Texto por Clayton Franco – Fotos por Andrea Leopoldo – Edição por André Luiz
O Vale do Paraíba está definitivamente entrando na rota internacional de shows de pequeno porte. Depois de Blaze Bayley (ex vocalista do Iron Maiden) e menos de uma semana após o show de Marty Friedman (ex guitarrista do Megadeth), tivemos a presença de Warrel Dane (ex-vocalista do Nevermore e atual Sanctuary), todos os shows realizados em São José dos Campos na Hocus Pocus Studio & Café.
Antes da atração principal, houve um esquenta com uma banda local. E não estamos falando de qualquer banda, mas sim um dos orgulhos do Metal Nacional, o grupo dos anos 80 do Vale Paraibano: Attomica. Para quem não conhece o grupo, eles iniciaram a carreira em 1985 em São José dos Campos e lançaram 03 discos de estúdio (Attomica em 1987, Limits of Insanity em 1989 e Disturbing the Noise em 1991). Foi exatamente com este terceiro trabalho, calcado no Thrash Metal oitentista, que o grupo atingiu novos patamares e passou a figurar entre as grandes bandas nacionais da época, ao lado de Sepultura, Korzus e Overdose. Após uma longa pausa de vários anos, o grupo retornou com um novo disco de estúdio em 2012, chamado simplesmente de Attomica IV.
Da formação original temos apenas André Rod nas linhas de baixo, mas o grupo se mantem firme em seu propósito com Alex Rangel demonstrando uma incrível potência de voz. E no show ao vivo, é exatamente Alex que se destaca com seu vocal entre canções novas como “Black Death” e “Yakuza” (do último disco, abrindo o show) e petardos antigos como “Marching Over Blood” e “Limits Of Insanity”. Seu carisma com o público é notável, tanto nas brincadeiras entre as canções quanto na interação durante a execução das mesmas. A cozinha segura o tranco com o citado André Rod no baixo e Argos Danckas na bateria. A interação entre Thiago Donizeth na guitarra junto com o mais novo integrante Marcelo Souza em músicas como “Forbidden Hate” e “Deathraiser”, demonstram uma banda afiada que tem tudo para conquistar novamente o espaço que lhes é merecido desde os áureos anos oitenta. Em uma conversa informal com Marcelo Souza, já sabemos que o grupo está compondo para um novo lançamento. Então fica a dica para quem não conhece o grupo, garanto que se surpreenderão positivamente com seu último trabalho, enquanto aguardam o novo petardo.
Set List Attomica
Black Death
Yakuza
Blood Bath
Wanted
Limits of Insanity
Deathraiser
Marching Over Blood
Forbidden Hate
Após uma pausa para troca de equipamentos no palco, chega a vez do show principal. Para aqueles que não conhecem Warrel Dane, ele foi um dos fundadores das bandas Sanctuary e Nevermore. Com esta última, o grupo incorporou diversos elementos de vários estilos de metal (desde o power até o thrash metal, passando por algumas linhas progressivas), transformando sua música em algo único. Apoiado em letras muitas vezes polêmicas (abordando temas como filosofia, teologia e sociologia), o grupo se destacou por mais de uma década (entre os anos 90 e 2000) no cenário internacional, inclusive passando pelo Brasil em 2001 e 2006. Comemorando 15 anos do aclamado disco ‘Dead Heart In A Dead World’, Warrel Dane retornou para terras tupiniquins menos de um ano após sua última passagem pelo Brasil.
O show inicia-se com a instrumental “Precognition” (intro do disco The Politics of Ecstasy), emendada com “Narcosynthesis” (faixa que abre o disco Dead Heart in a Dead World), com Warrel no palco, para alegria geral dos presentes que o saúdam com gritos e aplausos. A partir de então, o que temos é a execução na íntegra e na ordem das original das músicas do petardo ‘Dead Heart In A Dead World’, considerado por muitos como o maior legado que o Nevermore deixou musicalmente. Na época do seu lançamento, o disco foi um divisor de águas no som do grupo devido a Jeff Loomis ter usado uma guitarra de 7 cordas. Tal feito deixou as canções com um peso a mais, um traço de modernidade sem que o grupo perdesse as suas características herdadas do thrash metal. Canções como “We Disintegrate” e “Inside Four Walls” ao vivo demonstraram todo o peso que marcou a carreira do Nevermore. E não é apenas o vocal de Warrel Dane (que se mantém forte e íntegro ao longo dos anos) que agradou o público, mas sim, seu line up de apoio. Johnny Moraes (guitarra, Hevilan) e Thiago Oliveira (guitarra, Seventh Seal, Addicted To Pain) demonstravam entrosamento entre si em canções como “Evolution 169” e “The River Dragon Has Come”. Aliás, foi exatamente com esta canção que Dane emocionou com sua técnica nos agudos, os quais marcaram sua forma de cantar.
O show prosseguia com “The Heart Collector” e “Engines Of Hate”, nas quais podemos apreciar a cozinha competente de Fabio Carito (baixo, Addicted To Pain, Shadowside) e Marcus Dotta (bateria, Addicted To Pain, ex-Skin Culture). Em suas execuções, Dane interagia com o público presente cumprimentando aqueles que estavam na primeira fila e também dedicando músicas aos casais presentes. “The Sound Of Silence” foi uma das que mais animaram, com todos cantando a letra do início ao fim. Em “Insgnificant” e “Belive In Nothing”, o show dava indícios que a primeira parte já estava se findando. “Dead Heart In A Dead World” encerrou o set. Warrel e os músicos que o acompanham deixam o palco sob gritos e aplausos dos presentes.
Se a primeira parte do show era conhecida dos presentes devido a execução na íntegra do disco que dá nome a tour, a segunda parte era uma incógnita para muitos, inclusive a deste repórter que não procurou anteriormente qual a listagem executada nos shows anteriores (a surpresa do momento sempre é mais agradável). O grupo retorna ao palco com “Ophidian” (intro do álbum Dreaming Neon Black) seguida por “Enemies Of Reality” (disco homônimo). Com participação em uníssono dos presentes, temos “Dreaming Neon Black” (disco homônimo), uma das canções mais vibrantes da noite demonstrando a sintonia entre vocalista e público. Do último disco de estúdio do Nevermore, tivemos a execução de “Emptiness Unobstructed”, seguida por “Messenger” que representou muito bem o disco solo de Warrel Dane. E o show já se findava com “Sell My Heart For Stones” e “This Godless Endeavour”. Muitos acharam que esta seria a última canção do show, então Dane anuncia a derradeira faixa que encerraria a maravilhosa noite que presenciamos. Agradece a todos os presentes, dizendo o quanto estava sendo especial o dado momento, e que gostaria muito de voltar a São José dos campos nas próximas vezes que viesse ao Brasil. Warrel despede-se do público e pede que abracemos nossos pais ao chegar em casa, executando “Born” para findar a noite.
O grupo deixou o palco com a sensação de dever cumprido, mas muitos ficaram com a pulga atrás da orelha, pois diversas vezes quando alguém da plateia pedia alguma canção do Sanctuary, Warrel dizia um sonoro ‘não’ entre risadas, falando para aguardarmos vindouras surpresas. Acredito que futuramente, com o retorno de Warrel ao Sanctuary, teremos uma turnê deles no Brasil para saciar a sede de quem queria ouvir canções mais antigas deste seminal grupo que deu origem ao Nevermore. Despeço-me agradecendo novamente aos nossos leitores que me acompanharam em mais uma resenha e ao Marcio Santos (produtor da Hocus Pocus Studio & Café) que possibilitou a cobertura do evento através do credenciamento do nosso veículo de imprensa.
Set List Warrel Dane:
Precognition
Narcosynthesis
We Disintegrate
Inside Four Walls
Evolution 169
The River Dragon Has Come
The Heart Collector
Engines Of Hate
The Sound Of Silence
Insignificant
Believe In Nothing
Dead Heart In A Dead World
Ophidian
Enemies of Reality
Dreaming Neon Black
Emptiness Unobstructed
Messenger
Sell My Hearth For Stones
This Godless Endeavour
Born
Excelente matéria. O show foi fantástico!