Texto por Rodrigo Gonçalves – Fotos por Arony Martins – Edição por André Luiz
Já se aproximava da meia noite e o sujeito esguio em cima do palco maravilhava os presentes há pouco mais de duas horas com um show de guitarra como há muito tempo não se via no Rio de Janeiro. Entre um solo e outro, o guitarrista Steve Vai ainda encontrou tempo para assinar o CD de um gaiato que conseguiu prender sua atenção. O felizardo, certamente, guardará esse troféu como se fosse a taça da Copa do Mundo.
A cena descrita acima deu a tônica do que foi a apresentação do renomado guitarrista na noite de sábado, 03, no Imperator. Uma perfeita comunhão ente guitarrista, sua banda e o público que se não lotou as dependências da casa de shows localizada no Meier, preencheu os poucos espaços que faltavam com uma sinergia ímpar. Esperar uma apresentação no mínimo excelente seria algo muito fácil, mas a noite prometia algo especial: o musico faria aquele show que todo fã sempre sonhou em ver, tocar sua obra prima, o álbum ‘Passion And Warfare’ na íntegra, além de algumas grandes canções do seu vasto catálogo.
Pontualmente às 21h30m, Vai entrou em cena usando uma espécie de traje espacial, com lasers apontando do braço da guitarra e também do capuz, para dar início ao show, para delírio da galera. A primeira parte do show, em que executou algumas canções antes de cair de vez no seu álbum mais famoso, teve quatro músicas em sequência durante cerca de meia hora. O começo excepcional com “Bad Horsie”, a sensacional “The Crying Machine” durante a qual Vai emula barulhos de máquinas com a sua própria guitarra, além das belas “Gravity Storm” e “Whispering A Prayer” deram o tom da noite. Noite que ainda viria ter uma cor diferenciada.
Em meio a tantas canções as quais nos fizeram viajar como nunca, eis que nos deparamos com um pedido de casamento. Sim, isso mesmo, um novo casal que se formou com as bençãos daquele que, sem qualquer exagero, é uma das poucas divindades da guitarra na história da música. O convite de Vai para algo tão singelo foi uma demonstração da forma como o guitarrista encara suas apresentações. É como se fôssemos convidados para tomar um chá em sua casa, como amigos de longa data.
Em seguida, Vai se dirigiu ao público, explicou o tema pelo qual ele e a banda (Jeremy Colson na bateria, Philip Bynoe no baixo e Dave Weiner alternando entre guitarra e o teclado) têm viajado pelo mundo – a execução na íntegra do álbum ‘Passion & Warfare’ – e convidou o público a embarcar com eles em uma jornada emocionante. Pedido feito, pedido atendido. Steve e banda executaram na íntegra uma das obras mais impressionantes de um artista em todos os tempos. Quando os primeiros acordes de “Liberty” soaram no PA do Imperator, o público concedeu ao músico a sua mais devota atenção em uma viagem musical que durou mais de uma hora e ainda contou com as participações no telão de Brian May em “Liberty”, seu amigo de longa data Joe Satriani em “Answers” e John Petrucci em “The Audience Is Listening”. A bela, porém, curta, “Ballerina 12/24” serviu como uma breve demonstração do alcance do talento de um músico que conseguiu pegar uma ideia tão simples quanto as antigas caixas de música, e transpor para uma peça orientada por guitarras de extremo bom gosto. Outras como “The Riddle”, “Blue Powder”, “Alien Water Kiss” e a porrada hard rock “I Would Love To” seguiram empolgando e prendendo a atenção do público.
Mas se fosse para separar dois momentos singulares que definiram a noite, estes seriam:
– a apoteótica e atemporal “For The Love Of God”, o maior sucesso do álbum, apresentada no RJ em versão ainda mais apoteótica, beirando os 10 minutos de duração. Uma pena que boa parte do público não tenha conseguido ver o que se passava em cima do palco diante da quantidade absurda de smartphones “filmando” o show, mas pelo menos deu para fechar os olhos e viajar com os solos que emanavam do P.A
– durante “Stevie’s Spanking”, durante a qual Vai contou com a “participação” de Frank Zappa no telão, literalmente em um duelo guitar heores. Tendo tido a sua primeira oportunidade na banda de Zappa, Vai prestou uma bela homenagem ao seu mentor musical, algo que não costuma fazer com frequência em suas apresentações.
Após uma breve saída para o bis, o guitarrista retornou para encerrar a noite com a excelente “Fire Garden Suite IV – Taurus Bulba”. Ao final das quase duas horas e vinte minutos de show, os fãs foram para casa ainda sem conseguir processar direito o que havia acabado de acontecer, mas com a felicidade por terem visto Steve Vai fazer o show que todo fã sempre gostaria que ele fizesse. Agradecimentos à Free Pass pela produção do evento e credenciamento de nossa equipe.
Set List Steve Vai:
Bad Horsie
The Crying Machine
Gravity Storm
Whispering A Prayer
Liberty
Erotic Nightmares
The Animal
Answers
The Riddle
Ballerina 12/24
For The Love Of God
The Audience Is Listening
I Would Love To
Blue Powder
Greasy Kid’s Stuff
Alien Water Kiss
Sisters
Love Secrets
Stevie’s Spanking (Frank Zappa cover)
Racing The World
Fire Garden Suite IV – Taurus Bulba