Texto por Clovis Roman – Fotos por Clovis Roman e Kenia Cordeiro – Edição por André Luiz
Há shows que levam alguns espectadores às lágrimas. Porém, algo não tão comum assim é o próprio intérprete das obras se emocionar ao ponto de cair no pranto. O atual vocalista do Sanctuary, Warrel Dane, apresentou um repertório emocionante para os fãs – e para si mesmo – de sua ‘antiga’ e mais famosa banda, o Nevermore.
A abertura ficou por conta do Devil Sin, que vem conquistando o público local em suas apresentações. Eles, que já dividiram palco com grandes nomes como Angra, Vicious Rumors, Artillery, Black Label Society e Raven, fizeram um set curto, contendo seis músicas. Há de se louvar, além da qualidade indiscutível de suas canções – “White Line Madness” é um arregaço – o fato deles não tocarem covers e de compartilharem uma garrafa de Jack Daniels com o povo presente. O grupo conta com o experiente vocalista britânico Kevan Gillies, e completa sua formação com Ian Axel Gillies (guitarrista, filho de Kevan), Alex Padilha (baixo) e o novato Luiz Mende (bateria).
Já Warrel Dane subiu ao palco com o público nas mãos, afinal, logo de cara ele mandou na íntegra o álbum Dead Heart In A Dead World. A sequência inicial, de acordo com o disco, veio com as pancadarias “Narcosynthesis”, “We Disintegrate” e “Inside Four Walls”. Entre os momentos mais melancólicos e tocantes, destaco a fabulosa “Evolution 169” e a não menos linda “The Heart Collector”, que fez Dane chorar. Outra que funcionou muito bem foi a avassaladora versão da delicada “The Sound Of Silence” de Simon & Garfunkel.
Na segunda parte do show, na qual Dane também tocou apenas Nevermore (única exceção para “Messenger”, de seu disco solo), outra que o levou as lágrimas foi “Dreaming Neon Black”, faixa título de um dos mais sorumbáticos e espetaculares discos do Metal na década de 90. Nesta faixa, Dane foi acompanhado – assim como em São Paulo – por Mizuho Lin, frontgirl da banda curitibana Semblant. Sua participação foi técnicamente ótima, mas ela parecia não estar tão envolvida emocionalmente na interpretação quanto Dane.
Na última sequência de canções, outras que fizeram a diferença foram “Emptiness Unobstructed” (nessa, admito que larguei minha função jornalística para agitar a cabeleira; estupenda!) e a orgasmática “This Godless Endeavor” (que ficou de fora no show da capital paulista). Essa composição, faixa título do álbum lançado em 2005, é de uma qualidade absurdamente soberba, uma obra de proporções épicas. Os fãs mais ardorosos ali presentes perderam totalmente a noção de tempo e espaço durante seus quase nove minutos de duração. E para acabar de vez o repertório, que contou com duas dúzias de canções (mais que no ano passado), veio a paulada “Born”, que abriu algumas rodinhas no meio da platéia mais próxima ao palco.
Um cara como Warrel Dane merece todo o respeito e admiração de quem aprecia música pesada. Mesmo com sua voz mudando com o passar dos anos (a idade avança para todos), o cara se mantém um artista completo. Ele também é muito solícito, na medida do possível, com seus fãs, atendendo até mesmo aqueles mais chatos com a coleção completa do Nevermore para autografar…
Setlist Warrel Dane
Narcosynthesis
We Disintegrate
Inside Four Walls
Evolution 169
The River Dragon Has Come
The Heart Collector
Engines of Hate
The Sound of Silence
Insignificant
Believe in Nothing
Dead Heart in a Dead World
I, Voyager
Dreaming Neon Black
Emptiness Unobstructed
Messenger
My Acid Words
Sell My Heart For Stones
Enemies of Reality
This Godless Endeavor
Born