Texto por Clayton Franco – Fotos por Felipe Buli – Edição por André Luiz
Um sábado à noite com prenúncio de chuva e ventos fortes em São Paulo. Nada melhor do que uma tempestade noturna para descrever o que foi o show do Camisa de Vênus realizado na Áudio Club no último dia 26 de setembro, direto naquilo que prometia, ou seja, um rock roll sujo, rasgado, com atitude, altas doses de riffs e letras contagiantes.
Por volta de 1h, já na madrugada de domingo, eis que surgiram no palco Célio Glouster na bateria acompanhado de Robério Santana no baixo completando a cozinha, e os guitarristas Leandro Dalle e Drake Nova (o filho do “cara”). De imediato já colocam o Áudio abaixo com a introdução de “Bota pra Fudê” e todos da casa gritando em coro o nome da canção. Junto da primeira estrofe da música, Marcelo Nova sobe ao palco para comandar o espetáculo e levar todos os presentes a cantarem em alto e bom som. Sem deixar esfriar, já emendam com “Hoje” seguida por “Bete morreu”. Essa trinca inicial já ditava como seria a ordem da noite: clássicos atrás de clássicos, para acabar com a garganta de todo o público.
Marceleza (como era chamado por Raulzito) se dirige ao público agradecendo a presença de todos e cumprimentando aos que lotavam o local. Conta um pouco sobre o retorno do Camisa que traz além dele, outro integrante da formação original da seminal banda de rock baiano, Robério Santana no baixo. Mas um show do Camisa não é um discurso, e Marcelo sabe disso, já reiniciando o show com “Rostos e Aeroportos” seguida por “Deus me dê grana”. É algo redundante, novamente eu citar que esta canção foi cantada a plenos pulmões por todos, mas os fãs do Camisa são assim… Nos áureos tempos dos anos 80, a banda não tinha muito espaço na TV (em uma canção escrita com Raul Seixas, Marcelo explica dizendo “eu não podia aparecer na televisão pois minha banda era nome de palavrão”), poucas canções alcançaram a grande mídia do rádio (talvez a única a tocar nas grandes rádios foi “Só o fim”) e haviam canções proibidas (como é o caso de “Silvia”), mas o grupo nunca precisou da grande mídia para se destacar e este é o grande legado do Camisa.
Seguindo esta premissa, o show continuava com intensa participação do público, cantando “Gotham City”, durante a qual um Marcelo desvairado corria pelo palco imitando um morcego. Tivemos a execução de “Passatempo” e “Negue” e o que se podia notar também na noite era a diferença das músicas executadas ao vivo se comparada com as versões de estúdio gravadas nos anos 80. A nova formação do grupo, com dois jovens e talentosos guitarristas trouxe um gás novo a banda, uma rejuvenescida no som do grupo, algo nítido nas canções pois elas transcorrem de maneira mais rápida e pesada, com grande distorção nos riffs. E os jovens provam que não apenas revigoraram o som, mas que estão em sintonia com Marcelo nas suas improvisações no palco, isso ficou claro na rápida brincadeira com “Trem das 7” do Raul e “Aluga-se” (único tributo ao Raul tocado na noite).
O show continuou com “A ferro e a fogo”, durante a qual as improvisações continuaram. Marceleza para um pouco o show e conta a história da próxima canção, dizendo que foi escrita por ele e Robério na estrada entre um show e outro. Estamos falando de “Eu vi o futuro”. Naquele ponto, o show foi rapidamente interrompido porque Marcelo resolveu dar uma bronca na galera que estava atrás fazendo rodas de pogo e moshpit, apertando as mulheres que estavam na grade. Em suas palavras “parem de ficar se esfregando em homem e procurem uma mulher para dançar e beijar”, demonstrando sua veia destiladora de ironias até na hora de dar broncas. Após a rápida parada no show, retornaram com uma das mais conhecidas canções do grupo, fazendo com que todos agitassem sem parar ao som de “Muita estrela, pouca constelação”, que foi emendada com a conhecida “Só o fim”.
E por falar em fim, o show já se aproximava de seus últimos momentos com “O adventista” e o clássico absoluto do grupo, “Simca Chambord”, que foi devidamente atualizada na parte que dizia “tudo isso aconteceu a mais de 20 anos” para “a mais de 50 anos”. Esta seria a parte na qual geralmente a banda sai do palco e após um tempo retorna ao palco para o bis, mas não, não em um show do Camisa. Quebrando as regras que não sabemos quem escreveu, o grupo não saiu do palco, Marcelo disse que eles não seguem cartilhas, não deixam o palco esperando aplausos e pedidos de retorno, pelo contrário, já ficam no palco para tocar cada vez mais. Perguntou se todos ainda gostariam de ouvir mais uma música, e diante da afirmativa gritada em uníssono tivemos mais uma pérola desbocada do Marcelo: “o povo não sabe de nada, eu não saí de casa para tocar só mais uma, o show ainda vai prosseguir com mais que uma”. Desta forma, “Silvia” levou a plateia a gritos ensandecidos durante sua execução. Durante as improvisações ao longo da canção, Marcelo recebeu um recado em papel escrito pela produção e lê em vóz alta dizendo que tem camisas e cds no jardim anexo a casa. Sem deixar passar batido, dá risada falando que tem que fazer a propaganda de seus produtos enquanto vai dobrando um aviãozinho no papel. Ao final da música substitui o verso “Silvia sua puta” por “vai de avião sua puta” fazendo sua dobradura voar por cima dos presentes, em mais um momento descontraído da noite.
O show se encerra com “Eu não matei Joana d’Arc”, na qual os gritos ensandecidos da galera encobriram os instrumentos no palco e Marceleza sorridente virou o microfone para os presentes que cantaram a música praticamente sozinha. Nada mais visceral que esta participação maciça em um clássico do grupo para encerrar a noite em que todos literalmente ‘botaram pra foder’! Agradecimentos à Áudio Club e Agencia Cartaz pela produção do evento e credenciamento da equipe Metal Revolution.
Set List Camisa de Vênus:
Bota Pra Fudê
Hoje
Bete morreu
Rosto e aeroportos
Deus me dê grana
Gotham City
Passatempo
Negue
Aluga-se
A ferro e fogo
Eu vi o futuro
Muita estrela, pouca constelação
Só o Fim
O adventista
Simca Chambord
Silvia
Eu não matei Joana d’Arc