Texto por Arony Martins – Fotos por Rodrigo Gonçalves – Edição por André Luiz
Nem o frio, muito menos a atmosfera eleitoral seria capaz de afastar o fiel público do Ratos de Porão de mais um encontro em um local que parece ter sido criado exatamente para aquele, que independente do número de presentes, foi um grandioso evento: o Circo Voador. E eis que de volta ao Rio de Janeiro, o palco do Circo recebeu o tradicional grupo paulista, acompanhado de dois nomes desconhecidos do grande público, mas que tornaram a festa de comemoração de 25 anos do clássico álbum ‘Anarkophobia’, uma grande noite.
Abrindo os trabalhos, a banda Enterro trouxe ao Circo um black metal super bem azeitado, com um instrumental bastante competente e bastante influenciado por outras vertentes do rock pesado. O quarteto carioca formado por ex-integrantes da também carioca Matanza (o baixista China e o guitarrista Donida) teve a responsabilidade de aquecer o ainda reduzido público presente e não fez feio. O grupo apresentou seu repertório em pouco menos de uma hora, durante o qual pôde mostrar canções autorais como “Excommunicated”, “The Bell Of Leprous” e “Corrosive Storm”.
Hora e vez da atração internacional da noite, e uma boa oportunidade para conhecer uma tradicional banda norte-americana de Punk/Hardcore. Completada pelo baixista Juninho do Ratos, podemos dizer que a McRad é o filho primogênito e mais querido do guitarrista e renomado produtor musical Chuck Treece. Curioso que mesmo tendo o som da banda uma característica mais análoga ao repertório que viria a ser mostrado por João Gordo e cia, a apresentação do trio estadunidense foi relativamente fria, sem qualquer trocadilho com as condições meteorológicas da cidade naquele momento. A qualidade bem elevada das canções e a reunião de músicos muito bons, não foi o suficiente para que a McRad conseguisse tirar do público carioca o máximo de sua energia e infelizmente deixou o palco do Circo Voador como um mero figurante. Mesmo assim não dá para deixar de enaltecer boas músicas executadas pelo grupo como “Tomorrow’s Headline” e “Son”.
Passavam de uma hora da madrugada e aqueles que eram os mais aguardados adentraram ao palco para o que estava combinado desde o início, executarem na íntegra o álbum ‘Anarkophobia’. Lançado em 1991, aquele que era o quinto trabalho de estúdio do grupo paulista trazia aos fãs a mesma pegada de sempre, um álbum bastante pesado. Porém atualmente com algumas pitadas de Thrash, o que elevou o som da tradicional banda de hardcore brasileira a um patamar mais maduro com certeza.
As dez primeiras músicas executadas por João Gordo, Jão, Juninho e Boka seguiram a ordem do álbum aniversariante. Com muito peso, canções como “Anarkophobia”, “Escravo da TV” e o belo cover dos Ramones “Commando” foram lembradas e cantadas por todos os presentes. Duas faixas foram objeto dos sempre muito interessantes comentários do vocalista João Gordo: em “Morte ao Rei”, lembrou do atual presidente golpista – era algo quase que esperado –, assim como gritos e mais gritos de “Fora Temer” os quais ecoaram pelas dependências do Circo Voador; enquanto em “Igreja Universal”, a lembrança àquela altura candidato à prefeito da cidade Marcelo Crivella, e sua controversa vida política, também foi algo que arrancou aplausos dos fãs da banda.
Ao fim da primeira parte do set, o Ratos trouxe ao Rio um encore pra lá de recheado, com grandes músicas de sua extensa carreira. Petardos como “Conflito Violento”, “Beber até morrer”, “Crucificados pelo sistema” e “Crise Geral” deram a tônica da segunda parte do show e fizeram com que os presentes exigissem ainda mais músicas a ponto de em um determinado momento João Gordo dizer ao público: “a gente até toca mais, o problema é que só vai sair as mesmas de sempre, a gente nunca para pra ensaiar, não sai nada novo”. A verdade é que não importava se eram músicas novas, velhas, inéditas ou repetidas. O que o público sempre quer é rock. E isso o Ratos de Porão sabe fazer com muita honestidade. Agradecimentos a Rê Reis e assessoria de imprensa do Circo Voador.
Set List Ratos de Porão:
Contando os mortos
Morte ao rei
Sofrer
Ascensão e Queda
Mad Society
Ódio 3
Anarkophobia
Igreja Universal
Commando
Escravo da TV
Conflito Violento
Morrer
Crocodila
Crucificados Pelo Sistema
Amazônia Nunca Mais
Máquina Militar
Paranóia Nuclear
Realidades Da Guerra
Aids, Pop, Repressão
Beber Até Morrer
Crise Geral