Texto por Arony Martins – Edição por Rodrigo Gonçalves
Quando anunciada em outubro do último ano as apresentações de Steve Hackett tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, muito provavelmente para todos aqueles que por mais de 30 anos esperaram por uma nova oportunidade de assistir a execução ao vivo dos maiores clássicos de um dos maiores e mais importantes grupos de rock progressivo da história, o sonho estava muito perto. E assim o guitarrista original da banda inglesa Genesis estava a caminho novamente das terras brasileiras, terras essas inclusive que conhece muito bem. Para quem não sabe Steve foi casado por muitos anos com Kim, uma brasileira radicada na cidade fluminense de Petrópolis.
Quando fui convocado para escrever essa matéria imediatamente fui tomado das mais longínquas memórias. No ano de 2001 ao visitar o destacado bairro carioca de Paquetá para um trabalho, tive a oportunidade de conhecer um familiar de Kim e o mesmo ao perceber meu carinho para com a banda, imediatamente abriu uma caixa onde estava toda a discografia setentista, autografada e dedicada por Hackett. Eis que o primeiro disco que surge em minha frente foi “A Trick of the Trail”, penúltimo álbum de Steve com o grupo. E curiosamente às 20 horas e 18 minutos do dia 8 de março de 2015, acompanhado de Roger King (teclados), Gary O’Toole (bateria, percussão e vocais), Rob Townsend (sax, flauta e percussão), Lee Pomeroy (baixo) e do performático Nad Sylvan (vocal) o ex-guitarrista do Genesis abre a promissora apresentação com a energética “Dance on a volcano” faixa que abre seu último trabalho com a banda.
A competência dos músicos escolhidos para compor a tour Genesis Revisited II é inquestionável, tendo a voz de Nad chamado bastante atenção por ter seu timbre muito próximo ao do vocalista original da banda inglesa Peter Gabriel. Steve arriscou algumas palavras em português em sua saudação arrancando risadas do público ao dizer que esqueceu todas as palavras no idioma. O set continuou com a também faixa de “A Trick of the Trail”, “Squonk” e “Dancing with the moonlight knight” do clássico álbum “Seling England by the pound”.
A instrumental “Fly On The Windshield” e “Broadway Melody”, ambas do álbum “The Lamb lies down on Broadway” último trabalho de Peter com o grupo inglês foram executadas em sequência sendo a última cantada por Gary O’Toole, baterista da banda. Antes da belíssima “The return of the giant Hogween” Steve Hackett fez referência ao álbum que abriga a faixa “Nursery Crime”, o terceiro do grupo britânico, como um álbum velho arrancando ainda mais risos do público que àquela altura era pura alegria.
Em “The Fountain of Salmacis” Hackett expressou todo seu carinho por essa que para ele é uma de suas músicas favoritas. Em “The Musical Box” também do disco “Nursery Crime” tanto Steve quanto sua banda foram ovacionados pelo público não sendo incomum observar lagrimas descerem dos encantados rostos fossem esses jovens ou idosos. Não tínhamos chegado a metade da jornada e os corações já claramente não aguentavam de tanta emoção. E com a mais do que famosa “I know what I like” também do majestoso “Seling England by the pound” todos cantaram juntos como em um coral regido pelos acordes da sensível guitarra de Steve Hackett. Durante a execução da música o público foi presenteado com um solo de flauta criativamente tocado por Rob Townsend.
“Horizons” do ótimo “Foxtrot” antecedeu talvez um dos momentos mais esperados por todos: “Firth of Fifth”. E valeu a espera inclusive tendo o público a oportunidade de ouvir o lindíssimo solo de flauta executado originalmente por Peter Gabriel sendo tocado com um Sax por Rob, uma pequena mudança mas que com certeza deu outra cor a canção. Na sequência o público se deliciou com a ótima “Lilywhite Lilith” faixa de “The lambs lies down on Broadway”, “The Knife” também de “Trespass” e fechando o set com a épica “Supper´s Ready” do álbum “Foxtrot” acrescida da bela performance do ótimo vocalista Nad Sylvan interpretando-a com maestria.
Para o bis estavam reservadas “Watcher of the skies” também do lendário “Foxtrot”, com mais uma sensacional interpretação de Nad ao encarnar o próprio observador, personagem da música, e para finalizar a magistral “Los endos” do fantástico “A Trick of the Trail”. A essa altura o público acompanhava o concerto de pé, não era mais possível ficar inerte diante de tantas e maravilhosas canções. Ao final da apresentação a única coisa que se pensava era nas boas lembranças que cada um levaria para os restos de suas vidas. Para aqueles que não puderam assistir a apresentação de 1977 no ginásio do Maracanãzinho ficou a gratidão por terem tido a possibilidade de vivenciar um pouco daquela noite que ficou para a história musical da cidade. E se levarmos em consideração o que disse Steve Hackett em recente entrevista sobre a possibilidade de um retorno da formação original do Genesis, quando esse diz que o atual trabalho é o mais próximo que chegaríamos em relação a fase setentista da banda, de fato é bem difícil não sair do concerto com a ótima sensação de que não somente vimos um fantástico espetáculo, mas que como toda certeza essa oportunidade foi única.
Agradecimentos a assessoria da Time For Fun pelo credenciamento e tratamento cordial com a equipe do Metal Revolution.