Texto por Clayton Franco – Fotos por Julio Szoke – Edição por André Luiz
Domingão. Para muitos um dia calmo para se descansar, curtir a família, assistir futebol na televisão. Mas não o domingo, 13, data atípica para a cidade de São Paulo, por dois motivos. O primeiro, estampado na grande mídia: a grande manifestação anticorrupção que levou milhares de pessoas à Avenida Paulista. O segundo motivo, um pouco menos conhecido, mas muito importante para a público headbanger brazuca: o show de duas lendárias bandas dos primórdios do metal, que arrastou fãs de várias gerações para ver – o que posso dizer sem medo de errar – UM ENCONTRO HISTÓRICO E UMA NOITE MEMORÁVEL! Divulgado há alguns meses na mídia, o encontro histórico entre as bandas Picture e Tygers Of Pan Tang ocorreu no Brasil com shows no Rio de Janeiro, Curitiba, Limeira e São Paulo – este último, fechou com chave de ouro a tour nacional no Carioca Club.
As 19h em ponto, conforme anunciado previamente, Tygers Of Pan Tang iniciou o seu set com “Euthanasia” abrindo o show com um dos melhores petardos do debut do grupo (Wild Cat, 1980), emendando com “Love Don’t Stay”, outra das antigas, do terceiro álbum do grupo (Crazy Nights, 1982). Uma rápida parada, o vocalista Jacopo Meille cumprimentou a todos e confessou o quanto estava gostando da passagem pelo nosso país. Tendo a difícil tarefa de substituir os vocais gravados por Jess Cox e John Deverill, Jacopo demonstrou-se confortável no posto. Com uma voz contagiante e rasgada (combinando perfeitamente com o Metal NWOBHM praticado pelo grupo), o cara esbanjou simpatia e competência em canções como “Gangland” e “Wild Catz”. Segurando a cozinha, Craig Ellis comandou as baquetas com uma mão firme e pesada como demonstrado em “Rock ‘N’ Roll Man”, completamente entrosado com Gavin Garay o qual demonstrou sua precisão e rapidez nas quatro cordas nas músicas “Never Satisfied” e “Keeping Me Alive”.
A apresentação do Tygers não foi um show de abertura. As duas bandas excursionavam em conjunto, dividindo o mesmo tempo no palco e toda produção, ou seja, tivemos muito tempo para desfrutar de um set list extenso tocado pelo Pan Tang durante a noite. Não há como não se impressionar com a técnica de Robb Weir (membro fundador do grupo e único da formação clássica) demonstrada em “Killers” e em “Rock Candy”. E as dobradinhas nas guitarras de Robb com Micky Crystal em músicas como “Don’t Stop By” e no medley de “Insanity” com “Suzie Smiled”, demosntrando o entrosamento perfeito entre a antiga geração fundadora do grupo e o membro mais recente na fileira do Tygers (Micky entrou para o grupo em 2013).
Enérgicos no palco, encerraram a primeira parte do seu set com “Raised On Rock” e “Hellbound”. Sem perder tempo, voltaram para o bis com “Don’t Touch Me There”, uma das canções que mais empolgou o público da noite. Encerraram a noite com “Love Potion nº 9”, um cover despretensioso do The Clovers. Pela sua primeira passagem no Brasil, com certeza o grupo matou a vontade de muitos fãs antigos de assistirem tantos clássicos sendo executados ao vivo in loco.
Set List Tygers Of Pan Tang:
Euthanasia
Love Don’t Stay
Gangland
Wild Catz
Rock ‘N’ Roll Man
Never Satisfied
Keeping Me Alive
Killers
Rock Candy
Don’t Stop By
Insanity / Suzie Smiled
Raised On Rock
Hellbound
Don’t Touch Me There
Love Potion No. 9 (cover do The Clovers)
A troca de palco foi rápida, em cerca de 20 minutos o Picture adentrava ao palco com uma introdução clássica já utilizada pelo Maiden em suas tours. Sob gritos dos presentes, o grupo mostrou a que veio abrindo o show com “Griffons Guard the Gold” (clássica canção do Eternal Dark, 1983). Com um rápido “boa noite” para o público, Pete Lovell encaminhou a dobradinha “Message From Hell” e “Diamond Dreamer”, demonstrando que a noite seria repleta de clássicos antigos. Sorridente com a noite que mal começava, Lovell disse o quanto estava feliz por tocar novamente no Brasil e cumprimentou os presentes antes de anunciar “You’re All Alone” seguida pelo clássico absoluto do grupo “Eternal Dark”. E se a noite prometia apenas canções antigas, ainda tivemos “Make You Burn” e “Heavy Metal Ears”. A história da banda estava ali, sendo tocada na frente de todos, como se estivéssemos vivenciando um show no auge dos anos 80.
Não pude deixar de me focar na desenvoltura como Rinus Vreugdenhil se portava no palco. Devido a acontecimentos do ano passado, queria saber como ele se apresentaria no show. O grupo esteve no Brasil em 2014 e seu show foi tão visceral que foi prometido que voltariam em 2015. Infelizmente Rinus sofreu um AVC e precisou recuperar a fala e os movimentos do braço direito. Felizmente vi que sua recuperação foi completa, pela maneira como agitava no palco em canções como “Bombers” e a agilidade nos dedos em “Choosing Your Sign”. Seu parceiro na cozinha, Laurens Bakker, mesmo preso atrás de todo o kit da bateria, agitava sem parar durante todo o show, jogando as baquetas para o ar e levantando para pedir aplausos para o público. Sua batida característica soava pelo Carioca Club e podia se sentir o peito vibrando em “Unemployed”
A dupla formada por Andre Wullems e Mike Ferguson nas guitarras são os membros mais novos do grupo. Talvez exatamente por isso, possuem uma agilidade no palco e grande empatia com a plateia. Em “Battle Plan” pudemos ver a dupla vindo a frente do palco tocando o mais próximo possível do público e jogando palhetas aos presentes. O final do show já se aproximava com “The Blade” e para encerrar a primeira parte do show, tivemos outro petardo do Eternal Dark: “Battle For The Universe”. Não houve muito tempo para o bis, sendo ovacionado pela plateia aos gritos de “Picture”, rapidamente o grupo voltou ao palco com “Into the Underworld” e sem dar tempo para os fãs respirarem finalizaram a noite com “Lady Lightning”.
Que noite meus amigos. Apenas isso que posso dizer. A casa se esvaziava aos poucos, já que muitos ainda dependiam do transporte público para voltarem para suas casas. Ponto positivo para o horário dos shows, que acabaram a tempo de todos utilizarem o metrô. Eu ainda fiquei um tempo parado, olhando para o palco e me lembrando de alguns momentos do encontro histórico que pude presenciar. Ainda estamos no começo do ano, e este evento já concorre para ser um dos shows mais crus e viscerais que verei durante o ano. Fica aqui meus agradecimentos para Silvio Rocha (Open The Road) por trazer a tour para a América do Sul, ao Julio Viseu (Radio Corsário) pela produção do show em São Paulo e ao Costábile Salzano Jr (The Ultimate Music) pelo credenciamento e atendimento de nossa equipe.
Set List Picture:
Griffons Guard The Gold
Message From Hell
Diamond Dreamer
You’re All Alone
Eternal Dark
Make You Burn
Heavy Metal Ears
Bombers
Choosing Your Sign
Unemployed
Battle Plan
The Blade
Battle For The Universe
Into The Underworld
Lady Lightning