Rock in Rio: um festival genuinamente de rock?

The Hollywood Vampires - Rock in Rio - set-2015 - por I Hate Flash Rock In Rio Texto por Arony Martins – o conteúdo expresso reflete a opinião do autor, é de inteira responsabilidade deste

Inicialmente percebo que de dois em dois anos a mesma ladainha se repete… Ahhh mas esse festival não é de rock, não tem rock como em 1985 e bla, bla, bla… Enfim, considero de certa forma até estúpida a insistência em algo tão vazio e que no fim das contas não tem qualquer representatividade em relação à proposta do festival. Proposta essa, inclusive, que se mantêm ao longo de 30 anos. Na primeira edição eu era uma criança de 4 anos de idade, não fazia ideia do que era um festival de música. Em 1991, já mais crescido e vidrado nas rádios tive oportunidade de conhecer grandes nomes da música mundial até aquele momento, mas nada ainda de participar de um evento desse porte. Todavia era possível perceber que um evento como o Rock in Rio dava a seu público a oportunidade de assistir artistas renomados, músicos de extrema competência. De 2001 pra cá já são 4 edições e uma enormidade de vontades e sonhos realizados acredito que para muita gente.

Me permito fazer essa análise em dois blocos, a primeira parte levando em consideração as três primeiras edições as quais tinham uma estrutura diferenciada da qual observamos hoje. Na versão clássica do festival tivemos em seu line-up bandas que iam desde o heavy metal mais tradicional ao soft rock. Nomes como Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Whitesnake, AC/DC, Queen, Yes, representantes do que chamamos de rock mais pesado. Enfim, puro rótulo já que trata-se antes de mais nada de música de elevadíssima qualidade. Completaram o cast internacional do festival Rod Stewart, James Taylor, Al Jarreau, George Benson, Nina Hagen, The B-52 e o menos expressivo The Go-Go´s. Em 1991 o festival trouxe Prince, Santana, A-ha, Joe Cocker, Faith No More, Guns ‘n Roses, Judas Priest, Queensryche, Megadeth, INXS, Billy Idol e os datados Information Society e Dee Lite. Já em 2001, foi a vez de Oasis, R.E.M., Foo Fighters, SilverChair, Sting, Dave Mathews Band, Sheryl Crow e do lendário Neil Young. Também marcou a volta de nomes como Iron Maiden, Halford, James Taylor e de uma versão reformada do Guns ‘n Roses. Nesse sentido, observando o peso de cada um desses nomes e levando-se em consideração o ineditismo do festival, é até compreensível que grande parte das pessoas tomem o mesmo como referência em sua análise comparativa e acreditem que os line-ups dos festivais mais recentes sejam bem inferiores aos três primeiros. Todavia tenho algumas boas razões para desmistificar essa ideia e mostrar que de 2011 para cá tivemos três excelentes festivais e com bandas as quais podemos dizer que foram até mais surpreendentes que as das primeiras edições.

Metallica - Rock In Rio - set-2015 - por Daniel Dias Approach

Faremos uma visualização dos festivais em ordem. O primeiro, que marcou o retorno do evento ao Rio de Janeiro ocorreu em 2011 e me recordo que ouvi de muita gente, inclusive deste que vos dirige a palavra, que o cast era no mínimo decepcionante. Eu tinha algumas razões para pensar assim. Entretanto, olhando hoje para elas após alguns anos e analisando-as friamente vejo que fui deveras superficial e com isso perdi ótimas oportunidades já que nessa edição só estive presente em um único dia. O line-up contou com renomados artistas tais como Elton John, Stevie Wonder, Jamiroquai, Lenny Kravitz, Maná, Red Hot Chili Peppers, Maroon 5 e Coldplay. O metal foi representado por Metallica, Motorhead e bandas com sonoridades mais modernas tais como Stone Sour, Slipknot e System of a Down. A novidade do evento foi o palco Sunset que com uma proposta diferenciada promovia encontros entre artistas, bandas e sonoridades distintas e que recebeu excelentes shows como Sepultura e Le Tambours du Bronx (que de tão bem sucedido ocupou um lugar no line-up do palco Mundo em 2013), Joss Stone entre outros. Os nomes supracitados à época salvo um ou outro exemplo representavam um significativo volume de popularidade e até hoje representam. Para muitos era a primeira oportunidade em ver suas bandas pra lá de favoritas, muitas delas que jamais haviam se apresentado por aqui ou há muito não aterrizavam em terras cariocas. E levando-se em consideração a diversidade na escolha, o festival até esse momento manteve a coerência em suas opções.

Já em 2013 as coisas tomaram um outro contorno. E com toda a certeza para os amantes do heavy metal sentir-se em um dos muitos festivais europeus não era nenhum exagero. Sabe-se lá se foi por pura coincidência ou algo muito bem pensado, o line-up da edição V do Rock In Rio no país trouxe grandiosíssimos e tradicionais nomes do rock em suas várias vertentes. Iron Maiden, Slayer, Metallica, Helloween, Bon Jovi, Alice in Chains, Rob Zombie, The Offspring, Marky Ramone, Michael Graves, Sebastian Bach e Destruction. Sem contar nomes mais recentes como Avenged Sevenfold, Ghost, Muse, Nickelback, Thirty Seconds To Mars e Florence and the Machine. E como sempre nomes mais “softs” como Matchbox Twenty, John Mayer, George Benson, Ben Harper, e o mais que renomado Bruce Springsteen. Um verdadeiro desfile de ótimos shows e sonhos realizados com toda a certeza. E o rock foi muito bem representado. Pense, quando você teria a oportunidade de ver tantos nomes de uma só vez? Estive em três dos dias e saí com a sensação de que minha reclamações até aquele momento não faziam qualquer sentido. E veio a edição 2015.

System Of A Down - SOAD - Rock in Rio - set-2015 - por I Hate Flash Rock In RioI

O que dizer da edição que acaba de se findar? Primeiramente que a coerência nas escolhas continua a mesma. Segundo que é essa coerência que nos deu a oportunidade de assistir em loco ou pela televisão mais uma vez um desfile de grandes nomes. Terceiro que o festival erra quando promove certas homenagens que mais soam como desnecessários tapas-buraco, mas isso é outra discussão. Terceiro e meio, o festival erra quando insiste em alguns nomes como Queens Of The Stone Age. Terceiro e um terço, o festival erra ao insistir em tudo aquilo que Andreas Kisser faz, nem tudo é bom e o “De la Tierra” nos mostrou isso. Terceiro fatorial, o festival erra demais quando insiste em colocar alguns poucos nomes de qualidade duvidosa e reconhecimento ridículo tais como The Script, One Republic e outros de edições anteriores, mas também não vejo qualquer prejuízo à proposta. Quarto, o festival não erra quando mantêm artistas pop, isso sempre foi feito e nada trouxe de prejuizo à proposta do evento. Quinto: assistir nomes como Michael Kiske, Angra, Dee Snider, Ministry, Korn, Motley Crue, Metallica, Slipknot, Faith No More, Alice Cooper, Joe Perry, System Of A Down, Lamb Of God, Deftones, Moonspell, Nightwish… Além de serem tradicionais nomes do rock na história e terem vendido mais disco que imposto sonegado no Brasil, me fizeram mais uma vez sentir-me em um festival europeu de rock. Steve Vai e Camerata Florianópolis foi mais que um tiro certeiro, uma demonstração que se deve ter culhões para propor um line-up. E quanto ao soft rock nomes como Elton John, Seal, Rod Stewart, A-ha, John Legend e Al Jarreau falam por si só.

É realmente muito difícil considerar plausível que o Rock in Rio não seja um festival de rock. Volto a dizer nomes como Kate Perry, Rihanna, Beyoncé, Ivete Sangalo, não depõem contra o festival. Atraem seu próprio público e ocorrem em significativa menor proporção que os dias mais rockers. Afirmar que todos os nomes supracitados não representam o rock é de uma insanidade completa. Sempre gosto de lembrar que o rock é um dos estilos que mais flertam com outros estilos tais como Jazz, Blues e com o próprio Pop. Seria considerar que o rock não tem uma história própria e vou além, esse nomes aí foram quem fizeram a história do mesmo. Nas versões européias do Rock in Rio até Roger Waters e Paul McCartney se apresentaram. Nesse sentido entendo essa desnecessária discussão como a chatice de sempre bem característica de uma galera que pouco se movimenta pra mudar um dedo sequer da própria vida. Enquanto isso estamos tendo alguns de nossos sonhos realizados, e nessa edição eu tive vários. Até 2017.

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