Ira! – 19-05-2017 – Rio de Janeiro (Circo Voador)

Texto por Arony Martins – Fotos por Arony Martins – Edição por André Luiz

Foi promovendo uma intensa proximidade entre notórios músicos e seu fiel público que a histórica banda paulistana IRA!, decidiu caminhar novamente pelos rumos acústicos, e nos últimos meses, têm levado para várias partes do país sua nova tour “IRA! FOLK”. E com um repertório recheado de grandes clássicos e músicas nem sempre tão comuns ao vivo, o grupo repaginou suas canções e trouxe ao palco do Circo Voador um belíssimo show, com direito a muitas homenagens dedicadas à grandes artistas que já nos deixaram.

Convocadas para abrir os trabalhos, a banda paulista Vespas Mandarinas composta por Thadeu Meneghini (voz e violão) e Chuck Hipolitho (voz e guitarra) trouxe ao Circo Voador canções de seu principal trabalho, o álbum ‘Animal Nacional’ – indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Rock Brasileiro” em 2013 –, além de canções de artistas como Leoni e do próprio IRA! – “Nas Ruas”, a citar. A excelente apresentação, também em um formato próximo do acústico, prendeu a atenção do ainda reduzido público que chegava aos poucos à casa, mas soube aquecer a fria noite carioca.

Existem coisas que são dificílimas de explicar. Situações que sempre nos perguntamos qual a razão para que tenham acontecido. Daquelas coincidências que por mais tristes que possam ser, fazem a gente refletir e entender que se aconteceram de tal forma era porque tinha que acontecer. E assim quis o destino que a grande apresentação de Edgard Scandurra, Nasi e sua reformada banda – Johnnie Boy e Daniel Scandurra completam o grupo – acontecesse no mesmo dia em que Kid Vinil nos deixou.

A importância que o produtor musical, conhecido também por assumir os vocais da divertida banda Magazine para o rock brasileiro é imensurável, e com toda a justiça o grupo iniciou sua apresentação dedicando aquele trabalho ao querido amigo que havia deixado esse plano para seguir seu caminho por outras bandas espirituais. Júlio Barroso, conhecido por seu trabalho com as bandas Gang 90 e Herva Doce, além do poeta Belchior, também foram lembrados.

O IRA! é daquelas bandas que trazem em seu trabalho uma espécie de rock n roll mais essencial, sem grandes rodeios, direto porém dotado de arranjos bem elaborados e executados. E com toda a certeza essa particularidade permitiu que a escolha pelo tão já batido, repetido e combalido formato acústico ganhasse um desenho ímpar. Distinto do longínquo ‘Acústico MTV”, porém mais simples e honesto.  Longe dos trágicos projetos “unpplugeds” caça-níqueis que assistimos mundo afora.

Não é de hoje que se percebe o quanto tem sido difícil para Nasi manter integralmente sua conhecida e peculiar maneira de cantar. Lamentável, é claro, tal a magnitude e valor de sua contribuição para a música brasileira. Entretanto, as opções que originaram a atual turnê, não somente deram às canções da banda um novo e interessante espectro, mas devolveram à Nasi aquilo que sempre soubemos que seria capaz: levar um show, do início ao fim, sem que os problemas com sua voz protagonizassem a apresentação. O vocalista demonstrou-se muito à vontade com o formato e certamente a leveza dos arranjos permitiu que sua grave voz, já desgastada por anos de trabalho, se acomodasse docemente às canções do grupo, projetando assim, sem sobra de dúvida, uma maior longevidade para sua carreira. Os fãs agradecem.

Se Folk, na língua inglesa pode significar público, a integração das canções à composição de luzes do palco, permitiu que a atmosfera mais intimista inserida na proposta da turnê fosse vivida de forma intensa. E foi através de grandes músicas como “Flerte Fatal”, “Rubro Zorro”, “Flores em Você” e “Eu quero sempre mais” que a apresentação se amplificou, arrancando gritos e sorrisos do bom público que compareceu ao Circo Voador.

Edgard Scandurra é um guitarrista marcado por uma refinada técnica acompanhada por uma intensividade que poucos instrumentistas conseguem demonstrar. Nasi é emoção e razão ao mesmo tempo, consegue de forma ávida cativar seu público enquanto canta, traga seus cigarros e desce alguns goles de sua inseparável taça de vinho. Em muitos momentos demonstra sua total admiração por seu amigo de longa data. E são nesses momentos em que nos juntamos ao vocalista, entorpecidos pela mágica condução do show promovida pelo guitarrista. Como não admirar Scandurra?

Se a noite foi de agradáveis surpresas e riquíssimas canções, essa não poderia terminar sem dois dos maiores clássicos do grupo: “Envelheço na cidade” e “Núcleo Base”. Seguramente envelhecer ao som de uma das maiores bandas do rock brasileiro, nos entremeios das gigantes cidades do nosso país, marcadas por muitas lutas, e lembrar que um dia refutamos a obrigatoriedade do serviço militar obrigatório, faz a história do IRA! ser um pouquinho da nossa história também. E vivendo intensamente essa linda trajetória os fãs deixaram o local cantarolando “Eu quero lutar… mas não com essa farda…”. Agradecimentos à assessoria de imprensa do Circo Voador.

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