Riverside – Shrine Of A New Generation Slaves
CD – Inside Out (2013)
Texto por Leko Soares – o conteúdo expresso reflete a opinião do autor, é de inteira responsabilidade deste
Edição por André Luiz
Relativamente desconhecidos por aqui, o Riverside possui uma discografia considerável e respeitada mundo afora. ‘Shrine Of A New Generation Slaves’ é o quinto álbum de uma linhagem evolutiva que se iniciou com o hoje “cult’ ‘Out of Myself’, álbum de 2004 que apesar de muito calcado no Prog Metal da época, já indicava alternativas e saídas para o som que desenvolveriam com maestria nos anos posteriores. Para situar melhor o leitor que ainda não conhece o som dos caras, as duas principais peças da discografia dos poloneses, ‘Second Life Syndrome’(2005) e ‘Anno Domino High Definition’(2009) transbordam a mistura de Prog Metal com elementos modernos referenciados por bandas da cena alternativa europeia.
Chegando finalmente ao álbum tratado nessa resenha, logo na primeira audição nota-se claramente que desta vez, os elementos modernos e alternativos assumiram a dianteira em relação ao Prog Metal de outrora. Em substituição ao termo “Metal”, o Riverside adicionou ao seu já característico som, doses consideráveis de Rock Progressivo Setentista, caminho esse já explorado por bandas como Opeth, Haken dentre outras e que tem se mostrado uma alternativa prolífica à nova cena europeia de Rock-Metal Progressivo. No caso dos poloneses em questão, a grande sacada que prevalece na sonoridade desse trabalho foi a mescla certeira entre as referências clássicas setentistas e a tendência mais moderna e acessível que a safra das chamadas bandas de Neo Prog tem apresentado.
Tudo neste ‘Shrine Of A New Generation Slaves’ se mostra necessário e de extremo bom gosto. O surpreendente início em “New Generation Slaves” guiado pelas sentenças entoadas por Mariusz Duda (baixo e vocal) apoiadas somente por sintetizadores já deixa claro o naipe da obra que se desenvolverá a seguir. “Celebrity Touch”, escolhida como clipe de divulgação do álbum à época, tem no seu riff principal o ponto de apoio para uma construção acessível, mas ao mesmo tempo apresentando segredos harmônicos em sua construção, como o peso adicional acrescentado inteligentemente pelos teclados de Michal Lapaj, trazendo à composição uma sofisticação mais do que bem-vinda. Outro momento mais moderno do álbum, com influências que remetem ao Pop Oitentista de Vanguarda mesclado ao Progressivo característico do Riverside é “Feel Like Falling”. Nessa música, o grande destaque fica novamente a cargo do extremo bom gosto dos sintetizadores alinhado ao tempo forte na segunda nota do compasso, tornando a música praticamente um mantra moderno que pode levar o ouvinte a um estado de transe, caso se atreva a colocar o som no repeat algumas vezes.
Porém, as peças chaves dessa masterpiece na minha opinião, são “The Depht Of Self-Delusion” e “Escalator Shrine”. A primeira resume bem a intenção sonora que permeia o álbum, pois mescla de forma magistral o clima eletro-acústico setentista aos arranjos e timbres modernos de todos os instrumentos. As linhas de baixo e guitarras limpas se entrelaçam em uma dança maluca que te deixa atordoado por não saber ao certo de onde está vindo a melodia principal. A mixagem dessa música é um destaque à parte, pois explora de maneira magistral os timbres híbridos de guitarras, violões e teclados e as nuances que deságuam em um rio de dinâmicas ao longo da faixa.
Por fim, chegamos à obra essencial dessa jornada: embora ainda haja tempo para uma pequena faixa no final (“Coda”, que reprisa a belíssima melodia de “We Got Used To“), “Escalator Shrine” é o verdadeiro desfecho desta obra. Comandada pelas linhas de baixo do líder Mariusz Duda, os 12 minutos calcados nessa mescla entre o passado e o futuro do Prog, passam tão rápido quanto a percepção entre o ponto em que a música sai da calmaria inicial para o final apoteótico que, de repente, se apresenta à nossa frente e nos obriga a admitir estarmos diante de uma obra com um nível de inspiração e cuidados muito acima do usual. Concluindo um álbum perfeito, o coro final entoando a frase “We can’t stop” parece nos servir como uma certeza e alívio de que: SIM, esses caras ainda tem muita lenha para queimar pela frente.
Conhecer a contemporaneidade e relevância de “Shrine Of A New Generation Slaves” é quase uma obrigação para qualquer amante de música que assim como eu, se sente incomodado com a avalanche de cópias pouco inspiradas do passado nos infestando todos os dias em novas embalagens de puro dèja-vú. Reverenciar o passado é necessário, mas que seja como faziam os renascentistas: renascendo o antigo para criar algo novo. O Riverside parece que aprendeu bem essa lição!
Integrantes:
Mariusz Duda – vocal, baixo, guitarra acústica
Piotr Grudzi?ski – guitarra
Micha? ?apaj – teclado
Piotr Kozieradzki – bateria
Faixas:
01- New Generation Slaves
02- The Depht Of Self-Delusion
03- Celebrity Touch
04- We Got Used To Us
05- Feel Like Falling
06- Deprived (Irretrievably Lost Imagination)
07- Escalator Shrine
08- Coda
Confira abaixo vídeo clipe de “Celebrity Touch”, lyric video para “The Depht Of Self-Delusion” e “Feel Like Falling” ao vivo: