Texto por André Luiz – Fotos por Rodrigo Monteiro – Edição por André Luiz
Realizada na fria e chuvosa noite de sábado (12), a nova edição do Asgard Fest ocorrida em São Paulo no Fofinho Rock Bar reuniu cerca de 350 pessoas para um evento que trouxe na sua line up a banda mineira Lothlöryen com o show de lançamento em SP do álbum ‘Principles Of A Past Tomorrow’, o Celtic Black Metal da banda de Santos Opus Tenebrae lançando seu debut album autointitulado, o Folk Medieval da Olam Ein Sof divulgando DVD ao vivo, o Pagan Metal da Dark Inquisition que está em vias de lançar seu primeiro full lenght e o Folk Metal da banda Sankarah de Laranjal Paulista mesclando autorais com covers de Eluveite e Korpiklaani. Além dos atrativos musicais, o Asgard Fest contou com stands de bandas e exposições de artigos Viking/Medievais, duelos e lutas nórdicas pelo Clã Einherjar no intervalo dos shows, sempre regado ao bom e velho hidromel (sendo comercializado nas marcas Lord, Heindall, e da banda Lothlöryen).
O público ainda chegava ao local (em meio a paulistanos e caravanas de fora de SP) quando a Dark Inquisition pontualmente às 23h iniciou sua performance. Trata-se de uma banda de Pagan Metal formada no ano de 2000 na capital de São Paulo, que mistura a sonorização do metal extremo com levadas de música Folk e conta em sua line up com Malkafly (vocal e flautas), Rafael Tadeu e Eduardo Figueiro (guitarras), Brittus (bateria) e Michel Crisaor (baixo). A característica sonora da banda contrasta com a postura enérgica no palco, assim como os discursos descontraídos no intervalo das faixas: “Spirit Folk” por exemplo foi dedicada em homenagem a um fórum de discussões folk, brincadeiras com o baterista Brittus marcaram o início da faixa seguinte anunciada pelo frontman como “Exillium” na primeira resposta mais contundente do público que no dado momento já se encontrava numeroso na pista da Fofinho (incluindo os gritos de Daniel Abreu – vulgo ‘senhor confusão’ – de “Dark Esquisito” e o pedido de Malkafly para que ele não repetisse a invasão de palco do último show para evitar problemas).
Após menções a página do Facebook da banda, executam “Crusade” (com sua bateria excepcional), o cover do Amon Amarth “The Pursuit Of Vikings” iniciada pelo guitar Eduardo Figueiro, “Under Tree” dedicada à banda Sankarah, a faixa título do EP de 2007 “Pagan Age” expondo a faceta teatral do vocal on stage e a derradeira (e muito bem recepcionada pelos presentes) “Glorification Of The Evil” com discurso sobre o debut album e a batalha que é manter-se na música pesada. Por fim, a Dark Inquisition demonstrou durante os exatos 48 minutos que esteve no palco não apenas qualidade musical, mas uma disposição e garra característicos em bandas que almejam (e fazem por merecer) um maior reconhecimento (NOTA DO EDITOR: estaremos na espera do material com inéditas e de que seja superior ao ótimo EP de 2007).
Se o debut show iniciou no horário planejado, o segundo contou com 10 minutos de atraso (o primeiro de muitos que aconteceriam durante o evento). A Olam Ein Sof é um duo formado em 2001 pelos músicos Marcelo Miranda e Fernanda Ferretti, os quais criaram um repertório autoral inspirados na música medieval, renascentista, folk, mitologias diversas e mundo etéreo. Possuem alguns trabalhos de estúdio registrados sendo o mais recente o DVD ‘Live At Wave Summer Festival’ gravado durante o referido evento em fevereiro de 2015. “Convidamos a todos a viajar em nosso mundo dos infinitos”, desta forma Fernanda anunciou o início do show. Um candelabro com três velas vermelhas, incenso e o desfile de cânticos folk medieval deu-se início com faixas como “Lunar Star” (álbum ‘Ethereal Dimensions’, 2006), seguida por “Dança da Floresta”.
Em meio a alguns problemas de som especialmente no volume quase inaudível da flauta e charango de Marcelo Miranda, podemos destacar a faixa “Morrighan” (em especial o mandolim e a interação do público na base das palmas), “Invocando a Lua Azul” (do último trabalho de estúdio ‘Reino de Cramfer’, 2014) e a derradeira “Vimana”. O estilo peculiar do duo desperta interesse pela qualidade do material proporcionado por apenas dois músicos no palco, os quais mesmo fazendo uso de instrumentos como cistre, mandolim, flauta, violão e charango, chamam a atenção pela simplicidade com a qual executam as canções de seu repertório.
Entre as atrações principais do evento, a banda de Poços de Caldas foi a que mais acabou atrasando seu início (mesmo levando-se em conta que segundo o cronograma inicial, a banda anterior terminou no horário que os mineiros deveriam começar), apresentando-se pela primeira vez em São Paulo após o lançamento de seu novo álbum de estúdio, o trabalho conceitual ‘Principles Of A Past Tomorrow’, o qual fora viabilizado por uma campanha bem sucedida de financiamento coletivo. A Lothlöryen é composta por Daniel Felipe (vocal), Leko Soares e Tim Alan Wagner (guitarras), Marcelo Godde (baixo), Marcelo Benelli (bateria) e Leo Godde (teclado). Passado período de ajuste dos equipamentos, a intro “…A Journey Begins” deu início nos PA’s e a performance da banda mineira começou com “Heretic Chant” do mais recente álbum. Nova intro e “God Is Many”, também do trabalho de 2015, foi executada, seguida pelos agradecimentos ao público e produção, concluindo-se na execução de duas das faixas clássicas de seu repertório “My Mind In Mordor” (‘Some Ways Back No More’, 2008, álbum regravado anos mais tarde) e “The Bards Alliance” (‘of Bards and Madmen’, 2005).
Durante cerca de sessenta minutos de apresentação, os mineiros emedaram uma sequência de petardos passando por toda história da banda como “Face Your Insanity”, “The Night Is Calling”, “Hobbit’s Song” e finalizando com mais uma do mesmo álbum (‘SWBNM’), “Unfinished Fairytale “. Destaque negativo para backing vocals baixos e guitarra solo praticamente inaudível, positivo para interação banda/público incluindo tecladista saindo de seu posto para banguear no meio do palco e incitar os presentes que respondiam com aplausos e gritos. A trajetória de evolução musical da ‘Loth’ tem se mantido com o passar dos anos, somando experiência com mudanças na line up (especialmente do vocal) pode-se dizer que alcançaram momentaneamente seu ápice, mas após ‘POAPT’, alguém duvida que a banda de Poços de Caldas ainda possa surpreender positivamente? Definitivamente não…
Após tantos atrasos seguidos, literalmente desisti de registrar horários, mas a bem da verdade, a Opus Tenebrae entrou no palco mais de uma hora após a previsão de cronograma. Oriunda de Santos, a banda trouxe em seu repertório uma mescla de música Folk com Black/Death Metal característica, tendo há questão de semanas lançado seu debut full lenght, com a participação especial de May de la Peña (Galicia/Espanha) na gaita de fole. A performance no Asgard Fest seria a segunda de lançamento do CD em SP, logo após o show no Guaru Metal Fest em Guarulhos, evento com 800 pessoas que rendeu comentários muito positivos à Opus Tenebrae.. Destaques durante o show da Opus Tenebrae não faltaram: “Celtic Mistery” e tambores característicos do frontman Roberto, “Opera Mortis” com direito a discurso do vocal sobre evento autoral atraindo público bom em meio a noite chuvosa.
Antes do petardo “Exortus”, Roberto fez propaganda sobre material da banda sendo vendido a preço de custo pelo prazer de estar com as pessoas na festa (“porque todos nós trabalhamos e ganhamos nosso dinheiro, isso aqui é prazer”) e apresentou um a um os demais membros da banda: Rudolph Lomax (guitarras), Vinicius Molon (baixo), Gabriel Macieski (contra baixo acústico, backing vocals), Júnior Marquez (bateria e percussão), Marcelo Soutullo (gaita de fole), além dele próprio Roberto Opus (vocal, tambor celta e tin whistle). O show prosseguiu com faixas como “Aurea Hyspania” e “Under The Sign Of Caim”, encerrando o set com “Thereomorphic Encarnations” e o informativo de que estariam no stand para conversar com todos assim que finalizassem o show. Assim como mencionado anteriormente sobre a Dark Inquisition, a Opus Tenebrae é uma banda que transpira prazer pela música e assim o faz. Se faltava um registro da banda para demonstrar a força do que apresentam há anos nos palcos, o full lenght autointitulado está a disposição para que novos ouvintes possam conhecer a qualidade do Celtic Black Metal executado pela banda do litoral paulista.
Em meio a sequência de atrasos, logicamente a maior prejudicada acaba sendo a banda de encerramento do evento? Ledo engano… Oriunda de Laranjal Paulista, a Sankarah trouxe a um bom público ainda presente no dado momento seu material próprio calcado em influências como Eluveitie e Korpiklaani, bandas as quais inclusive fariam covers durante a apresentação. Diferentemente das demais atrações da noite mais tarimbadas na cena underground, Carolina (vocal e flauta), Diogo (vocal e guitarra), Helder (teclado e escaleta), André (violino), Alan (guitarra) e Rafael (bateria) trouxeram uma juventude ao palco com potencial para evoluir, que com alguns ajustes (de peculiaridades típicas de início de carreira) podem alcançar um patamar diferenciado. Faixas próprias como “I Stole A Kiss” e “Ashes To The Wind” foram mescladas a covers de influências dos músicos como “Vodka” do Korpiklaani, com destaques individuais dos mais variados, do teclado e flautas ao trio de cordas e bateria, os quais trabalhados em ensaios e essencialmente na melhor escola musical do mundo que se chama ‘palco ao vivo diretamente para o público’, tendem a se transformar em um conjunto redondo e alinhado. A principal lição ao ver a Sankarah é saber que novas bandas com potencial estão surgindo para manter acessa a chama do underground, um alento em meio a tanto ‘mais do mesmo’ que observa-se no cenário musical mundo a fora.
O saldo do festival acabou sendo positivo, em meio a atrasos em plena noite fria e chuvosa, o numeroso público presente prestigiou um evento apenas com bandas nacionais de música autoral nos brindando com material de qualidade, seja lançando álbuns novos como Lothlöryen e Opus Tenebrae, divulgando DVD como a Olam Ein Sof, em vias de lançar seu primeiro full lenght como a Dark Inquisition ou debutando demonstrando potencial de crescimento como a Sankarah, o Asgard Festival mais uma vez deixou sua marca. Agradecimentos especiais à Bruno Rufinoni e Newz Showz pela produção do evento e credenciamento de nossa equipe.