Entrevista por André Luiz – Imagens por divulgação e Facebook Rodrigo Sinopoli – Edição por André Luiz
Originada em São Paulo, capital, a banda Primator possui seis anos de existência e lançou a pouco seu debut album. Intitulado “Involution”, o trabalho possui 10 faixas utilizando como tema central a evolução de Charles Darwin porém em um processo retroativo, e como explicar esta temática? O próprio autor nos apontará a direção, em um bate-papo exclusivo com Rodrigo Sinopoli, vocalista da Primator e também responsável pelas letras e arte de capa do citado trabalho, o qual além de dissecar o conceito de “Involution” durante esta conversa, também abre espaço para comentários sobre a cena metal no país e a expectativa pela apresentação em SP junto ao Dark Avenger no GIllan’s Inn.
André Luiz – Primeiramente, é um prazer conversar novamente contigo Rodrigo. A banda possui 06 anos de existência com shows em diversas casas da noite paulistana, com composições autorais sendo apresentadas ao público. De que forma vocês chegaram a conclusão de que era o momento para um trabalho de estúdio? Ocorreram mudanças de formação no decorrer deste período?
Rodrigo Sinopoli – Olá André, o prazer é todo meu em falar contigo novamente. Exatamente, foi durante estes shows que vimos a necessidade de um trabalho definitivo que nos desse a oportunidade também de ampliar nosso tempo de apresentação no palco de uma forma completa e totalmente autoral. Neste período, a formação da banda permaneceu intacta, inclusive durante as gravações para o álbum.
André – A produção do “Involution” ficou a cargo de Daniel de Sá. Como vocês chegaram até o Daniel? De que forma a bagagem em casas paulistanas influenciou no trabalho de estúdio da banda?
Rodrigo – O Daniel e o Diego Lima, nosso guitarrista, são amigos de longa data. Chegaram até mesmo a tocar juntos. Foi através deste contato entre os dois que tivemos a oportunidade de estreitar os laços.
Particularmente, eu já conhecia o grande trabalho do Daniel como baterista, mas não imaginava o excelente produtor que demonstrou ser ao longo desses anos. O período de gravação se tornou muito mais fácil e prazeroso com a ajuda dele, sem dúvidas.
Esta bagagem adquirida com os shows, sempre influencia num trabalho mais focado, de estúdio no caso, pois nos permite saber quais são as músicas e o estilo que agrada mais o público, nos dando a oportunidade de seguir determinadas tendências e reformular algumas estruturas quando necessário.
Este é um processo em constante evolução.
André – Sendo autor das letras das 10 faixas do “Involution”, como você definiria o processo de composição e linha de evolução da linguagem do álbum, desde letras de cinco anos atrás como ‘Deadland’ até as terminadas em estúdio como ‘Caroline’? Houve gravações anteriores em forma de demo ou single com músicas compostas há mais tempo?
Rodrigo – De 2009 a 2012, o foco era finalizarmos as composições, embora já notasse uma semelhança entre as temáticas adotadas nas letras de forma totalmente involuntária, diga-se de passagem, ainda não havia caído a ficha para o tema da involução.
Após a gravação do nosso autointitulado EP, no mesmo ano de 2012, busquei mais referências que ajudassem a criar um conceito para o álbum oficial e estabelecesse relação direta com o que já havia sido feito até então.
A partir daí, pude sincronizar melhor as ideias e chegar ao tema final para o álbum, tratando o mesmo assunto em contextos e ângulos diferentes.
André – Completando o questionamento anterior, no release divulgado é citada a obra “A Origem das Espécies” de Charles Darwin como uma das bases do conceito de “Involution” e a definição do álbum como a “observação da atual condição humana”. Explique por favor a base citada que fundamenta este trabalho e sua influência no produto final oferecido ao público.
Rodrigo – Em uma de suas dissertações, Darwin afirma que existem mais semelhanças entre o cérebro de um ser humano e de um animal do que podemos compreender.
Basicamente, o que fiz foi traçar um paralelo entre a evolução das espécies e o resultado da trajetória do ser humano e o que isso trouxe para o cenário ao qual criamos e fazemos parte.
Todas as experiências negativas que vivemos hoje estão totalmente relacionadas com esta evolução frenética e a necessidade absurda que o homem sempre teve em manter a sua espécie no topo da pirâmide sem medir esforços para isso.
André – Assim como as letras, a arte da capa também é de sua autoria. A figura, ao meu ponto de vista, remete a evolução do homem conforme a teoria de Darwin, passando do macaco ao homem e terminando em uma figura um tanto quanto bestial, diria que um gorila bestial, algo como voltar a origem primitiva, porém com um teor maligno. Explique a interligação entre a arte de capa e as letras na ‘involução’ proposta pela banda Primator na mensagem deste álbum.
Rodrigo – Na verdade, existe um retrocesso do ciclo que nos acostumamos a ver e estudar. A escala está invertida e possui este ser bestial como elemento somatório.
É como se existisse um “arrependimento” da dita evolução, o homem tenta retroceder e acaba esmagado por sua própria ganância, por seus ideais predatórios, representados no caso por este monstro, que é a síntese do que nos tornamos atualmente de uma forma geral.
Nas letras do álbum e principalmente na ‘Involution’, existe a conotação direta com o tema através de críticas sociais, políticas e até mesmo religiosas, tudo contextualizado com as atitudes do homem.
André – Esta ‘involução’ citada se comparada ao âmbito político atual, em meio a manifestações, denúncias de corrupção, debates acalorados entre simpatizantes de partido A ou B que estão ou já estiveram no poder seja em esfera nacional ou estadual, problemas hídricos, aumento dos preços… Poderíamos dizer que estamos em um estágio bestial como o apresentado na arte de capa ou estamos a alguns ‘australopithecus’ e ‘pitecantropus’ de distância deste?
Rodrigo – Estamos no caminho deste estado sim, sem sombra de dúvidas.
Além dos problemas locais que citou, não consigo enxergar nada mais bestial do que as tantas “guerras religiosas” que são travadas mundialmente por petróleo ou território.
Algo impossível de acontecer entre as outras espécies com as quais dividimos o planeta.
André – Logo após assistir a performance da banda em um evento de apresentação do novo álbum à imprensa, ao conversar contigo, minha primeira questão foi sobre seu embasamento técnico e histórico como vocal (afinal, após a audição das faixas ‘Caroline’ e ‘Primator’, fiquei impressionado com a variação de tons e principalmente o alcance de voz demonstrados). Comente sobre seu histórico com a música e a importância de Leandro Caçoilo (ex-Eterna) no desenvolvimento como vocalista.
Rodrigo – Meu primeiro contato com a música se deu no final da década de 80. Com seis anos eu já curtia Iron Maiden e dublava o Sebastian Bach nas tantas exposições do Skid Row que tínhamos no rádio na época, que não rotulava os estilos como faz hoje.
Cresci escutando coisas como Black Sabbath, Judas, Dio, Helloween, Saxon, Queensryche e quando achava que conhecia tudo, me deparei com outras riquíssimas vertentes do rock e até mesmo com a música clássica, ao qual me aprofundei e obtive minha base para estudos, até então de forma totalmente autodidata.
Com 14 anos ingressei numa banda cover de Helloween, onde pude aprimorar algumas técnicas vocais; aos 17, já mais eclético, cantava num tributo a Bon Jovi e após isso começou a surgir uma necessidade pessoal de voltar às origens do Heavy Metal e crescer dentro dele.
Após um hiato de produtividade musical, no período que antecedeu decisões relacionadas a cursos superiores, já conhecia bastante a cena nacional e seus protagonistas. Foi aí que, mesmo sem participar de nenhum projeto relacionado, resolvi entrar em contato e tomar aulas com o Caçoilo.
Sempre o enxerguei como dono de uma voz única e técnica indiscutivelmente aprimorada e naquele momento eu buscava, acima de tudo, maior identidade musical, cantar com minha própria voz e ser eu mesmo, independente de minhas influências.
Por incrível que pareça, este contato com ele, apesar de breve, me transmitiu tudo o que sei hoje sobre técnicas de respiração, aquecimento e desaquecimento vocal, a importância de uma boa alimentação e controle de diafragma.
Ainda hoje, vejo o Leandro como um dos vocalistas mais talentosos e cuidadosos com seus atributos técnicos, além de ser um cara fantástico.
André – Influências do heavy metal oitentista são nítidas no trabalho da banda, mas a Primator sempre procura deixar claro que prioriza a autenticidade em seu material. Em meio a tantos rótulos e comparações, como você definiria o papel da Primator no cenário musical atual? Até pela experiência em casas noturnas, como você vê a situação de bandas autorais de heavy metal no Brasil e o suporte de selos e gravadoras independentes? A divulgação por meios virtuais ajuda ou atrapalha este trabalho?
Rodrigo – No cenário atual, podemos dizer que somos uma banda de heavy metal tradicional e fazemos a música que nos agrada, acima de tudo.
Obviamente existe a preocupação de não soar com similaridade às nossas influências, mas ainda assim elas são inegáveis, até pela importância que têm para a banda e para a cena.
Hoje no Brasil, existe uma onda de bandas que seguem o caminho do metal mais extremo e outras tantas que permeiam o Power, mas poucas apostam no básico e no que originalmente nos trouxe até aqui. Isso talvez seja um ponto positivo a nosso favor no meu ponto de vista.
Quanto à internet e a divulgação por meios virtuais, são apenas mais ferramentas ao nosso dispor.
Percebo que hoje o apoio de selos e gravadoras é importante apenas pelo lado financeiro e embora toda ajuda seja bem vinda, temos conseguido nos virar bem por conta própria.
O que mais dificulta para as bandas é a falta de compromisso que o público em geral adquiriu negativamente em se contentar com downloads e Youtube ao invés de comprar o material e frequentar os shows.
Ainda tenho esperança de que isso mude, pois na minha concepção, não existe nada que substitua o contato direto e o calor de um show ao vivo.
André – O show de lançamento do “Involution” será no Gillan’s Inn ao lado do Dark Avenger, banda com 20 anos de estrada e que possue como frontman um dos melhores vocalistas que pude presenciar ao vivo até hoje, Mário Linhares. Soubemos que para este show haverá uma estreia no lineup da Primator. Quais são suas expectativas com relação ao evento e conte-nos detalhes a respeito desta estreia.
Rodrigo – A expectativa é a melhor possível! O show de lançamento do Involution ao lado deles partiu de um convite pessoal meu para o Linhares, que sempre foi o meu vocalista predileto no Brasil. Este show não é nada menos que a realização de um sonho para mim e para a banda.
Com relação ao lineup, no mesmo dia também será apresentado o novo baterista da banda. Trata-se de uma jovem promessa que entra no lugar do antigo baterista, o Birão, que saiu da banda após o término das gravações por problemas pessoais e não poderia nos acompanhar nos próximos shows após o lançamento do álbum. Estamos certos de que a estreia será incrível, pelo que sentimos e pudemos ouvir nos ensaios até agora. O garoto tem muita pegada!
André – Agradeço a atenção e deixo aberto o espaço para os comentários finais. Parabens pelo trabalho e nos encontramos nos próximos eventos.
Rodrigo – Agradeço mais uma vez a oportunidade da entrevista em nome de toda a Primator e desde já te parabenizo pela qualidade e teor das perguntas. Muito legal mesmo!
Desejamos que todos desfrutem do Involution ao máximo, tenham uma ótima experiência ao escutá-lo e que o senso crítico presente nas músicas sirva como primeiro passo para uma era de mudanças positivas.
Muito obrigado pelo apoio e esperamos vocês nos shows. A receptividade do público é a melhor forma de avaliarmos a relevância do nosso trabalho.
Um grande abraço à todos e continuem apoiando a cena!
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