Texto por Clayton Franco – Fotos por Rodrigo Monteiro – Edição por André Luiz
Um domingo frio de inverno marcou a passagem do America por São Paulo, mas nem mesmo a baixa temperatura ou os eventos que ocorriam simultaneamente na noite paulistana (Festival de Cultura inglesa e Virada Cultural) aliados à transmissão ao vivo do show na tv a cabo, não foram empecilhos para que os fãs desta banda deixassem de comparecer ao evento. Com uma simplicidade minimalista no palco (sem mudanças de pano de fundo, palcos elaborados ou firulas por trás das músicas), o grupo demonstrou que a combinação de ótimas músicas e efeitos de luzes de bom gosto são chaves certeiras para um show de rock.
Para quem não conhece, o grupo formado em Londres (sim, o grupo America é Inglês) cabe aqui uma pequena introdução. Nos idos anos 70, a banda foi formada por 3 amigos (Gerry Beckley, Dewey Bunnell e Dan Peek) que se revezavam nos vocais, guitarras, baixo e percussão. Praticando um folk rock que se tornou popular na época, o grupo ficou conhecido por sucessos como “A Horse With No Name” e “Sister Golden Hair”. Embora seus membros fossem americanos, o grupo foi constituído quando os integrantes moravam em Londres. Fazendo um tipo de som acústico e mais compenetrado, a banda foi uma das precursoras do Folk Rock em contraponto com os anglo-americanos que também se aventuravam no mesmo estilo (como Crosby, Stills & Nasch e o próprio Neil Young). Dan Peek deixou a banda em 1977 (vindo a falecer em 2011), mas o duo restante continuou o grupo com uma carreira prolífera recheada de clássicos. Portanto, o que pudemos presenciar no palco do Citibank Hall foi a história de folk sendo tocada por uma das bandas que ajudou a moldar o estilo.
Já se passavam das 20h30m quando Dewey Bunnell e Gerry Beckley subiram ao palco iniciando o show com a dobradinha “Miniature / Tin Man” do disco Holiday (1974). Demonstrando simpatia no palco, a banda distribuía sorrisos e acenos para o público que lotava parcialmente o Citibank Hall. Recheado de clássicos antigos do grupo (como “Don’t Cross The River” lançada em 1972) misturados com músicas mais contemporâneas (destaque para “You Can Do Magic” lançada em 1994), o show prosseguia passando com canções que contaram a história dos 45 anos do grupo.
Algo que os fãs mais atentos do grupo notaram, é que muitas canções executadas ganharam um tom um pouco mais “agressivo” (se podemos dizer assim) em sua execução ao vivo, diferindo muito das gravações de estúdio. Com exceção dos dois membros fundadores, a banda de apoio que acompanha o grupo é uma constante mutação (Richard Campbell é responsável pelo baixo desde 2003, mas Ryland Steen assumiu a bateria em 2013 seguido por Bill Worrell nas guitarras a partir de 2014). Essa mistura de antigos e novos integrantes é a responsável pela constante mutação das músicas do America, visto que cada músico deixa a sua marca registrada ao tocar as canções. Em nada esta situação desabona o grupo, pelo contrário, de certa forma essa “atualização” do folk praticado pela banda é benéfica aos concertos ao vivo e responsável por um jeito mais contagiante de executar uma canção antiga. Inclusive, esta situação gerou brincadeiras entre os membros no palco, já que Dewey Bunnell anunciou entre risos que uma de suas canções mais conhecidas, “Ventura Highway”, foi criada quando Bill Worrell nem havia nascido!!!
O show prosseguia com canções como “Here” e “Cornwall Blank”, mas também houveram espaços para o grupo homenagear alguns medalhões da música com seus covers. Tivemos a magnífica “California Dreamin’” (cover do The Mamas & the Papas) e “Til I Hear It From You” (cover de Gin Blossoms), mas o tributo que realmente tocou o coração de todos os presentes foi “Woodstock” (cover de Joni Mitchell) na qual antes de sua execução o grupo lhe desejou estimadas melhoras em sua recuperação e que o mesmo retornasse logo para o mundo da música (Joni sofreu um aneurisma cerebral a cerca de um mês e seu atual estado é consciente e com grandes chances de recuperação). Realmente, foi uma bela homenagem feita pelo America.
Um dos grandes momentos da noite foi a execução de “Only In Your Heart” com o público acompanhando Gerry Beckley na base das palmas durante a música e fazendo coro no refrão. Houve solo de gaita executada pelo mesmo Beckley, mostrando que ainda possui fôlego para tocar e cantar canções como “Lonely People”. E o show já se encaminhava para o final com “Sandman”, canção que Dewey Bunnell utilizou para apresentar todo o grupo, e Sister Golden Hair” (outra cantada em uníssono pelo público de forma a ‘cobrir’ o som da banda no palco).
O grupo retornou poucos minutos após para fechar o show com um bis que representou toda a história do grupo em duas canções. Demonstrando sua pegada mais recente, iniciou a segunda parte do show com “Dream Come True” (do último disco “Lost & Found” de 2015) e encerrando a noite com “A Horse With No Name” (do primeiro disco do grupo “America” de 1971). Incrivel como esta canção funciona ao vivo e representa toda a qualidade do grupo, com certeza o ápice do show e um dos momentos mais esperados por todos os presentes que a cantaram de início ao fim. Nada mais apoteótico para encerrar o espetáculo ocorrido no Citibank Hall. Deixo aqui meus agradecimentos finais a todos os nossos leitores que acompanharam esta resenha e à T4F que nos permitiu mais uma vez a cobertura de um grande show em terras paulistanas.
Set List America:
Miniature / Tin Man
You Can Do Magic
Don’t Cross The River
Daisy Jane
Riverside
I Need You
Here
Ventura Highway
Woodstock (cover de Joni Mitchell)
Cornwall Blank / Hollywood
Til I Hear It From You (cover de Gin Blossoms)
The Border
Green Monkey
Woman Tonight
Only In Your Heart
California Dreamin’ (cover de The Mamas & the Papas)
Lonely People
Sandman
Sister Golden Hair
Dream Come True
A Horse With No Name