Texto por Arony Martins– Fotos por Arony Martins – Edição por André Luiz
O que você diria se te contassem que em meio a um show de rock progressivo que um gato invadiu o palco e sem mais delongas desapareceu? E o que você diria se na mesma história te contassem que uma briga, nos moldes das famosas brigas dos saloons do velho oeste, aconteceu em meio ao público que atentamente assistia uma apresentação musical das mais tranquilas? Estranho não? Pois é, mas aconteceu, e quem esteve no Vivo Rio (lotado diga-se de passagem) pôde assistir um reformado Renaissance fazer uma apresentação correta marcada por situações pra lá de inusitadas e que seguramente não estavam planejadas, em meio a uma performance fantástica de Annie Haslam.
O show era da banda britânica Renaissance. Entretanto o único nome que ainda permanece no grupo, da longínqua formação clássica, é o da sensacional Annie Haslam, que do alto de seus 69 anos continua com a voz intacta, suave e aveludada como sempre. Mesclando as históricas canções do grupo com músicas mais recentes, a apresentação foi totalmente estruturada para ter Annie como protagonista, ao lado dos instrumentistas Rave Tesar (teclados), Tom Brislin (teclados e voz), Mark Lambert (guitarra e vocais), Frank Pagano (bateria, percussão e vocais) e Leo Traversa (baixo e vocais).
O repertório era visualmente pequeno (12 músicas), mas a apresentação, para deleite dos fãs, foi bem duradoura. Ao longo de duas horas, o grupo discorreu sua carreira. Porém mesmo com tantas expectativas criadas em torno do grande evento que seria o Renaissance em nossa cidade, a primeira hora de espetáculo não empolgou. Canções como “Carpet Of The Sun”, “Ocean Gipsy” e “Grandine Il Vento”, que por mais que sejam excelentes, não causaram impacto no público.
Mas tal como a surpresa em saber que o tradicional grupo britânico viria ao Brasil, também fomos surpreendidos com uma verdadeira virada que transformou a apresentação naquilo que era verdadeiramente esperado. E foi em “Symphony Of Light” que foi possível viver uma atmosfera mais aproximada em relação ao estilo que consagrou a banda. Arranjos mais ousados, tempos invertidos e os músicos nos contando uma interessante história sobre Leonardo DaVinci. Pronto, agora sim estávamos diante do Renaissance que queríamos.
O desempenho da vocalista é impressionante. A abertura do concerto com “Prologue” deixou evidente que passaríamos a noite admirando uma senhora tão doce ao cantar, que seria difícil querer voltar para casa. A simpatia de Annie é tão grande que a cada intervalo a cantora conversa com o público, trazendo os presentes para perto de si. E é a partir desse constante dialogo que individualmente travávamos com ela combativos duelos: Annie você não será capaz de atingir notas tão altas! E em todas, perdíamos o desafio. Nunca uma derrota foi tão prazerosa.
Como em todas as apresentações de bandas históricas como o Renaissance, as canções mais clássicas são aquelas que mexem com o público. E não seria diferente com os britânicos. Músicas como “Let It Grow” e “Ashes Are Burning” foram os pontos mais altos do show, que por muito pouco não foi interrompido definitivamente pela lamentável briga que se instalou no salão do Vivo Rio.
Para o bis, uma demonstração de agradecimento pela receptividade que o público brasileiro sempre teve com Annie em outras passagens que a cantora fez por aqui com sua carreira solo. Algo, inclusive, lembrado com muito carinho pela vocalista ao longo da apresentação. Para a surpresa dos presentes a banda nos presenteou com “Quiet Night Quiet Stars”, uma a versão de “Corcovado”, de Tom Jobim. Claro, a banda foi ovacionada, aplaudida de pé.
Tudo bem, e o gato, que fim levou? Bom, lamentavelmente até o encerramento dessa matéria nossa equipe não conseguiu localizar o referido felino dotado de muito bom gosto. Entretanto nosso pequeno e intrujão personagem, com certeza, deixou a apresentação com a mesma certeza que o público: ainda que com tantas situações não convencionais, a escolha pelo Renaissance foi acertadíssima. E torçamos que Annie Haslam nos brinde com sua bela voz por mais vezes. Agradecimentos à Top Cat Produções e assessoria de imprensa do Vivo Rio.
Set list Renaissance:
Prologue
Carpet Of The Sun
Ocean Gipsy
Grandine Il Vento
Symphony Of Light
Let It Grow
Mother Russia
The Mystic And The Muse
A Song For All Seasons
Sounds Of The Sea
Quiet Night Quiet Stars (Corcovado)
Ashes Are Burning