Entrevista por André Luiz – Imagens por divulgação – Edição por André Luiz
Com mais de uma década de existência e em vias de lançar seu quarto full lenght de inéditas, a banda mineira Lothlöryen definitivamente dá um passo a frente na carreira com ‘Principles of a Past Tomorrow’. O novo trabalho da line up formada por Daniel Felipe (vocal), Leko Soares e Tim Alan Wagner (guitarras), Marcelo Godde (baixo), Marcelo Benelli (bateria) e Leo Godde (teclado) traz à tona a trajetória de Giordano Bruno em um trabalho minuciosamente detalhado: desde a arte até as letras e explicações sobre as músicas, cada fragmento encontrado nas canções faz parte de um quebra-cabeça que direciona ao conceito do álbum. Musicalmente falando, encontramos as influências características do folk/power metal dos três álbuns anteriores da banda mineira, porém com doses de progressivo que nos arremetem a um som mais maduro, sóbrio e ao mesmo tempo inovador, desafiador.
Leko Soares, um dos mentores do conceito que abrange ‘Principles of a Past Tomorrow’, em bate papo exclusivo com o Portal Metal Revolution, detalha sua visão sobre o conceito do álbum e processos que levaram até o trabalho final, assim como comenta sobre a cena atual no país e planos do Lothlöryen.
André Luiz – Olá Leko, obrigado por atender a equipe Metal Revolution. O Lothlöryen completa 13 anos de existência em 2015 com o lançamento do quarto full length inédito da carreira (sem considerar a regravação ‘Some Ways Back SOME More’). Desde o ‘…of Bards and Madmen’, álbum através do qual conheci a banda tanto resenhando quanto assistindo show (Vamp Festival, 2006, em São Paulo), nota-se uma evolução trabalho a trabalho, sem perder a essência folk. Quais os principais pontos em que você nota diferença entre a banda agora e 13 anos atrás?
Leko Soares – A diferença são 10 anos, que é o espaço entre o “…of Bards” e o novo álbum, rs. Em termos de amadurecimento musical, 10 anos contam muito e acredito que pegamos a “manha” de como arranjar nossas músicas para que soem melhores em estúdio e ao vivo. À época do “…of Bards”, nós pensávamos em preencher todos os espaços possíveis com dobras de guitarra e pilhas de backing Vocals. Hoje em dia, conseguimos distribuir de forma mais coerente e madura os arranjos das músicas, ora dando destaque à cozinha, ora aos vocais, ora aos teclados e ora ao silêncio de alguns instrumentos, algo extremamente importante para a dinâmica de uma música.
André – ‘Principles of a Past Tomorrow’ foi produzido por você e Tim Alan, gravado no Jack Studios (Machado-MG) e Bar dos Bardos (Poços de Caldas-MG), com mixagem e masterização feitas em São Paulo por Thiago Okamura no To-Mix Studios. Qual a motivação da gravação em dois locais diferentes? Como co-produtor do álbum, explique como ocorreu este processo.
Leko – Gravamos em estúdios diferentes por conta dos recursos. Em Poços de Caldas, captamos a bateria, reamplificamos guitarras e baixo no nosso estúdio de ensaio, que reformamos somente com esse intuito. Já os vocais e violões gravamos no Jack Studios (Machado-MG), que tinha os recursos de aparelhagem e sala específicos que precisávamos para uma boa captação. Sobre a mixagem e masterização, conhecemos o Thiago Okamura através de demos que ele havia disponibilizado do trampo dele na net e achamos que era o cara certo por ter uma visão mais moderna e desprendida dos clichês do estilo, além de um puta bom gosto, item inseparável de qualquer produtor classe A que se preze.
André – A arte foi desenvolvida pela artista Gio Guimarães, Mestre em Belas Artes pela UFMG e desenhista da produtora brasileira de animação Copa Studios. Identifico na capa alguns nomes importantes na história – como Einstein, Copérnico, Nicolau de Cusa, Dowland e Carl Sagan – em meio aos personagens ilustrados ao redor da pessoa amarrada na fogueira – esta me parece ser Giordano Bruno, nos arremetendo aos tempos da inquisição –, da mesma forma que outros personagens emblemáticos – fazendo alusão ao Egito e Grécia antiga, por exemplo – e figuras surgindo em meio a fogo e fumaça – como dragão e os quatro elementos – na contra capa; despertando minha curiosidade: qual a ideia destas artes detalhadas que ilustram o conceito do álbum e sua visão final a respeito da saga de Giordano Bruno?
Leko – A arte é um capítulo à parte. A primeira inspiração que me veio à mente foi uma matéria que havia lido sobre a capa do Sgt. Peppers, que, aliás, é o meu álbum favorito de todos os tempos. Percebi que, assim como os Beatles fizeram, também poderíamos utilizar do artifício de muitos personagens na capa para referenciar nossas ideias, em torno do personagem central que é o Giordano Bruno. O engraçado é que já li interpretações muito diferentes sobre o conceito e a arte em si. Na verdade, sem querer entregar totalmente o jogo, o que se vê na capa principal são personagens atuais e históricos que de alguma maneira possuem relação com as ideias de Giordano, seja como fonte de inspiração para o filósofo ou como inspirados direta ou indiretamente pelas suas ideias. Na contra capa, os personagens da Antiguidade estão saindo de um Wormhole em um outro período no tempo, exatamente no Campo de Fiori, local da execução de Bruno. Todos os personagens históricos, símbolos e equações se referem também à ideologia e estudos do filósofo. Sobre minha visão a respeito do legado de Giordano é que ela é ampla e complexa. Em termos históricos, acredito que a execução de Giordano influenciou no êxodo de grandes pensadores e cientistas para fora da Itália, em direção a países mais liberais à época, o que influenciaria e muito na Revolução Científica do século seguinte.
André – A qualidade do encarte salta aos olhos! Além das imagens refletindo como uma continuação da capa e contracapa, há a letra das músicas e citações sobre o significado destas com relação ao conceito do álbum, sendo que ambas são apresentadas tanto em inglês quanto em português. Quem foi o autor da ideia e estas informações visam justamente o ouvinte não ter dúvida sobre a mensagem que a Lothlöryen quer passar em cada canção?
Leko – Tudo começou quando sugeri a ideia de um álbum conceitual que incluísse Giordano Bruno como personagem central. Expliquei pra galera sobre quem se tratava e as possibilidades do tema. Em seguida, montei um resumo geral do que pretendia com a história e a partir daí entra a participação essencial do Daniel Felipe no processo. Basicamente todo o conceito final, letras e sinopses foram desenvolvidas em conjunto com o Daniel que foi decisivo para tornar o trabalho lírico mais aprofundado e com um grau de erudição que nos orgulha muito. Queremos que a galera não somente ouça o cd, mas deem uma chance ao conceito, pois ele amplia e muito o conteúdo que estamos entregando ao público. Fizemos questão de oferecermos as traduções das letras e sinopses no encarte, pois temos consciência que não é porque o cara é fã de Metal que tem necessariamente que saber inglês.
André – Fazendo um contraponto, “Time Will Tell”, single lançado antes do lançamento de PoaPT, possui uma arte mais ‘simples’ se comparada ao full lenght, basicamente em 3D porém com alguns detalhes que são disseminados na letra enquanto Giordano é executado (o tempo dirá…). Criada por Marcus Lorenzet, mesmo artista responsável pela capa de ‘Raving Souls Society’, o single recebeu menções positivas do público que aguardava o álbum completo. Como se deu a escolha desta faixa e a opção tanto pela arte quanto por seu criador?
Leko – O Marcus é parceiro nosso de longa data. Além das capas citadas ele também fez a capa do single da “Unfinished Fairytale” e vários outros trampos para banda, entre cartazes e o site oficial. Pórem, estávamos determinados a sair do “lugar comum” que se tornou as artes digitais entre as bandas de Metal. Nós curtimos muito os trabalhos, mas pela complexidade do conceito abordado, seria totalmente inviável uma arte digital desta vez, pois necessitávamos dos detalhes. Sobre a escolha da “Time Will Tell” como single, a ideia era mostrar logo de cara que a banda estava propondo um caminho diferente em relação ao álbum anterior. Acredito, que, mesmo ainda soando como uma demo na versão single, a recepção foi bem além do que esperávamos.
André – “The Quest Is On” foi a segunda faixa do novo álbum apresentada ao público. O que motivou à escolha desta faixa (há ligação com o trecho inicial dizendo que ‘uma taça de vinho pode estar cheia de persuasão’ rsss)?
Leko – Todas as faixas tem alguma ligação etílica e taí algo que não mudamos desde o princípio da banda, rs. Falando sério, acho que a “The Quest is On”, apesar de ser complexa em termos de arranjos, é uma música pegajosa e que contém os elementos gerais que representam o cd: a mescla de Folk, Metal, Rock, Progressivo e uma letra reflexiva sobre o período em que Giordano estava ainda iniciando seus estudos e buscando razões para questionar suas certezas.
André – A ousadia em executar a obra de John Dowland na faixa “And Dowload plays”, a citação ao pensador Carl Sagan em “Who made the maker”, todo o conceito da história em si, a arte de capa… Muitos pontos despertam atenção neste trabalho devido aos detalhes que parecem ter sido minuciosamente pincelados, porém o principal, a própria música, soa um tanto quanto mais trabalhada se comparada aos álbuns anteriores do Lothlöryen, uma pegada mais progressiva com os tradicionais flertes ao power e logicamente, o folk, essência da banda desde seus primórdios. Rotular o grupo em uma vertente tem se tornado tarefa árdua a cada álbum, mas musicalmente falando, podemos considerar este um passo adiante na carreira do Lothlöryen?
Leko – Definitivamente. E temos plena consciência em relação ao passo à frente que estamos dando. É um passo ousado e não temos a mínima pretensão de que seja compreendido e aceito por todos. Porém, no nosso meio Underground, não há sentido de se continuar a não ser pelo impulso de se buscar fazer a arte pela arte, sem focarmos em listas de popularidade, sem querer agradar a todo mundo ou parecermos os “boys da vez”, rs. Queremos longevidade para nossa música e não os tais “15 minutos de fama”, tocando e compondo o som da moda, pois essa estratégia no Underground sempre leva ao mesmo caminho: o esquecimento.
André – O termo ‘passo adiante’ pode ser utilizado também em ‘Some Ways Back SOME More’, regravação de ‘Some Ways Back No More’ (2008), com novos solos de guitarra e violão, nova capa, todos teclados e vocais regravados além de ter sido totalmente remixado e remasterizado. O que motivou esta regravação?
Leko – Sempre quisemos regravar o Some Ways, pois víamos um potencial grande nas músicas do álbum, mas sinceramente, era difícil ouvir a gravação de 2008 sem sentir uma série de arrependimentos. Por sorte, a gravadora alemã Power Prog ouviu o material e pensou exatamente o mesmo que nós: era um álbum que merecia uma nova roupagem. Conseguimos fazer na medida do possível, um trabalho bem melhor do que a versão original, mas como muitas coisas ainda permaneceram da gravação original, olhando novamente para trás, agora, ainda sinto que poderíamos ter regravado o álbum todo, mas, em geral, posso dizer aliviado que pelo menos, hoje em dia, consigo ouvir o álbum do início ao fim, rs.
André – Voltando ao PoaPT, o lançamento do álbum resultou de uma campanha de financiamento coletivo no site Kickante. Ao final do Crowdfunding, com a meta devidamente alcançada, a banda emitiu um comunicado enaltecendo o apoio dos fãs e familiares, a união na cena devido ao suporte de bandas que se portaram como ‘clã de amigos’ e em especial, despertou atenção a eufórica afirmativa: “É viável investir em música underground no Brasil e o retorno nem sempre é tão lento quanto proclamam por aí”. O que motivou a opção pelo financiamento coletivo? Como você vê o investimento atual em música underground em nosso país?
Leko – A motivação foi a busca por respostas. Queríamos saber se somos uma banda que possui uma base de fãs reais e atuante, se somos uma banda que pode se auto financiar sem apoio de gravadoras e se o retorno no investimento de um projeto Underground é tão lento quanto várias gravadoras alardeiam por aí como justificativa para não fazerem uma divulgação real e decente. Felizmente, todas as respostas nos foram positivas e a maior vitória está sendo o fato de já termos recebido várias mensagens de bandas e projetos dizendo que servimos de inspiração para seguirem por esse mesmo caminho.
André – A parte europeia da The Raving Tour 2013 foi disponibilizada no canal do Lothlöryen no Youtube em dois websódios, exibindo cenas da passagem da banda por Romênia e Bulgária. Como tem sido a receptividade dos fans de fora do Brasil ao novo álbum e há planos tanto para lançamento do PoAPT quanto a realização de uma nova tour no velho continente?
Leko – No momento o álbum ainda não foi lançado oficialmente nem no Brasil nem na gringa. No Brasil o álbum sairá dia 30 de junho e na Europa, licenciamos o lançamento com a gravadora Mass Illusion, da Irlanda e a previsão é Julho. Portanto, ainda não temos uma real noção da receptividade que o álbum terá por lá. Porém, pelos primeiros reviews que já começaram a pipocar na imprensa estrangeira, eu diria que a expectativa não poderia ser melhor. Sobre voltar para uma nova tour por lá, com certeza, esse é um dos principais objetivos em relação à divulgação do novo álbum.
André – Para manterem-se na ativa, as bandas nacionais além de shows e novos álbuns, precisam investir em merchandising. O Lothlöryen comercializou recentemente edições limitadas de hidromel levando seu nome, em versões long neck e 750ml. Quais os planos da banda para promoção do PoaPT? Há possibilidade do lançamento de novas edições do hidromel? E quanto aos shows pelo Brasil?
Leko – A ideia é ampliar a oferta de merchandising com o lançamento do álbum. Queremos oferecer não só o Hidromel, mas botons, adesivos e camisetas full print oficiais, que, aliás, também são confeccionadas pela própria banda. A ideia é levar a filosofia do “do it yourself” da forma mais séria e ampla possível. Sobre os shows, temos o lançamento do álbum agendado para 12 de Julho, com uma estrutura realmente profissional, em Poços de Caldas. Nosso plano no momento é esperar o álbum repercutir mais antes de cairmos de fato, na estrada. Não estamos com muita pressa dessa vez, pois queremos selecionar melhor os eventos e tocar em locais que ofereçam a estrutura necessária para o que consideramos ser um show IDEAL do Lothlöryen, atualmente!
André – Ainda abordando o tema promoção da pergunta anterior, a faixa “Night is Calling” foi escolhida para gravação do primeiro vídeo clipe do novo álbum. Ao meu ver, esta faixa e “The Convict” seriam as principais candidatas para tal posto devido a melodia que gruda na mente (após uma audição do PoaPT, eu já cantarolava ambas músicas). Qual o princípio da escolha por esta canção? Comente sobre os detalhes da temática do clipe, local de gravação e previsão de lançamento.
Leko – O princípio foi exatamente o que você abordou: Melodia que gruda na mente. Além disso, a “Night is Calling” tem os elementos modernos que queremos apresentar ao público em geral. É uma música mais fácil de ser assimilada e que pode agregar mais atenção ao restante do trampo.
André – Aos que não conhecem pessoalmente, o Leko Soares possui um gosto não apenas apurado como variado para música: comentários sobre lançamentos de Blind Guardian e Steven Wilson, por exemplo, já foram alvos de algumas conversas nossas, assim como vídeos compartilhados em seu perfil no Facebook que vão de Led Zepellin à Muse. Qual sua história como músico: estudos, fonte de inspiração, incentivadores? E da safra atual, quais bandas do Brasil e exterior você indicaria?
Leko – Comecei como a maioria da galera do Metal, tocando e ouvindo bandas como Metallica, Iron Maiden, Sabbanth e Guns n’ Roses. Entre 95 e início dos anos 2000, basicamente ouvia o Metal Melódico que estava no auge àquela época. Por volta de 2002, iniciando os trampos com o embrião do que depois se tornaria o Lothlöryen, comecei a ouvir outros tipos de sons fora do Metal, como Beatles, Oasis, The Doors etc. Com o tempo, passei a entender que, como compositor, o melhor estudo é ser eclético e buscar por sons e bandas fora do seu próprio estilo. É aquela velha história: Se eu só escutar Blind Guardian, como vou compor algo que não seja cópia do Blind Guardian? Por isso, hoje em dia talvez os estilos de música dentro do Metal que eu menos escuto sejam exatamente o Power e o Folk Metal. Tenho ouvido muita coisa doida, desde bandas vanguardistas como Ihsahn, Mastodon, The Mars Volta, a belíssima safra do Prog europeu atual Riverside, Leprous, Haken, até, claro, as pérolas prog setentistas Genesis, Gentle Giant, King Crimson, Van Der Graaf Generator, Pink Floyd, Jethro, Yes etc e lógico, muito Porcupine Tree e Steven Wilson, que pra mim, representam a síntese da excelência atual em termos de arranjos e produção musical. Sobre bandas nacionais, eu indicaria Dynahead, Scalene, O Terno, Far From Alaska e Boogarins.
André – Em entrevista recente com Vitor Rodrigues (Voodoopriest) para o Portal Metal Revolution, ao questionar sobre o crescimento da Expomusic, as frequentes excursões de bandas nacionais ao exterior (muitas vezes com recursos próprios) e a entrada de músicos brasileiros em bandas internacionais, ele mencionou sobre um ponto em comum nestas situações: “a saída está sendo o exterior, e hoje já é uma realidade mais palpável”. Como você enxerga estes acontecimentos e qual a importância destes pontos no crescimento da cena brasileira?
Leko – Concordo plenamente. Falando da nossa própria experiência, a tour europeia foi um renascimento importante para a banda, pois nos mostrou que temos sim um mercado lá fora e que é possível explorar esse mercado e ter o respaldo necessário para crescer dentro da própria cena nacional. É óbvio que bandas que se acham grandes demais aqui no Brasil para se aventurar nos palcos da gringa, vão sempre criticar e achar difícil ou inviável essa saída. Porém, as bandas que foram, semearam com paciência, construíram sua base de fãs aos poucos, hoje já estão colhendo bons frutos. São bandas como Woslom, Nervochaos, Hibria e o próprio Torture Squad que nos inspiram hoje a querermos nos aventurar novamente pela gringa, seja na Europa ou aqui, na própria América do Sul.
André – Como músico ativo há anos na cena underground, acredito que você tenha se preocupado com cancelamentos de shows em virtude de problemas relacionados a produtores locais, envolvendo tanto bandas internacionais quanto nacionais Brasil afora. Episódios como cancelamento do MOA no nordeste anos atrás, problemas com Zoombie Ritual em 2014, produtores cancelando apresentações sem motivação plausível como no caso do André Matos no nordeste (sumiço do responsável local) neste início de ano e do Krisiun em Campinas um mês atrás (baixa venda antecipada de ingressos). Em paralelo, situações como a reunião do Sepultura corriqueiramente voltam à pauta e mesmo o disse-me-disse sobre troca de integrante do Almah ocorrido há semanas torna-se fonte de pageviews na mídia underground. Qual sua visão sobre o papel de produtores, mídia especializada, fãs e os próprios músicos na cena underground atual?
Leko – A responsabilidade é de todos. Se uma cena vai bem, tem boa visibilidade, boas bandas e um circuito profissional de shows, é mérito de todos: bandas, produtores, mídia e fãs. Se por outro lado, coisas como os cancelamentos citados e o amadorismo de algumas bandas que fazem publicidade através da “lavagem de roupa suja” via imprensa, só demonstram que ainda estamos muito longe de termos uma cena profissional por aqui. Porém, eu enxergo a cena no Brasil de duas maneiras distintas. Pela ótica das bandas, sem demagogia nenhuma, não devemos nada a nenhuma cena de Metal no Mundo. Bandas como Hibria, Dark Avenger, Dynahead, Hellish War, Vetor dentre tantas outras, se fossem gringas, poderiam estar vindo excursionar no Brasil de dois em dois anos, lotando locais como Credicard Hall ou Carioca Club, facilmente. O problema aqui é o nosso histórico complexo de vira-latas de achar que o que vem da gringa sempre é melhor. Não vou entrar na linha do discurso do Falaschi, porque acho que qualquer um é livre pra escolher o que quer ouvir, quando e da forma que quiser. Não acho que a culpa seja do público ser “paga pau” ou não dos gringos, acho que a culpa é dos formadores de opinião: revistas e sites que semeiam a cada nota ou capa de revista essa ideia de que os gringos de fato são melhores. São os formadores de opinião os maiores culpados por relegarem as bandas nacionais a um segundo, terceiro, quarto plano. É óbvio que tem a questão da rentabilidade, da visibilidade, de lotar a casa etc, mas, isso vem com o tempo. Hoje, é óbvio que abrir mão de posts sobre a cor da cueca do Steve Harris em prol de uma matéria com uma banda nacional resulta em perda de views, assim como abrir uma “janela” na capa de uma revista com uma foto de banda nacional seja um passo que possa diminuir vendagens agora, mas, semeando, em algum tempo, se as bandas do Underground crescem, o retorno em publicidade e visibilidade para revistas, sites e os promotores de eventos também cresceriam. Mas infelizmente, estamos a anos luz de ver algo do tipo acontecer por aqui porque talvez os “paga pau de gringo” não sejam de fato, o público, mas aqueles que formam a opinião desse público.
André – Muito obrigado pela entrevista. Deixe uma mensagem aos leitores do Metal Revolution e espero revê-lo na estrada ainda em 2015.
Leko – Agradeço em nome do Lothlöryen, o espaço valiosíssimo que sempre recebemos por aqui. É sempre um alento à banda poder contar com parceiros sérios e compromissados com a cena como é o caso do André e de toda a equipe do site. Esperamos que mais “Metal Revolutions” surjam e permaneçam com força na cena, driblando as dificuldades, pois só assim, quem sabe um dia, bandas underground do nosso próprio país poderão se orgulhar de uma cena mais honesta e profissional. É nóis!!!