commando” do ‘The Age Of Nero’ de 2008), emendada com a grandiosa “Burial Rite” do ‘Deep Calleth Upon Deep’ – detalhe que na tour latina, esta foi a quinta faixa diferente do novo álbum usada para completar a quadra de novidades do repertório a qual mantém no set base a faixa incial, a título e “To Your Brethren In The Dark”.
Um novo agradecimento de Satyr e na sequência for a executado um dos principais hinos dos noruegueses, o qual levou literalmente o Fabrique Club abaixo: “Now, Diabolical” do homônimo de 2006, uma faixa atemporal bradada a plenos pulmões por todos, ainda mais com o efeito “struble” do painel de fundo ao ritmo do pedal de Frost. O segundo single do DCUD foi executado, “To Your Brethren In The Dark”, até Satyr empunhar uma guitarra e anunciar duas faixas do ‘Nemesis Divina’ de 1996: a instrumental “Transcendental Requiem Of Slaves” – substituída em alguns shows por “To The Mountains” – e após o frontman entregar sua guitar para um roadie, outro hino dos noruegueses, “Mother North”, causando uma explosão de sensações na pista do Fabrique Club – um público ensandecido interagiu com o palco a cada acorde, sendo regido pelo maestro Satyr em um coral de “oh oh oh” ensurdecedor. Os músicos agradeceram a todos – com destaque à Frost que pela primeira vez saiu de traz da bateria – e deixou brevemente o palco.
Aos gritos de “Satyricon”, os músicos retornaram para um encore animalesco, já com Satyr formando uma trinca de guitarristas que executaria os próximos dois sons do repertório: “The Pentagram Burns” do ‘Now, Diabolical’ de 2006 fez o público cantar e pular no Fabrique Club, já “Fuel For Hatred” do ‘Volcano’ de 2002 acabou com os últimos pescoços intactos da noite. Efusivamente a banda agradeceu os presentes com Frost novamente à frente do palco, mas faltava o principal hino da banda na última década… Pois bem, o baterista retornou ao seu instrumento e “K.I.N.G.” do ‘Now, Diabolical’ de 2006 tornou festivo o clima do Fabrique Club, uma verdadeira celebração do grande momento vivenciado por todos na dada noite.
Se podemos dizer que a sonoridade dos noruegueses se tornou mais voltada para um flerte entre black e doom metal desde o ‘Volcano’, ‘Deep Calleth Upon Deep’ pode ser considerado um álbum essencial para os fãs de ambos estilos. Embora com uma sonoridade mais limpa e crua em estúdio, ao vivo especialmente em se tratando do massacre sonoro na bateria nota-se o diferencial das novas composições do Satyricon, aliado a qualidade de experientes músicos que atuam ao lado de Satyr e Frots ao vivo baseado em um repertório coeso e preciso – nota do autor/editor: senti e MUITO a falta de “Dy By My Hand” do ‘The Age Of Nero’ de 2008 no set list. Sobre o ‘DCUD’, o frontman da banda havia citado a incerteza deste ser o último trabalho do grupo e que por isso precisava ser especial, mas caso houvesse mais discos, “então é melhor me certificar de que este seja tão diferente do último a ponto de parecer um novo começo”. Pois bem, a julgar pela performance MEMORÁVEL deste sábado, 11, em São Paulo, e baseado na qualidade do novo álbum, podemos esperar um Satyricon triunfando no cumprimento de seus objetivos pelos próximos anos, de preferência com um novo retorno ao nosso país. Agradecimentos à MS BHZ pela produção do evento e credenciamento de nossa equipe.
Set List Satyricon:
Midnight Serpent
Our World, It Rumbles Tonight
Black Crow On A Tombstone
Deep Calleth Upon Deep
Walker Upon The Wind
Repined Bastard Nation
Commando
Burial Rite
Now, Diabolical
To Your Brethren In The Dark
Transcendental Requiem Of Slaves
Mother North
The Pentagram Burns
Fuel For Hatred
K.I.N.G.