Texto por Rodrigo Gonçalves – Fotos por Allan Barata – Edição por André Luiz
Os fãs cariocas de heavy metal que compareceram ao Circo Voador no último domingo tiveram uma Páscoa pra lá de diferente com os shows do Project46, Obituary e Paul Di’Anno. A “Páscoa Metal”, como alguns apelidaram o evento, levou um bom número de pessoas em pleno feriado a lendária casa de shows carioca.
Abrindo a noite tivemos a participação do Project46, banda que está escalada para tocar no próximo Rock in Rio. O grupo paulista se apresentará no palco Sunset ao lado de nomes como Lamb of God e Deftones, no dia que terá System of Down e Queens Of The Stone Age como headliners. A banda de São Paulo aproveitou bem a oportunidade e fez excelente uso de seu tempo em cima do palco, mesmo com o pouco público presente que se encontrava na casa de shows durante sua apresentação, na qual tocaram músicas de seu segundo álbum como “Caos Renomeado” e “Foda-se”.
O Obituary retornou aos palcos cariocas apenas 11 meses após sua estreia, em maio do ano passado. À época, a banda estava envolvida com a gravação de seu mais novo trabalho de estúdio, Inked In Blood, lançado em outubro. Em termos de setlist os americanos conseguiram uma boa mescla entre as músicas novas e os clássicos. Do novo disco, um dos melhores lançamentos do ano passado, foram tocadas quatro canções: as excelentes “Centuries of Lies”, “Visions In My Head”, “Back on Top” e “Inked In Blood”. O restante do show foi composto por clássicos de um dos maiores expoentes do tradicional death metal da Flórida. Temas como “Infected”, “Don’t Care”, “Violence” e “Back To One” fizeram o público agitar do começo ao fim. Mas foi durante a execução de clássicos do naipe de “I’m In Pain” e “Slowly We Rot” que o público presente ao Circo Voador transformou a pista sob a icônica lona do Circo em uma praça de guerra.
A formação atual do Obituary é a melhor da banda desde o retorno em 2005 com o álbum ‘Frozen In Time’. O grupo que agora conta o baixista Terry Butler, veterano da cena do death metal da Flórida e que já trabalhou com bandas como Death, Massacre e Six Feet Under, forma uma dupla entrosada com o excelente baterista Donald Tardy. Além disso, a banda encontrou também em Kenny Andres um bom parceiro para o guitarrista Trevor Peres. No comando de tudo, o vocalista John Tardy mostrou porque é considerado um dos maiores do death metal e comandou o massacre sonoro com seu marcante vocal rasgado.
Dando sequencia ao evento, na última vez em que se apresentou no Rio de Janeiro, o vocalista Paul Di’Anno havia anunciado que aquela seria a última turnê da sua carreira. Desde então, Paul mudou de ideia e resolveu seguir em frente, prometendo até mesmo um novo álbum de estúdio com sua nova banda, chamada Architects Of Chaos. O fã do Iron Maiden que ainda existe em mim adoraria vir aqui e dizer que foi um show excelente, ainda mais com a premissa de se ouvir na íntegra as músicas do primeiro disco da Donzela de Ferro na voz de seu cantor original. Mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu. Os fãs que compareceram ao Circo Voador no geral tiveram uma experiência desagradável com o show de Paul Di’Anno.
Pouco antes da turnê brasileira começar, o vocalista se envolveu em um acidente de moto que causou danos severos as suas pernas. Não querendo cancelar os shows já agendados para o Brasil e deixar os fãs na mão, Paul decidiu seguir em frente e adiar a cirurgia e tratamento médico do qual necessita para poder cumprir seus compromissos. Só que as circunstâncias limitaram severamente o primeiro vocalista do Iron Maiden. Paul necessita do auxílio de muletas para se movimentar e, dada a natureza de seus ferimentos, precisa fazer o show sentado. Até aí tudo bem, não é a primeira vez que um músico se apresenta em situações adversas. O problema é que Paul parecia estar sentindo muita dor e passou boa parte da noite extremamente desconfortável, se desculpando a todo momento com os fãs pela situação embaraçosa em que se encontrava. Além disso, parecia confuso, em diversos momentos esquecia as letras das músicas que estava cantando.
Em seus discursos entre as músicas sobrou até mesmo pitacos sobre a política brasileira e palavras pouco carinhosas para a presidente Dilma Rousseff, o que causou um certo espanto nos presentes. Mas, apesar de tudo, ainda tivemos momentos de destaque, como quando o cantor, emocionado, lembrou do amigo Clive Burr – ex-baterista do Iron Maiden falecido em 2012 – e ofereceu o clássico “Remember Tomorrow” em homenagem a Clive. “Prowler”, “Sanctuary” e “Phantom Of The Opera” fizeram a alegria dos presentes – e parte dos integrantes do Obituary que assistiam o show na lateral do palco e de tão empolgados, pareciam que pediriam para entrar no palco e tocar no resto do show – antes de fecharem a parte dedicada ao Iron Maiden do setlist com a faixa-título do primeiro disco do grupo londrino. O fim do show, inexplicavelmente, ficou a cargo de “Blitzkrieg Bop”, do Ramones e “Anarchy In The UK”, do Sex Pistols quando muitos fãs já deixavam o Circo Voador.
Agradecimentos à André Smirnoff e Blog ‘n’ Roll Produções pelo credenciamento de nossa equipe na cobertura do evento, assim como Rê Reis da assessoria de imprensa do Circo Voador.
