Hell In Rio – 05-11-2016 – Rio de Janeiro (Terreirão do Samba)

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Texto por Rodrigo Gonçalves – Fotos por Arony Martins – Edição por André Luiz

O Brasil tem se notabilizado por possuir uma boa cota de festivais de música, alguns deles são inteiramente dedicados a um determinado estilo, outros buscam mesclar sonoridades diversas, mas festivais inteiramente dedicados à música pesada ainda são artigo raro por aqui, principalmente no Rio de Janeiro.

Esta situação mudou graças ao recém-criado festival Hell in Rio, o qual em sua primeira edição levou um bom público ao Terreirão do Samba, localizado no centro da cidade. É isso mesmo, o evento foi realizado em um local que tradicionalmente abriga o samba, mas qualquer um com mais de 10 minutos de Rio de Janeiro sabe que por aqui esta situação trata-se de algo absolutamente normal e que os dois estilos naturalmente coexistem e coabitam locais na cidade – alguns dos maiores shows de rock que essa cidade já viu foram realizados na praça da Apoteose, por exemplo.

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O festival Hell In Rio é uma iniciativa da THC Produções e visa promover o rock, dando espaço tanto às bandas novas quanto aquelas já consagradas em um evento o qual ofereceu excelente estrutura para o público e artistas, além de apresentar-se muito bem organizado. Para primeira edição foram convocadas 17 das melhores bandas do cenário nacional, que foram sugeridas à organização através de manifestações dos fãs nas redes sociais. As bandas foram divididas em dois dias de festival, com o Sepultura e o Angra (após uma troca com o Matanza anunciada no domingo, 06) sendo headliners em cada uma das datas.

Hell In Rio – 1º dia
Uma frente fria apareceu quando menos se esperava, o sábado de sol esperado deu lugar a um dia inteiro de muita chuva, algo que não havia ocorrido na cidade em 2016 até então. Bruno Sutter, mestre de cerimônias do evento, disse ao público, de forma muito bem-humorada, que toda aquela chuva aconteceu porque São Pedro não havia gostado muito do nome do festival. A verdade é que seria muito pouco provável que o Santo em questão não fosse gostar do que estava por vir. No decorrer do evento a chuva cessaria, e tanto o público quanto São Pedro bateriam “muita cabeça” com cada uma das bandas que desfilariam seus acordes no palco do Hell in Rio.

Reckoning Hour & Perc3ption
Encarregada da tarefa de abrir o festival, a banda local Reckoning Hour se saiu muito bem mesmo tendo de atuar em condições adversas. Pouco tempo antes da banda subir no palco, uma chuva torrencial acometeu o Rio de Janeiro. Em pouco mais de meia hora em cima do palco, a banda realizou uma apresentação segura e competente. Pena que foi bastante prejudicada pela chuva incessante, a qual acarretou no pouco quórum para testemunhar o show. Logo em seguida foi a vez do Perc3ption subir ao palco e mostrar o seu som para os cariocas. A banda sofreu um pouco com um som que em um primeiro momento enterrou a voz do vocalista Dan Figueiredo, e em seguida a deixou alta demais, ofuscando os demais instrumentos. Mas no geral foi um bom show que deixou uma excelente impressão. 

O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos
O Dr. Mao, lendário nome da cena punk de SP, foi a primeira banda a realmente empolgar o público do festival. Para quem não sabe, a banda nada mais é que uma espécie de nova encarnação do lendário Garotos Podres sob a batuta do vocalista Mao e do guitarrista Cacá Saffiotti. Durante o show, não faltaram discursos sobre política e a situação atual do país e no setlist, não faltaram clássicos do Garotos Podres como “Papai Noel Velho Batuta” e “Fuzilados da CSN” os quais nortearam a apresentação, e fizeram a alegria do público, que respondia não parando um segundo sequer nas várias rodas que se abriram na pista. 

Oitão
O Oitão, um dos maiores nomes do cenário hardcore nacional na atualidade foi a quarta banda do dia a se apresentar. Impulsionados por uma boa combinação de luz, público e o melhor som do dia, além da chuva que deu uma trégua muito bem-vinda, a banda liderada pelo frontman Henrique Fogaça exibiu ao público carioca músicas de sua carreira como “Podridão Engravata” e “Não Me Entrego”, além de covers bem escolhidos como “Vida Ruim” do Ratos de Porão e levantou o público com um excelente show, seguramente um dos melhores do primeiro dia de festival.

Claustrofobia
Sem tempo a perder, o Claustrofobia entrou em cena disposto a demonstrar porque é um dos nomes mais celebrados do metal nacional e pegou carona na boa atmosfera deixada pelo Oitão para cair nas graças dos cariocas. Os autointitulados representantes do metal maloka estiveram no Hell In Rio para divulgar as músicas de seu mais novo álbum, ‘Download Hatred’, lançado um mês atrás. A banda fez a alegria da galera com músicas como “Peste”, “Pinu da Granada”, “Metal Maloka” e “Bastardos do Brasil”. Discursos demasiados e uma certa “dificuldade” para encerrar o show fizeram a o público tomar fôlego entre uma música e outra, mas no geral, foi mais um bom show da banda em solo carioca.

Hibria
Um dos momentos mais esperados da primeira noite do festival, sem sombra de dúvida, era o Hibria. Fato comprovado pelo bom público que se aglomerou na frente do palco para acompanhar o show dos gaúchos. A banda, sucesso de público em outros países, principalmente no Japão, trouxe bastante headbangers para o festival e fez valer a condição de um dos protagonistas da noite. O show, embora curto, fez um apanhado da carreira do grupo com o destaque para músicas do álbum autointitulado lançado no ano passado, “Pain” e “Tightrope”, além das clássicas “Tiger Punch” e “Steel Lord on Wheels”. 

Dead Fish
Os capixabas do Dead Fish foram a antepenúltima banda da noite. Comemorando 25 anos de carreira, a banda teve que lidar com um público hostil antes mesmo de iniciar o seu show. Bastou a banda pisar no palco para o público começar a xingar, principalmente o vocalista Rodrigo Lima. Uma consequência do clima de Fla-Flu que tomou conta do cenário político atualmente, no qual pessoas simplesmente não aceitam opiniões divergentes. Em cima do palco, nada disso pareceu importar para a banda e o vocalista não cedeu à pressão ou retribuiu os xingamentos. Ao invés disso, a banda respondeu com sua música e realizou uma apresentação energética. Assim como no show do Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos, não faltaram discursos e comentários sobre política e sobrou até tempo para uma cornetada do vocalista Rodrigo Lima à campanha do Flamengo no campeonato brasileiro (comentário bastante pertinente, diga-se). Felizmente também não faltaram “porradas sonoras” como “Selfiegofactóide” e boas canções como “Proprietários do Terceiro Mundo” e “Tão Iguais”, dedicada ao prefeito eleito do Rio de Janeiro.

Almah
O Almah, um dos headliners do primeiro dia de festival, retornou ao Rio de Janeiro após dois anos afastado dos palcos da cidade. A banda atualmente está divulgando o novo álbum, ‘E.V.O.’, o qual emprestou três músicas para o setlist – “Age Of Aquarius”, “Speranza” e “Higher”. O disco mais recente demonstra a sonoridade característica da banda, com um estilo de som que em muitos momentos lembra o passado de Edu Falaschi com o Angra mas que não deixa de mostrar elementos diferenciados e modernos, como em “Speranza”. Embora o material autoral do Almah tenha tido uma boa recepção, o público pareceu responder melhor quando a banda executou dois covers do Angra, principalmente “Nova Era” a qual contou com participação do vocalista Fabio Lione no palco.

Sepultura
Encarregado de encerrar a primeira noite do festival, o Sepultura subiu ao palco com uma boa dose de atraso do horário inicialmente marcado para o início do show. Como resultado, em um primeiro momento a banda se deparou com um público bastante cansado, mas bastou a banda começar o show para que o panorama mudasse. O Sepultura que se encontra numa extensa turnê de comemoração aos 30 anos de estrada (agora já batendo nos 32) e está prestes a lançar um novo álbum – ‘Machine Messiah’ – no começo do ano que vem, baseou o set list em um bom apanhado de músicas da sua extensa carreira. Curiosamente, as músicas da fase mais recente como “Kairos” e “Breed Apart”, parecem ter encontrado mais ressonância com o público do que clássicos como “Troops Of Doom” – encarregada de abrir o show – e “Desperate Cry”, apenas para ficarmos em dois exemplos. Os sucessos da primeira fase da banda ainda têm o seu lugar, mas com arranjos um pouco diferentes, acabam de certa forma ficando descaracterizados. A parte final do show foi quase que inteiramente dedicada a clássicos como “Beneath The Remains” e “Arise” fazendo a alegria do público, antes do encerramento com o duo do álbum ‘Roots’ – o qual completou 20 anos em 2016 – “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”. Um fim apoteótico com canções de um dos álbuns mais importantes da carreira da banda, encerrando em alto estilo o primeiro dia de Hell In Rio. Agradecimentos à THC pela produção do evento, Isabele Miranda e Costábile Jr. pelo credenciamento de nossa equipe.

 

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