Texto por André Luiz – Fotos por Camila Cara (https://www.facebook.com/camilacarafoto) e Ale Frata (https://www.facebook.com/ALEFRATAfotografo) Monsters Of Rock – Edição por André Luiz
Em comemoração aos 21 anos da primeira edição do festival, o Monsters Of Rock contou com uma line up de peso. A segunda data com apresentações trouxe nomes do quilate de Kiss, Judas Priest, Manowar, Accept, Unisonic, Yngwie Malmsteen, Steel Panther e Doctor Pheabes. O local escolhido, Arena Anhembi, possuía grande estrutura de alimentação, stands dos mais variados tipos, de forma a receber adequadamente um total estimado de mais de 25 mil pessoas em cada noite entre público, imprensa e toda equipe envolvida para o bom andamento dos trabalhos no local.
Doctor Pheabes, representante 100% nacional
Diante de um grande número de pessoas já presentes à Arena Anhembi no dado momento, Fernando Parrillo (guitarra), Eduardo Parrillo (guitarra e vocal), Fábio Ressio (baixo) e Paulo Rogério Ressio (bateria) subiram ao palco para trazer o único representante 100% nacional ao Monsters 2015.
Divulgando o álbum ‘Seventy Dogs’, o Doctor Pheabes trouxe um repertório focado na essência do hard rock que executa com riffs intensos e solos arrojados, adicionada a boa presença de palco dos integrantes. Após “Where Do You Come From?”, Eduardo Parrillo agradece aos presentes e anuncia “Godzilla”, seguida por “Sound”. Na sequência, o frontman convida ao palco uma pole dancer a qual faz demonstrações em uma barra enquanto os músicos encerram o show com “Suzy” e a faixa título de seu álbum, “Seventy Dogs”.
Steel Panther e o festival glam (e de top less)
O calor intenso do início de tarde de domingo apenas aumentou com a presença de Michael Starr (vocal), Satchel (guitarra), Lexxi Foxx (baixo) e Stix Zadinia (bateria) no palco do Monsters. Com um set calcado em uma trajetória de quatro álbuns de estúdio, a banda norte-americana formada em 2000 trouxe ao palco a excentricidade do glam com roupas coloridas e estilo despojado. Logo após a abertura com “Pussywhipped” (título nada propício ao que viria a seguir), o guitar Satchel proferiu frases em português como ‘mostre seus peitos’ e ‘minhas bolas tem gosto de morango’, ambas devidamente rascunhadas na mão. Em meio a gargalhadas e grande quantidade de top less provenientes do público, a banda emendou “Party Like Tomorrow Is The End Of The World” com “Asian Hooker” e “Eyes Of A Panther”.
“17 Girls In A Row” conta a história de como os músicos pegaram 17 mulheres na ‘noite anterior’ e é basicamente o que apregoa as letras desta banda que prima por não querer ser levada a sério, mas cá entre nós, a fila de mulheres on stage no momento da execução desta música… “Community Property” por exemplo, podemos chamar de tentativa frustrada de uma balada clichê oitentista. Já em “Party All Day (Fuck All Night)”, o destaque fica para seleção de peitos a mostra exibidos no telão em uma música com menos de 4 minutos de duração (contabilizei 23 top less neste período), isto tudo porque antes já havíamos presenciado um ‘solo de cabelo’ (cabelos ao vento devido a presença de um ventilador em meio à bateria) de Stix Zadinia. Encerraram com uma mensagem estilo Manowar mas que satiriza ‘astros’ da música pop, “Death To All but Metal”. Em meio a mulheres no palco e frases do vocal como “falam que sou Dave Lee Roth, mas sou o ‘Skinny Vince Neil”, o prêmio de show mais divertido da edição 2015 do Monsters já teria dono.
Set List Steel Panther:
Pussywhipped
Party Like Tomorrow Is the End Of The World
Asian Hooker
Eyes Of A Panther
17 Girls In A Row
Community Property
Party All Day (Fuck All Night)
Death To All but Metal
O virtuosismo com traços selvagens de Yngwie Malmsteen
Trajes de couro, cabelos longos no melhor estilo oitentista, malabarismos desconcertantes com suas guitarras diante de uma parede de caixas de som da Marshall… Yngwie Malmsteen destilou durante 40 minutos de apresentação um repertório mesclando heavy metal com música clássica, alterando o timbre de suas guitarras para uma sonoridade que arremete ao violino em determinados momentos, mas sem perder o lado despojado de uma performance literalmente solo.
Uma característica marcante do sueco de 51 anos é pouco se importar com o que falam. Desta forma, o egocêntrico guitarrista com 19 álbuns de estúdio na carreira solo e passagens por Steeler e Alcatrazz em seu curriculum, iniciou sua performance com “Rising Force”, talvez o maior clássico de sua carreira, levantando o público presente, seguida pela faixa título de seu mais recente trabalho, “Spellbound” (2012) e “Black Star”, porém a medida que o show foi passando, a repetição de malabarismos (e de roadies sofrendo a cada lançamento de guitarra aos mesmos) acaba desinteressando o público. Ralph Ciavolino (vocal e baixo), Nick Marino (teclado) e Mark Ellis (bateria) embora sejam bons músicos tornam-se meros coadjuvantes em uma apresentação focado no ícone da guitarra, o qual ainda executa faixas como “Alone in Paradise”, “Purple Haze” (The Jimi Hendrix Experience Cover), “Heaven Tonight”, “Razor Eater”, “Damnation Game”, encerrando sua performance com “Far Beyond The Sun” na qual ele estraçalha uma guitarra em vários pedaços ao melhor estilo rock star, retomando a atenção do público em seu ato derradeiro, com destaque para a moça nos bastidores fazendo reverências à Malmsteen na saída do músico. É exatamente desta forma que ele se sente, um rei, quer o considerem desta forma ou não (e por que ele se importaria? Afinal de contas, ele é Malmsteen).
Os criadores do power metal protagonizam com Unisonic
Em meio ao forte sol da tarde de domingo, óculos escuros incrementaram o visual despojado de dois ícones da história do power metal mundial. Michael Kiske e Kai Hansen se consagraram na fase áurea do Helloween, partiram para carreiras em paralelo com suas bandas próprias e retomam a parceria de anos no Unisonic relembrando alguns petardos da banda alemã oitentista onde tudo começou… Hansen entrou na banda em 2011, mas os demais integrantes estão no grupo, desde o início: o baixista Dennis Ward (do Pink Cream 69) e o baterista Kosta Zafiriou (ex-Pink Cream 69). Para esta apresentação, Mandy Meyer (guitarra) havia se comprometido com uma tour ao lado do Krokus nos EUA, por este motivo Tobias “Eggi” Exel (guitarra – Edguy) foi convidado para integrar o grupo.
A performance iniciou com “For The Kingdom” e “Exceptional”. O público já estava nas mãos de Kiske que deita no palco durante “Star Rider” deixando a cargo de Kai os vocais e a interação junto aos presentes. “Your Time Has Come” e “When The Deed Is Done” demonstraram que o poderio vocal do frontman continua estrondoso, na sequência Kiske apresenta Eggi aos presentes e executam “King For A Day”. A banda deixa o palco, exceto Kai Hansen que nos presenteia com um “Guitar Solo”, sendo que ao término os músicos retornam para performance de “Throne Of The Dawn”.
Mesmo com dois full álbuns lançados (autointitulado em 2012, e ‘Light of Dawn’ de 2014) além de 02 EPs, a grande expectativa do público era por material do Helloween, e por que não atender? “March Of Time”, petardo do ‘Keeper Of The Seven Keys Part II’ de 1988 foi emendada por outro clássico deste mesmo álbum, “I Want Out”, para ensandecimento dos presentes que cantaram ao lado de Kiske cada trecho das letras. “Unisonic” finalizou a apresentação que marcou a celebração dos primórdios do power metal no Monsters Of Rock, proporcionada por dois verdadeiros monstros da história da música e seus asseclas.
Set List Unisonic:
For the Kingdom
Exceptional
Star Rider
Your Time Has Come
When The Deed Is Done
King For A Day
Guitar Solo (Kai Hansen)
Throne Of The Dawn
March Of Time (Helloween Cover)
I Want Out (Helloween Cover)
Unisonic
O coração metal germânico e a aula do Accept
Eternizada como a banda alemã que mescla a essência de riffs do heavy metal com música clássica, o Accept demonstrou que mudanças são motivos para se renovar e melhorar. Se anos atrás as atenções na banda voltavam-se para idas e vindas do ex-frontman Udo Dirkschneider, o momento tratava-se de reposição das baixas de Herman Frank e Stefan Schwarzmann que deixaram o grupo ao final de 2014 devido outros projetos (em especial o German Panzer com o líder do Destruction, Schmier). Repondo os 40% do grupo, foram recrutados os músicos Uwe Lulis (Grave Digger, Rebellion) e Christopher Williams, guitarrista e baterista respectivamente, os quais se juntaram à Wolf Hoffmann (guitarra), Peter Baltes (baixo) e Mark Tornillo (vocal) na atual line up do Accept.
E sinceramente? Presenciamos uma verdadeira aula de heavy metal. Do início com as poderosas faixas recentes “Stampede” e “Stalingrad” dos aclamados álbuns ‘Blind Rage’ (2014) e ‘Stalingrad’ (2012) aos clássicos “London Leatherboys” (‘Balls To The Wall’ de 1982) e “Restless And Wild” (álbum homônimo de 1983), o carisma, trejeitos e sonoridade marcante da banda alemã contagiaram o público, mesmo quem não conhecia a banda bradou os coros e estendeu as mãos em uma apresentação de encher os olhos.
A mescla de sons novos e clássicos continuou com outra do ‘Blind Rage’, “Final Journey”, seguida pela cativante “Princess Of The Dawn” (1983). “Pandemic” do álbum ‘Blood Of Nations’ (2010) contou com um final apoteótico e público vibrando devido a performance dos alemães, mas é quando se ouve nos PA’s a conhecida “Ein Heller und ein Batzen” (A Farthing and a Penny) que os presentes foram literalmente a loucura: “Fast As A Shark”, clássico de 1983, um dos maiores clássicos do power metal mundial. A apresentação já havia alcançado o ápice, porém ainda faltavam clássicos que novamente levaram o público ao delírio: a faixa título do álbum de 1985, “Metal Heart”, e seu forte apelo à música clássica; o espetáculo de riffs “Teutonic Terror” (‘Blood Of Nations’, 2010); e para finalizar, outro clássico atemporal, a faixa título do álbum de 1983, “Balls To The Wall” colocaram fim a uma das melhores performances do Monsters Of Rock 2015.
Set List Accept:
Stampede
Stalingrad
London Leatherboys
Restless And Wild
Final Journey
Princess Of The Dawn
Pandemic
Fast As A Shark
Metal Heart
Teutonic Terror
Balls To The Wall
Others bands play, Manowar kill
Algumas bandas despertam sentimentos extremos nas pessoas: da adoração a repulsa. Um exemplo disso se trata do Manowar, o típico grupo que consegue despertar comentários de ‘o melhor’ e ‘o pior’ para um mesmo show, porém por mais que muitos torçam o nariz, não há como negar que o conjunto norte-americano sabe como poucos lidar com grandes públicos (ninguém permanece 35 anos na ativa a toa). Os reis do metal retornaram ao país após a ‘frustrante’ tour em 2010 no Brasil na qual executaram apenas músicas de álbuns recentes, deixando de lado os grandes clássicos. Mas desta vez foi diferente, muito diferente…
O início com o clássico “Manowar” (Battle Hymns de 1982) já indicava o que teríamos durante a apresentação: uma reunião de clássicos de toda trajetória dos norte-americanos. ‘Apresentamos aos brasileiros nosso novo guitarrista, Al Pacino’, brincou DeMaio antes de outra do debut album de 1982, “Metal Daze”, seguida por uma das mais conhecidas canções da banda “Kill With Power” (‘Hail To England’, 1984). “Sign Of The Hammer” e “The Dawn Of Battle”, faixas título do álbum de 1984 e do EP de 2002 mantiveram o ritmo forte da apresentação, com agudos estridentes e trejeitos de Eric Adams dando o tom do show.
A partir do dado momento iniciou o show de interação do Manowar com os presentes: primeiramente os músicos deixam o palco para Joey DeMaio executar seu “Bass Solo / Sting of the Bumblebee”, em seguida Karl Logan adentra para “Fallen Brothers – Guitar Solo” no qual fora prestada homenagem a amigos e companheiros de equipe do Manowar falecidos (com destaque para os brados do públicos ao serem exibidas no telão imagens do eterno Ronnie James Dio e de Scott Columbus, ex-baterista da banda). Após o momento de emoção, DeMaio reassume o comando do palco e discursa em português, incendiando os presentes, como pode ser lido/assistido abaixo:
Em português: ‘Antes de qualquer coisa queremos desejar melhoras para nosso irmão Lemmy do Motorhead. Não estamos aqui pra bater papo, mas não seria correto deixar de agradecer nossos amigos e irmãos José Muniz, Manoel Arruda, Mercury Concerts e todos vocês aqui que vieram ver Manowar. Brasil, um país muito especial para o metal e nossos fãs tem um lugar muito especial em nossos corações, e na história do Manowar vocês mostraram para o mundo inteiro o poder do True fucking heavy metal!’
Em inglês: ‘Alguma outra banda já falou português brasileiro com vocês? Coloque as mãos pra cima quem veio aqui apenas pelo Manowar!’
Em português: ‘Pra quem não gosta de heavy metal a gente diz vai se fuder!
Pra quem não gosta do Brasil a gente diz vai se fuder!
Pra quem não gosta do Manowar a gente diz vai ser fuder!
Pra quem não gosta dos fãs do Manowar a gente diz vai se fuder!
Muito obrigado a todos, vamos voltar!’
Em meio aos brados do público após o discurso inflamado de DeMaio, os músicos retornam para interpretar a principal canção do Manowar nos anos 2000, o qual reacende o coro no Monsters of Rock: “Warriors Of The World United”. Com a platéia na mão, jogo ganho, restou à Eric Adams (vocal), Donnie Hamzik (bateria), Karl Logan (guitarra) e Joey DeMaio (baixo) executarem mais alguns de seus clássicos: “Kings Of Metal” e “Hail And Kill” (álbum ‘Kings Of Metal’ de 1988), “The Power” (‘Louder Than Hell’ de 1996), o hino da batalha “Battle Hymn” do debut de 1982 (com destaque para microfonia em meio ao trecho mais lento da canção, no qual Eric Adams interrompeu sua interpretação e com uma risada sem graça disse ‘é um show ao vivo’, sendo aplaudido pelo público antes de retomar a letra) e o encerramento com o clássico do álbum ‘Fighting The Word’ de 1987, “Black Wind, Fire And Steel”, com direito a poses das mais diversas, punhos cerrados ao ar, caras e bocas de Eric Adams e até gestos obscenos de Demaio a meninas da platéia antes de arrancar as cordas de seu instrumento. A banda deixa o palco aplaudida pelos presentes, e enquanto os PA’s executam “The Crown And The Ring (Lament Of The Kings)”, surge no telão uma mensagem de agradecimento aos brasileiros no melhor estilo Manowar.
Com 35 anos de estrada, pode-se comentar sobre os 10 segundos que a banda liberou para fotógrafos registrarem seu show, a altura exagerada do som durante a apresentação, letras e trejeitos que fazem muitos torcerem o nariz… Enfim, com todos estes pormenores citados, os norte-americanos demonstraram novamente no Monsters, 17 anos depois, que sabem incendiar o público de grandes eventos como poucos e cravaram pela segunda vez seu nome na história do festival como uma das principais performances dos 21 anos de Monsters (quer muitos concordem ou não).
Set List Manowar:
Manowar
Metal Daze
Kill With Power
Sign Of The Hammer
The Dawn Of Battle
Bass Solo / Sting Of The Bumblebee
Fallen Brothers – Karl’s Solo
Joey’s Speech
Warriors Of The World United
Kings Of Metal
Hail And Kill
The Power
Battle Hymn
Black Wind, Fire And Steel
The Crown And The Ring (Lament Of The Kings)
A benção do padre Judas
Se já havíamos presenciado aulas de carisma, de virtuosismo, de riffs e de como comandar um público com um repertório clássico, que tal unir todas estas características citadas em uma única performance? Desta forma, Rob Halford (vocal), Glenn Tipton (guitarra), Richie Faulkner (guitarra), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) trouxeram aos presentes um repertório mesclando clássicos de sua trajetória de mais de quatro décadas com petardos do ‘Reedemer Of Souls’, citado por 9 em cada 10 críticos especializados como melhor álbum de heavy metal lançado em 2014, o primeiro sem o icônico guitarrista K.K. Downing na line up.
Desde que os PA’s da Arena Anhembi passaram a executar “War Pigs” do Sabbath, o clima passou a ser outro no local; a partir do tema inicial de “Battle Cry” (‘Reedemer Of Souls’, 2014) utilizado como intro em meio a telões apagados, a expectativa apenas aumentou. O riff de guitarra com a imagem de nuvens em meio a raios no e o surgimento de um dragão no telão foi o indício da entrada dos integrantes e a execução de “Dragonaut”, faixa inicial do último trabalho de estúdio, propositalmente emendada com o hino do ‘British Steel’ (1980), “Metal Gods” e a interpretação marcante de Halford, desde a dispensa da bengala de couro com a qual adentrou ao palco até a tradicional ‘marcha dos robôs’ característica desta faixa.
‘Priest is back! Are you ready’ brada o frontman antes de deixar o palco e retornar (já sem óculos e trajando jaqueta jeans sobre a vestimenta preta que utilizava) para interpretação de “Devil’s Child” (‘Screaming For Vengeance’, 1982), seguida pelo hino do ‘Sad Wings Of Destiny’ (1976), “Victim Of Changes” com contornos épicos desde o ‘duo’ de guitarras inicial de Tipton e Faulkner até os primeiros agudos proferidos pelo metal god. Halford repete a troca de roupa e retorna com uma dobradinha de faixas do ‘Reedemer Of Souls’: “Halls Of Valhalla” apontada por 9 em cada 10 críticos especializados como melhor música de 2014, e “March Of The Damned” (na primeira noite fora executada em seu lugar “Love Bites”).
O público foi a loucura com a execução de “Turbo Lover” (‘Turbo’, 1986) na qual o frontman utilizou um sobretudo prateado, e assim sequiu com a pesada faixa título do álbum de 2014 “Redeemer Of Souls” e “Jawbreaker” (‘Defenders Of The Faith’, 1984). ‘Breaking the what’s?’ pergunta Halford repetidas vezes, até o anúncio do clássico “Breaking The Law” (‘British Steel’, 1980) com participação intensa do público para a mais conhecida faixa do Judas. Os roncos dos motores são ouvidos através dos PA’s, Halford adentra com sua Harley Davidson personalizada e permanece sob esta durante toda duração do clássico “Hell Bent For Leather” (‘Killing Machine’, 1980), outro ponto alto da noite.
Os músicos deixam o palco enquanto os PA’s executam o hino “The Hellion”, logicamente a continuação viria com “Electric Eye” (‘British Steel’, 1980), bradada a plenos pulmões pelos presentes. Se na primeira noite o público foi presenteado com “You’ve Got Another Thing Comin'”, na segunda noite fomos direto para a parte no qual os músicos deixam o palco, exceto o polvo da bateria Scott Travis o qual questiona ao público ‘temos apenas mais uma música no set, qual vocês querem?’ respondido a plenos pulmões por “Painkiller”. ‘Whats?’ pergunta mais uma vez Travis antes de empurrar o microfone de lado e iniciar a mais conhecida intro de bateria da história do heavy metal mundial, era o momento da clássica faixa título do álbum de 1990, um momento antológico do qual os presentes na Arena Anhembi não esquecerão tão cedo. Halford literalmente esganiçou sua voz debruçado sobre a Harley Davidson enquanto o público bradava a plenos pulmões este hino do Priest. Para encerrar em clima de alto astral, mais um clássico do ‘British Steel’, “Living After Midnight, cantado em uníssono pelos presentes.
Se for comparada a apresentação no Rio de Janeiro a qual possuiu tempo a mais de set, as faixas “Love Bites”, Beyond The Realms Of Death” e “You’ve Got Another Thing Comin'” não foram executadas, sendo que destas, apenas “Beyond The Realms…” não foi apresentadas durante as duas noites de Monsters. De qualquer forma, a performance dos britânicos nos deixa a impressão de que agora possuímos dois personagens carismáticos na linha de frente interagindo com o público, aliás, Faulkner mesmo ainda não estando totalmente entrosado musicalmente falando na banda compensa em carisma on stage. Glenn Tipton e Ian Hill fazem a linha dos ‘tímidos’ no palco enquanto Scott Travis espanca sua bateria com a precisão e magnitude característicos do criador de “Painkiller”. Em todo caso, os britânicos demonstraram ser mais do que very special guests do Monsters Of Rock 2015, eles possuem repertório e carisma alicerçados em sua trajetória de mais de quatro décadas os quais dispensam qualquer rótulo, além é claro da presença de um certo metal god na linha de frente.
Set List Judas Priest:
Dragonaut
Metal Gods
Devil’s Child
Victim Of Changes
Halls Of Valhalla
March Of The Damned
Turbo Lover
Redeemer Of Souls
Jawbreaker
Breaking The Law
Hell Bent For Leather
The Hellion
Electric Eye
Painkiller
Living After Midnight
You Wanted the Best and You Got the Best. The Hottest Band in the World, Kiss!
Logo após o término da apresentação do Judas Priest, obsevou-se uma movimentação intensa sob o palco: estrutura de luzes com plataforma e microfone, bandeira contendo símbolo do Kiss, posicionamento de microfones e testes de luzes… Cerca de 50 minutos se passaram até os PA’s da Arena Anhembi executarem “Rock And Roll” do Led Zeppelin, causando tumulto na direção do palco. Ao fim da música, fora exibida no telão uma imagem via satélite arremetendo a localização do local do show, seguida por imagens de bastidores mostrando os integrantes do Kiss seguindo a caminho do show (quem observava junto ao palco percebia que os músicos já se encontravam posicionados junto aos seus respectivos microfones, por trás do grande bandeirão). Expectativa aumentando, quando surge a voz ao fundo anunciando o que viria: ‘All right São Paulo! You wanted the best and you got the best. The hottest band in the world, Kiss!’. Show de luzes, fumaça no palco, os primeiros acordes do clássico “Detroit Rock City” são ouvidos, a cortina cai e a banda surge em meio a gelo seco e explosões de fogos de artifícios on stage (incluindo bateria no ar erguida por uma plataforma). Na base da emenda, as faixas títulos dos álbuns de 1982 e 1998 são executadas, respectivamente “Creatures Of The Night” e “Psycho Circus”, mantendo o alvoroço no público.
Com três músicas de show, percebia-se que se musicalmente falando Tommy Thayer segura literalmente a bronca dos instrumentos de cordas, Simmons interage constantemente com o público e câmeras dispostas próximas ao palco, já Paul opta tanto pela dança junto a sua guitarra que em dados momentos até esquece de cantar (faz parte do show). Gene chama o público para o que viria ser um dos pontos altos de participação do público, “I Love It Loud” (‘Creatures Of The Night’, 1986), seguida por outra do mesmo álbum, “War Machine”, com direito a Simmons cuspindo fogo ao melhor estilo circense. Paul assumiu o comando das ações com três discursos: primeiramente disse ao público que tinha uma pergunta a fazer antes de anunciar “Do You Love Me” (‘Destroyer’, 1976), na sequência disse que era o momento de executarem um clássico do Kiss de 1974, referindo-se a “Deuce” (debut álbum auto intitulado) e por fim, afirmou em um português macarrônico ‘adoro o bumbum das brasileiras’ (ajudado por uma cola na mão), citou que a música que executariam seria no futuro próximo um clássico do Kiss e por fim, apresentam o petardo do ‘Monsters’ (2012) “Hell Or Hallelujah”.
A performance dos norte americanos segue com um solo de Tommy Thayer (o tradicional, com fogos no instrumento), “Calling Dr. Love” (‘Rock And Roll Over’, 1976) e “Lick It Up” (álbum homônimo, 1983). Gene reassume o comando das ações e sozinho no palco, transforma seu solo em um espetáculo regado ao baixista cuspindo sangue e sendo erguido no ar para, de uma plataforma no topo da estrutura de palco, cantar o clássico do ‘Destroyer’ (1976) “God Of Thunder”. ‘Este é um presente para vocês São Paulo, uma música que não costumamos tocar’ anuncia Stanley antes de “Parasite” (‘Hotter Than Hell’, 1974 – nos sets anteriores da tour, o Kiss costuma executar “Hide Your Heart”). ‘São Paulo, está é a última noite de nossa tour na América do Sul, está é uma noite especial para nós SP, viemos aqui desde 1983, vocês fazem parte de nossa família e eu gostaria de estar entre vocês’, discursa Paul, pedindo para gritarem o nome dele, plenamente atendido pelo público, até dizer que estaria indo ao encontro de todos, e dá-se início em meio a fogos de artifício à clássica faixa título do álbum de 1977 “Love Gun”, com Stanley voando de tirolesa por sob o público em direção a estrutura localizada no centro da pista da Arena Anhembi, cantando toda música, para delírio dos presentes que o acompanharam em uníssono. Seguindo a performance apoteótica, “Black Diamond” (debut álbum ‘Kiss’, 1974) com destaque a bateria no ar em meio aos vocais do próprio Eric Singer, encerrando a primeira parte do show.
No retorno para o encore, os músicos posam para foto com o público ao fundo, Gene utilizando baixo de machado e os gritos dos presentes na condução de “Shout It Out Loud” (‘Destroyer’, 1976) deram a tônica do momento. Na sequência, nova participação intensa do público durante o clássico do ‘Dynasty’ (1979) “I Was Made for Lovin’ You” com destaque para o solo de Thayer e o quarteto cantando o refrão em meio a fogos de artifício ao final. O encerramento não poderia dar-se de maneira diferente, a música mais conhecida dos norte americanos direto do ‘Dressed To Kill’ de 1975: “Rock and Roll All Nite” com chuva de papeis picados, explosões, plataformas com Gene e Tommy no meio do participativo público e bateria no ar novamente. Ao som de “God Gave Rock ‘n’ Roll to You II” nos PA’s e em meio a chuva de fogos de artifícios, a banda deixou o palco rapidamente e seguiu em carrinhos de golfe (escoltados pela policia) até um ponto mais afastado no próprio sambódromo. Por fim, celebrando 40 anos de carreira, o Kiss nos brindou com um espetáculo primoroso celebrando o término da edição 2015 do Monsters Of Rock de forma apoteótica e com uma pergunta no ar a organizadores de festivais no país: exemplos como este apostando em um festival com atrações exclusivamente de rock e metal trazem ou não público? Parabéns Mercury Concerts pela produção do evento, Midiorama pelo trabalho de assessoria aos veículos especializados e Equipe Metal Revolution pelo suporte não apenas neste show como nas apresentações das bandas do cast do Monsters em Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba.
Set List Kiss:
Detroit Rock City
Creatures of the Night
Psycho Circus
I Love It Loud
War Machine (Gene spits fire)
Do You Love Me
Deuce
Hell or Hallelujah
Solo Guitar
Calling Dr. Love
Lick It Up
Bass Solo (Gene spits blood and flies)
God of Thunder
Parasite
Your Heart
Love Gun (Paul flies out to the crowd)
Black Diamond
Encore:
Shout It Out Loud
I Was Made for Lovin’ You
Rock and Roll All Nite