Suicidal Tendencies: o conteúdo é mais importante do que o rótulo, fazer o que quer é melhor do que tentar se encaixar

Texto por Ana Karoline Sousa – Fotos por Álvaro Ramos – Edição por André Luiz

Quase um ano após sua última apresentação no Brasil, os ícones do crossover thrash/punk mundial Suicidal Tendencies retornaram ao país para mais três shows e aproveitaram a estadia na cidade de São Paulo para conceder uma coletiva de imprensa. Atualmente formada por Mike “Cyco Miko” Muir (vocal), Dean Pleasants (guitarra), Jeff Pogan (guitarra), Ra Díaz (baixo) e Dave Lombardo (bateria), a banda falou sobre a carreira, com ênfase no álbum mais recente ‘World Gone Mad’.

A primeira pergunta feita foi justamente sobre a origem do título do álbum, o qual Mike explicou se tratar do conceito já apresentado: o vocalista afirmou que conforme o tempo vai passando, a mentira vai ficando mais clara. Mike citou como exemplo seu próprio filho, que o ensina a não viver uma mentira, a não inventar desculpas ou deixar de fazer algo por medo. ‘World Gone Mad’ diz exatamente o que ele pensa: que o mundo está louco e é nossa escolha fazermos parte disso ou não. Ao ser questionado sobre o álbum, Mike Muir afirmou que toda a composição do disco foi feita em conjunto e o conceito principal foi transmitir o que eles realmente são, já que muitas pessoas acabam “desperdiçando” suas vidas tentando ser ou se encaixar em algo que não faz parte de sua essência, fazendo coisas por obrigação quando no fundo não gostariam de estar ali.

Dave Lombardo, mítico baterista co-fundador do Slayer, foi questionado sobre sua experiência em tocar com o Suicidal Tendencies, situação pela qual o músico demonstrou empolgação. Além disso, Lombardo afirmou que em todas as bandas das quais optou fazer parte, sempre escolheu por honestidade e é isso que ele vê com o Suicidal Tendencies: caras que realmente estão fazendo o que realmente amam e isso é bem expressado. Dave abordou sobre a ligação do Slayer com o Suicidal Tendencies: “Rocky George (ex-guitarrista do Suicidal Tendencies) era muito amigo de Jeff Hanneman (guitarrista do Slayer, falecido). Jeff adorava Suicidal Tendencies, me sinto confortável tocando as músicas do Suicidal porque sempre contou com elementos de thrash e punk, mas também um lado funk que eu particularmente adoro. Amo quando bandas trazem outros estilos de som para o metal”. Lombardo também contou que se lembra no passado, quando o Slayer ainda era uma banda local e ele viajava escutando Suicidal Tendencies, que sempre foi uma de suas grandes influências.

Como esperado, a banda também foi questionada sobre sua visão política e Donald Trump, a respeito do qual o falante vocalista deixou clara sua visão: “Eu não gosto de política, acho que ela destrói o coração das pessoas. Político conta o que você quer ouvir e não a verdade. Acabamos de voltar da França e dá para sentir que voltamos ao estágio de que ninguém tem esperança, esse é o estado atual das coisas. Política não é a resposta, política é sobre poder e se manter no poder”. Mike afirmou que políticos não se importam com o que deveria ser prioridade e só se preocupam em fazer divisões. “Eu não gosto de política […], não gosto de divisões e ele (Trump) não me representa.”

Próximo dos 40 anos de carreira, Muir comentou sobre a longevidade do Suicidal Tendencies: “Quando comecei o Suicidal, queria algo novo, que ninguém estava fazendo. Havia coisas que eu gostava no metal e no punk. O primeiro show de punk que fui, achei o máximo! O segundo foi uma porcaria. Se tivesse ido nesse segundo antes, provavelmente não tocaria como hoje (rs). Foi quando percebi que o rótulo não era o mais importante, mas sim o conteúdo, é fazer o que eu quero e não tentar me encaixar. Meu pai sempre disse que quem tenta se encaixar é porque não consegue se destacar”. Crítico, Mike Muir comentou ainda sobre o aprendizado com o passar dos anos e obsessão por evolução: “No início as revistas nos criticavam por não sermos punks ou metal o bastante. Tentamos evoluir álbum após álbum e não soar como uma banda nostálgica. O que queremos passar ao público, seja para quem nos vê pela sétima vez ou pela primeira, é que ninguém acredita mais no que fazemos do que nós mesmos”.

O mais falante durante a coletiva, Muir comentou sobre a diferença do público no decorrer dos anos: “Acho que a principal diferença é a violência. No começo, você podia ir de carro para um show e já avistava carros de polícia há uns dez quarteirões de distância, prontos para “partir para porrada”. Muita gente diz para mim que gostaria de ter vivido aquela época e eu sempre respondo que ela está enganada, que teria medo. Era (uma época) muito diferente. Hoje em dia os pais levam os filhos aos shows, aquilo não existe mais, era como um filme de terror.”

Ainda sobraram comentários sobre temas dos mais diversos. Sobre Rob Trujillo, baixista do Metallica o qual já passou pelo Suicidal Tendencies, Mike revelou que conversa constantemente com Rob e inclusive o parabenizou pela turnê de seu filho, Tye, com o Korn, e brincou dizendo que o atual Metallica sempre teve mais paciência com crianças do que ele. A respeito das mídias digitais, Dave Lombardo revelou que opta em conhecer bandas através da indicação de amigos do que procurar coisas novas por conta: “por exemplo, vou na loja, ouço os discos e se gostar, compro, simples assim”. Já Muir chamou atenção ao comentar sobre os “atores do meio musical”, referindo-se a bandas que não entregam sentimento em suas músicas, parecendo mais como atores sobre o palco.

Solicitos, os músicos posteriormente atenderam veículos particularmente e pousaram para fotos junto aos presentes. O Suicidal Tendencies fará quatro apresentações na América do Sul, sendo três delas no Brasil: a primeira na quinta-feira (27/04) no Rio de Janeiro, seguindo para Recife na sexta-feira (28/04) e por último em São Paulo, no sábado (29/07). Na capital paulista, a performance será válida pelo projeto HonorSounds.

Confira abaixo mais imagens da entrevista coletiva (agradecimentos especiais à Damaris Hoffman e Costábile Jr.).

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