Texto por Clayton Franco – Fotos por Espaço das Américas – Edição por André Luiz
Metall All Stars. O que seria isso? Uma nova mega banda juntando grandes (e nem tão grandes) astros do Rock, ou uma Jam de músicos sobre o palco tocando vários clássicos do Rock? Juntar várias celebridades do metal sobre o mesmo palco não é uma idéia ruim, pelo contrário, é muito boa. Mas tudo pode vir a ruir se não há antes um ensaio prévio, uma afinidade no palco, se não houver uma conversa anterior ao show entre os músicos. Então, pensando por este lado, resolvi encarar o show não de uma banda, mas sim de uma grande Jam improvisada, um tributo ao metal com grandes músicos sobre o palco. Mas antes de falar do show principal, tivemos bandas de aberturas.
O primeiro grupo da noite foi o Capadocia, banda formada no ABC paulista. O grupo tem uma carreira relativamente curta, pois estão na ativa desde 2011. Lembro deles abrindo o show do Cavalera Conspiracy em sua última Tour pelo Brasil. A casa ainda estava bem vazia quando eles subiram ao palco (por volta das 21h), e se não bastasse a escassez de público em seu show, muitos que lá estavam não conheciam o grupo. O show foi rápido e não empolgou os presentes com exceção dos covers do Metallica e do Slayer que o grupo tocou. Após o rápido set do Capadocia, foi a vez do Project 46. Tal grupo já é mais conhecido no cenário musical, tendo inclusive tocado no Monsters of Rock do ano passado. O grupo também sofreu com o pouco público que ainda estava adentrando a casa, mas não se deixou abater fazendo um show honroso e dando o suor sobre o palco. A recepção à banda já foi maior, visto que algumas de suas músicas já são conhecidas e animou os poucos presentes. Infelizmente seu som foi prejudicado, pois em alguns momentos a guitarra estava alta demais e estridente, e em outros sumia completamente. Uma pena, pois a banda subiu ao palco com muito potencial.
Era chega a hora do último show de abertura da noite, e com a casa já relativamente cheia, o Korzus subiu ao palco para uma apresentação digna, mas com problemas. Digna, pois quem conhece o grupo e já presenciou o show dos mesmos, sabem o quanto eles são bons sobre um palco e o quanto tocam com garra e força dando tudo de si. Basta ver o show que fizeram no encerramento do MOA, onde seguraram a barra de fechar o festival cheio de problemas. Os problemas foram sentidos pela falta de seu baixista no grupo que não pôde comparecer ao show. Dick Siebert veio a ter um acidente alguns dias antes do show e passou por uma cirurgia no braço direito. Foi substituído meio que as pressas por Soldado (ex integrante do grupo) e por isso o set list foi baseado em músicas antigas do grupo. Isto impediu o grupo de fazer um set list novo com a divulgação do seu último álbum de estúdio chamado “Legion”. Portanto, o set list foi o mesmo tocado em sua última tour com a adição de duas músicas do novo álbum apenas. Nada que desmereça a apresentação que contou com um som bem regulado (algo que não se viu nas primeiras apresentações).
Era chegado o momento do show principal da noite, e já se passava dá 1h da manhã. As cortinas se abrem e vemos David Ellefson (Megadeth), Ross the Boss (ex-Manowar) e Rodrigo Oliveira (Korzus) junto com a cantora Kobra Paige. Essa formação já foi uma surpresa, pois em nenhum momento havia sido divulgado que artistas nacionais tocariam com o Metal All Stars. A presença de Rodrigo Oliveira já demonstrava que haveriam “tapa buracos” no show para compensar as ausências de gringos informadas dias antes pela produção. O grupo abriu o show com “Kings of Metal” sendo seguida por “Fear of the Dark”. Ai já ficou claro o modo como o show seguiria o qual já descrevi no primeiro parágrafo. Seria uma grande Jam, sem muitos ensaios e bastante improvisos. Ficou nítido isso com Ross errando a introdução de Fear of the Dark e Kobra Paige sofrendo para lembrar a letra toda da canção. O que restava era se conformar e se divertir, encarando isso apenas como um tributo aos clássicos do rock. O grupo ainda tocou outro cover do Manowar, “Hail and Kill” e após Ellefson perguntar se os presentes gostariam de ouvir algo do Megadeth, o guitarrista Bill Hudson (brasileiro que toca no Circle II Circle) se juntou ao grupo para tocar “Symphony of Destruction”.
O grupo sai do palco com Vinny Appice continuando, mas agora com Geoff Tate nos vocais e Kiko Loureiro do Angra nas guitarras. A presença de Kiko animou a muitos na platéia, embora a grande maioria esperasse Gus G (guitarrista do Ozzy) que tinha sido anunciado no Metall All Stars mas deu furo nos shows. Com esta formação no palco o grupo manda “Neon Knights” do Sabbath, e embora Tate já a tivesse gravado com o Queensrÿche no cd “Take Cover”, ele errou a entrada da música e a letra. Vimos em seu rosto que ele ficou nitidamente sem graça. Kiko também não deixou por menos e errou em alguns momentos, entre eles na introdução e nos solos de “Jet City Woman”, cover do Queensrÿche durante a qual Kobra Paige retornou ao palco para se juntar a Geoff Tate nos vocais. Este set com Geoff foi extremamente curto, apenas com duas músicas. O grupo sai do palco, pois uma nova formação subiria ao palco.
James LaBrie, vocalista do Dream Theater e um dos mais aguardados da noite, subiu ao palco com Baffo Neto (Capadocia), Vinny Appice (que continuou como batera durante toda a noite), Felipe Andeoli (baixista do Angra) e Rodrigo Simão (tecladista do Dr Sin) para tocar “I Got You”, canção do disco solo de LaBrie. A presença dos músicos nacionais, embora engajados e dando o melhor de si, não escondeu o fato de não ter havido ensaios e suas participações foram marcadas de última hora. Isso se refletiu no som, que além de estar embolado contou com andamento errado da canção e novamente alguns erros em sua execução. Rodrigo Oliveira (Korzus) e Bill Hudson voltaram ao palco para “Pull Me Under”, o único cover do Dream Theater que LaBrie cantou, de forma muito mais aguda do que ela originalmente foi gravada. Logo após, LaBrie anunciou que a próxima atração da noite seria seu amigo Max Cavalera, chamando-o para o palco. Mas, Max simplesmente não subiu ao palco e toda a banda ficou olhando para os lados procurando ele. Será que teríamos mais uma baixa de última hora no grupo?
Longos minutos se passaram, o clima estava tenso no ar e na plateia, mas finalmente Max subiu ao palco sendo ovacionado em peso por todos presentes. Iniciou o seu set com “Roots Bloody Roots” acompanhado por Rodrigo Oliveira, Baffo Neto, David Ellefson e Ross the Boss na segunda guitarra. Seu set foi o primeiro a realmente agitar a galera na pista, sendo que a canção foi cantada em uníssono. Após a clássica canção do Sepultura, ainda tocaram “Eye for an Eye” do Soulfly e encerraram o show com “Ace of Spades”, cover do Motörhead que embora tenha sido muito bem executado, sofreu com a péssima regulagem do som das guitarras emboladas e cobertas pela bateria.
Então, deu-se mais um momento de tensão no ar. As cortinas se fecharam e não foi anunciado nada. 10…15…20…25 minutos se passavam e nada. O povo já começava a gritar e a vaiar, quando com 30 minutos de atraso as cortinas se abrem e começa o set de Zakk Wylde (ex guitarrista do Ozzy e atualmente com seu grupo Black Label Society), Blasko (baixista do Ozzy) e novamente Vinny Appice na bateria. O atraso de meia hora valeu a pena, pois foi um tempo utilizado para arrumar o som da casa. Se nas apresentações anteriores ele estava estourado e cheio de ruídos (com guitarras que hora estavam estridentes e altas e outras vezes sumia completamente), com a apresentação final o som estava muito diferente. Bem arrumado, limpo e audível a todos os presentes. Uma pena, terem deixado a arrumação do som apenas para o final.
Com a regulagem perfeita, o grupo fez um verdadeiro tributo ao Sabbath antigo, iniciando o set com “Into the Void” e emendando com “Fairies War Boots”. Tudo corria para ser a melhor apresentação da noite: Bom som, boa regulagem, ótimos músicos, e músicas clássicas de um banda que é um dos pilares do metal. Tudo corria bem, se não fosse o individualismo de Zakk nas guitarras. O cara é bom, reconheço isso, mas insistiu em tocar os clássicos do Sabbath da mesma forma que toca suas canções do Black Label Society. Ou seja, encheu as músicas com longos solos e improvisações e fritava as cordas toda hora que podia. Foi com esse jeito de tocar que o show seguiu com “N.I.B.” e “Snowblind”, encerrando a noite com “War Pigs” cantada por todos os presentes. As cortinas novamente se fecham e o público não arreda o pé da casa. Todos esperam uma grande Jam no final, com todos os músicos do Metall All Stars no palco. Talvez uma última surpresa. Mas, ela não ocorre. Vendo os rodies subindo para desmontar equipamentos, fica claro que beirando as 4h da manhã o show finalmente havia se encerrado.
Algumas questões ficam no ar após a apresentação. Muito foi divulgado sobre a presença de outros grandes nomes do Metal. Problemas entre produtor nacional e internacional a parte (não nos cabe aqui avaliar o mérito desta questão por não estar ciente dos detalhes contratuais envolvidos), já com relação ao evento em si, o horário do show avançando madrugada a dentro até quase 4h dificulta os usuários de transporte público (no frio da noite, o que mais se viu foi fãs esperando o metrô abrir para ir embora). Deixo aqui meus abraços a todos que leram esta resenha e meus agradecimentos a Damaris Hoffman pelo credenciamento de nosso veículo para a cobertura do show, e a Agencia Top Entretenimento por ter trazido o show ao Brasil, que embora cheio de percalços, batalhou muito para que o mesmo ocorresse e merece os créditos por este trabalho árduo.