Texto por Arony Martins – Fotos por Allan Barata – Edição por André Luiz
Terça-Feira chuvosa, fria e sombria, não havia cenário melhor para as apresentações de duas bandas que têm em sua história uma significativa proximidade com esta ambientação. Paradise Lost e Anathema eram com toda a certeza nomes muito aguardados pelos fãs, e em bom número, esses estiveram no Circo Voador para prestigiar mais uma noite de muito rock.
Mesmo sendo considerados os criadores do Gothic Metal, o Paradise Lost ao longo de quase trinta anos de carreira flertou com diversos gêneros desde o metal tradicional ao eletrônico industrial. E isso ficou bem claro com o repertório apresentado pelo grupo em seu concerto. Divulgando seu último trabalho ‘The Plage Within’, a banda inglesa que quase não sofreu alterações no line up ao longo de sua existência, retornou ao Rio após um longo lastro de tempo (a última apresentação do grupo na cidade aconteceu em 1995) e fez a fria noite carioca ficar em diversos momentos ainda mais sombria. Com um set que explorou sonoridades mais densas como Doom e Death Metal, o Paradise Lost agradou muito o público presente.
Mesmo não sendo uma banda tão interativa com os fãs, o repertório de 16 canções foi o suficiente para que o show os marcassem para toda a vida. Para muitos, eu arriscaria para a maioria, essa foi a primeira vez que assistiram sua banda. Com músicas como “Tragic Idol”, “Enchantment”, “Victim Of The Past” e “Hallowed Land” o grupo britânico fez uma leitura de sua carreira incluindo o flerte com uma sonoridade mais comercial como em “Isolate”. No dado momento a pista do Circo Voador transformou-se quase que em uma pista de dança e este que vos fala se sentiu em uma festa do tipo DDK (Deutschland Dancefloor Klub), algo bem próximo do conhecido underground alemão.
Um ponto negativo da apresentação da banda foi (acreditem) a iluminação de palco. Tudo bem que a proposta e conceito do grupo é trabalhar o que há de sombrio, obscuro, todavia por diversos momentos era quase que impossível de observar por exemplo o guitarrista Aaron Aedy que sem qualquer spot de luz em sua direção ficou sumido em grande parte da apresentação da banda. Em alguns momentos o efeito ‘submundo’ foi até conseguido, mas em outros parecia que o grupo não tinha a sua disposição um iluminador profissional ou se tinha era alguém pra lá de amador. Mesmo assim o show agradou aos presentes que intensamente aplaudiram o conjunto ao final de sua apresentação. Toda empolgação era natural.
Após muitos anos de espera aterrisou pela primeira vez em solo carioca a banda Anathema (o máximo que os fãs tiveram da banda foi uma apresentação solo do guitarrista Danny Cavanagh acompanhado da cantora Anneke Van Giersbergen da banda The Gathering). Trazendo a tour de divulgação de seu último álbum ‘Distant Satellites’, lançado em 2014. Com uma sonoridade carregada de melodias dramáticas e uma sensível influência psicodélica pra lá de pink floydiana, o grupo de Liverpool esbanjou energia e simpatia em sua apresentação.
Mesmo com um set relativamente curto, o show de aproximadamente uma hora e quarenta minutos ao que parece deixou bem satisfeitos os fãs que estiveram presentes na melancólica noite de terça. Melancolia inclusive é algo que o Anathema entende, e muito bem. O repertório apresentado varreu a carreira da banda, todavia deixando de fora os três primeiros álbuns quando tinham uma sonoridade muito mais aproximada ao Doom Metal do que em seus trabalhos mais recentes. Interessante reconhecer que aos fãs fluminenses o Anathema trouxe um conjunto de canções diferentes das apresentadas em seus concertos em São Paulo e Porto Alegre. De seu último trabalho foram executadas “Anathema”, “Distant Satellites” e “The Lost Song, Part 1”. A fascinação do público pelo trabalho do grupo inglês era perceptível a cada música apresentada.
A grande maioria dos presentes cantavam com grande entusiasmo e a resposta da banda no palco era a mais interessante possível. Os músicos esbanjaram simpatia ao longo de sua apresentação. A todo momento buscavam interagir com os fãs, sempre tentando falar algumas palavras em português. Em dado momento o vocalista e guitarrista Vincent Cavanagh surpreendeu os presentes com um ‘Porra, Caralho’ carregado de sotaque, mas arrancando gritos, risadas e aplausos. Ao final da apresentação a banda recebeu no palco Nick Holmes, vocalista do Paradise Lost, para a execução de “Fragile Dreams”. Nick não pareceu muito inteirado em relação à canção e até certo ponto ligeiramente desconfortável. Contudo, como final de festa, passou despercebido dos fãs presentes que reagiram relativamente bem à quase ‘jam’ proposta pelo grupo britânico. Seguramente o que passa pela cabeça dos fãs da banda nesse momento é rezar aos céus que permitam que o Anathema não demore mais décadas para retornar à cidade maravilhosa. Agradecimentos especiais à Overload e assessoria do Circo Voador pela produção e credenciamento de nossa equipe na cobertura do evento.