Texto por Arony Martins – Fotos por Arony Martins – Edição por Rodrigo Gonçalves e André Luiz
Pela quarta vez somente esse ano na cidade, a banda Raimundos aterrissou no Circo Voador para desfilar uma série de clássicos mais uma vez ao seu fiel público que em bom número ocupou as dependências da tradicional casa carioca e fez com que a Lapa, reduto boêmio, fosse mais uma vez território do bom e velho rock and roll. Mas não teríamos somente a presença dos músicos que iniciaram sua trajetória em Brasília ainda nos anos 80. O Circo receberia ainda a presença ilustre de uma nova banda: Bula.
Formado pela baixista Lena Papini, o baterista André Pinguim e Marcão, guitarrista original do Charlie Brown Jr., o Bula trouxe ao Circo um repertório que mesclou sons compostos pela banda e grandes clássicos do grupo onde o guitarrista ficou nacionalmente conhecido. Com uma apresentação soberba e repleta de canções conhecidas pelo público presente, o show foi bem mais do que um aquecimento e seria injusto relega-los ao papel de banda de abertura simplesmente. O trio, que a todo momento interagiu de forma intensa com os fãs, mostrou um trabalho autoral bastante interessante, pesado e em alguns momentos visceral. Naturalmente é sensível a influência de Charlie Brown Jr. em temas como “Ela nasceu pra mim”, “Em Algum Lugar”, “Voar com você” e “Não estamos sozinhos”. Todavia isso em nenhum momento representou ou representa qualquer decréscimo na qualidade do trabalho oferecido pela banda.
Todavia os pontos mais altos do show, seguramente, foram quando o trio trouxe ao palco canções da banda original de Marcão. Músicas como “Proibida pra mim”, “Papo Reto” e “Te levar”, deram a tônica do que foi a primeira parte da noite que prometia muito mais ainda. Para deleite dos fãs o grupo ainda apresentou “Get Free” da banda The Vines e “Highway To Hell” do AC/DC, essa última cantada pela baixista Lena Papini. Com um som bem redondo e encaixado, o Bula tem seu caminho facilitado, com certeza, pela presença de Marcão. Entretanto a competência demonstrada na apresentação do último sábado demonstra que a banda será muito mais do que um grupo que tem como integrante o guitarrista que foi de uma banda querida e famosa.
É muito curioso quando se percebe que os Raimundos foi uma das bandas que você mais ouviu na sua adolescência, mas que você nunca tinha os visto ao vivo. E mais interessante ainda é saber que seu debut é carregado de algumas responsabilidades. Pois bem, aqui estamos para relatar não somente uma apresentação de uma das bandas, na minha humilde opinião, mais influentes e bem-sucedidas do nosso país, mas sim uma ótima experiência. Já são quase 15 anos do início das mudanças drásticas que a banda viveu. A saída de Rodolfo e Canisso. A saída de Fred. O retorno de Canisso. Doze anos sem gravar um material novo. Enfim, em meio a tudo isso os Raimundos sobreviveram e com uma formação bastante sólida fazem hoje apresentações tão boas quanto àquelas da década de 1990.
A porradaria, como podemos assim dizer, começa já com talvez um dos maiores clássicos, senão o maior da banda “Puteiro em João Pessoa”. Era o prenúncio de uma noite pra lá de quente e pesada. Chama muita a atenção o quanto Digão evoluiu como cantor. As músicas soam muito bem com seu timbre, tendo o guitarrista personificado muito bem o conceito da banda e não deixando qualquer fã sentir saudade do antigo vocalista. Isso foi demonstrado por diversas vezes quando o público presente gritava com muita força “Ei Rodolfo, vai tomar no c…!!!”. Em dado momento o baixista Canisso disse ao microfone “A religião não permite!”, sendo acompanhado por Digão “Nossa religião é o Raimundos!!”, levando a loucura o público que lotou a pista do Circo.
A apresentação foi um verdadeiro desfile de grandes clássicos da banda que se concentram basicamente em dois álbuns: ‘Raimundos’ e ‘Lavô Tá Novo’. Temas como “Nega Jurema”, “Selim”, “Palhas no Coqueiro”, “Esporrei na Manivela”. Canções dos álbuns da fase final com Rodolfo também foram lembrados como “Me Lambe”, “Reagge do Maneiro”, “Mulher de Fases” e “A Mais Pedida”, tendo essa última inclusive sendo cantada pelas irmãs gêmeas Susan e Sylvia, integrantes da banda carioca Pick que foram convidadas por Digão para dividir o palco com a banda. Do período mais recente do grupo “Gordelícia” e “Baculejo” representaram outro trabalho do grupo: ‘Cantigas de Roda’.
Assim como o Bula, Digão e companhia também trouxeram ao palco do Circo covers. Músicas como “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana e “Seek And Destroy” do Metallica, além da introdução de “Two Minutes To Mindnight” do Iron Maiden, deixaram ainda mais ensandecidos os fãs presentes.
Para surpresa geral, ao final do show Digão convidou ao palco os integrantes do Bula e também o rapper carioca Bnegão, que já havia subido ao palco para cantar com a banda, para uma Jam Session. Na verdade, talvez a mais aguardada música da noite seria tocada naquele momento. E então as primeiras notas do baixo de Canisso indicavam que mais porradaria estaria por vir. “Eu quero é ver o oco”, provavelmente o tema mais lembrado do álbum ‘Lavô Tá Novo’ ainda ganhou um item a mais: o virtuoso solo de Marcão. Um final apoteótico para uma bela apresentação deixando o público presente seguramente mais uma vez satisfeito e esse que vos fala feliz por ter visto pela primeira vez alguns de seus heróis de adolescência ao vivo. Agradecimentos ao Circo Voador pela produção do evento e Rê Reis pelo credenciamento de nossa equipe.