Entrevista por Clovis Roman – Tradução por Rodrigo Gonçalves – Edição por André Luiz
Divulgando o recente álbum “Conjuring The Dead”, a banda austríaca Belphegor aporta no Brasil para 04 apresentações em dezembro de 2014. Helmuth Lehner, líder e fundador da banda, em conversa exclusiva com o Portal Metal Revolution, comentou sobre o novo trabalho junto ao produtor Erik Rutan, os problemas de saúde os quais enfrentou ao final de 2011, ideologias e toda temática que envolve o auto rotulado “Death Metal Diabólico” dos austríacos.
Clovis Roman – Após gravarem três álbuns com Andy Classen e “Blood Magick Necromance” com Peter Tägtgren, no novo álbum vocês trabalharam com o produtor Erik Rutan. Como foi o processo de produção e gravação de “Conjuring The Dead”?
Helmuth – Voar para os Estados Unidos e gravar o álbum na Flórida com Erik Rutan foi absolutamente a decisão correta. A colaboração foi excelente, melhor do que esperávamos. Minhas guitarras nunca soaram tão precisas em um álbum do Belphegor. Se você aumentar bastante o volume, parecem duas metralhadoras disparando uma contra a outra.
Os três produtores têm o seu estilo e maneira de se trabalhar com uma banda como o Belphegor. Todos fizeram um trabalho fantástico, foi um excelente trabalho de equipe. Mas já que estou promovendo o novo álbum, “Conjuring The Dead”, falarei mais sobre este disco.
Quando entramos no estúdio já tínhamos, digamos, cerca de 80% do trabalho pronto, o resto estava aberto à experimentação, criatividade, arranjos de último minuto. Isso é ao mesmo tempo excitante e desafiador.
Eu sou o principal compositor de letras e riffs. E como também sou o vocalista, sei em qual direção as músicas devem seguir. Então gravo todas as ideias que tive e mando para o Serpenth. Na sala de ensaio, quando começamos a trabalhar nas faixas com bateria, nosso baixista Serpenth traz suas próprias ideias sobre o que ele quer adicionar ou mudar. Ele dedica atenção especial aos padrões de bateria e as músicas começam a tomar forma. Às vezes precisamos apenas de alguns meses, como aconteceu com “Black Winged Torment”, às vezes precisamos de anos como com “Rex Tremendae Majestatis”, ou se não confiamos numa determinada faixa, simplesmente a deixamos de lado. O novo álbum é como se fosse uma espécie de “Best of Belphegor”.
Clovis Roman – Existe alguma relação entre o título do novo álbum e os problemas de saúde que você enfrentou recentemente?
Helmuth – Os mortos me conjugaram… Mas eu sobrevivi a esses tempos difíceis e estou de volta com o gás todo. Em 4 de outubro de 2011, passei por uma cirurgia complicada que salvou a minha vida. Demorei quase um ano para poder voltar e estar apto a me apresentar novamente. Os primeiros meses após a cirurgia foram difíceis, eu não podia tocar música, o que era frustrante. Além disso, as dificuldades encontradas durante o processo de recuperação não ajudaram em nada.
É preciso subir para poder descer e descer para poder subir, como diz em uma das faixas de nosso último álbum, “Blood Magick Necromance” (2011). Estou grato por poder tocar guitarra, liderar minha banda novamente. A sensação é ótima e estou muito grato por isso.
Eu nunca trabalhei tanto em um álbum. Sempre tive na minha cabeça, e temi após a doença que ameaçou a minha vida, que esse podia ser o último álbum do Belphegor. Por isso não quis ficar de brincadeira, quis fazer as coisas absolutamente da maneira correta.
Meus problemas de saúde e recuperação realmente afetaram tudo com relação ao novo álbum, a banda, minha vida. E é por isso que as músicas em Conjuring The Dead soam mais brutais, extremas e cruas, nós colocamos muitos elementos épicos nelas, concentramos na brutalidade death metal e melodias obscuras. Bem na sua cara. No novo álbum nós celebramos o Death Metal Diabólico.
Clovis Roman – A edição especial do novo álbum vem com um DVD bonus que conta com algumas faixas ao vivo. O Belphegor é famoso por suas apresentações intensas, existem planos para a gravação de um CD e DVD ao vivo?
Helmuth – A essência do Belphegor, nossa magia é celebrada em cima do palco. Nós somos uma banda que adora se apresentar ao vivo, somos conhecidos por nossos shows intensos. Existem poucas bandas hoje em dia que ainda podem apresentar uma tempestade de músicas extremas e violentas num show. Queremos lançar um DVD no meio/final de 2015. Muitas pessoas estão pedindo… Por isso precisamos dar a elas o maldito DVD, eles merecem pelo apoio incondicional e admiração que dispensam à banda. O DVD de Conjuring The Dead que veio com o digipack limitado (versão europeia), foi um presente para os fãs leais… Um bônus mesmo. Uma espécie de agradecimento pelo imenso apoio que recebemos dos fãs nesses anos todos. Esses maníacos são a razão pela qual nós ainda podemos fazer o máximo de barulho possível e sair devastando tudo pelo mundo afora, como um maldito Panzer.
Clovis Roman – O Belphegor tem uma vasta discografia, como vocês fazem para preparar um setlist de cerca de uma hora, tendo bastante material para escolher?
Helmuth – Tocar de forma intensa por uma hora é bom, ainda podemos passear pelos lançamentos e tocar diferentes músicas de nossa discografia. Mas nós poderíamos tocar um set de duas horas. O problema é a questão física, esse tipo de música demanda bastante energia/poder para ser tocada ao vivo. Eu curto festivais em locais abertos onde podemos recrutar uma plateia grande, mas na maioria das vezes temos disponíveis 40-50 minutos para tocar. Então fica muito difícil decidir quais músicas farão parte do setlist. O que acontece é que, ao vivo, nós sempre nos concentramos nas músicas mais rápidas, para realmente destruir tudo com músicas rápidas e matadoras, nós despejamos as músicas na audiência com a maior brutalidade possível… Os fãs recebem o puro Death Metal Diabólico.
Clovis Roman – Helmuth, você ficou doente em sua última passagem pelo Brasil em 2011. Naquela época você chegou a mencionar que talvez devesse repensar as turnês desgastantes do Belphegor, além de maneirar nas drogas e na bebida. Isso chegou a acontecer?
Helmuth – Sim, preciso cuidar do meu corpo e eu não consigo mais fazer turnês da maneira que costumava fazer. Tudo antes foi feito em excesso… E eu não me arrependo de nada.
Tendo quase morrido, você pensa por semanas/meses que pode estar vivendo o seu último dia, isso muda quase tudo em sua vida… Mas eu não acabei me tornando um cristão renascido. Pelo contrário… Foi o conhecimento dos médicos que salvaram o meu rabo. E estou feliz por ter sobrevivido a esses tempos difíceis e estar de volta ao heavy metal.
Clovis Roman – O Belphegor tem letras que atacam Deus, a igreja e todo o câncer que isso é. Muitos definem a banda como satanista. Você concorda com essa definição, e você se considera um satanista?
Helmuth – Eu não sou um satanista. Já disse isso centenas de vezes. A imprensa tende a nos rotular como Black Metal. Eu não sei o porquê isso acontece. Isso me incomoda porque é errado e desde o começo, o legado do Belphegor sempre foi Death Metal.
Não me entenda mal, eu gosto de Black Metal, principalmente as bandas escandinavas, mas o Belphegor não tem nada em comum com o Black Metal “ortodoxo”. Nosso foco é melhorarmos sempre como músicos, como banda, usamos afinação baixa e urros. Além disso, tentamos fazer com que nossos álbuns soem melhor e mais intensos, usamos grandes estúdios e trabalhamos árduo para criar uma parede sonora em que você possa ouvir cada detalhe de cada instrumento.
Eu sou um ateu com tendências para o Niilismo. O diabo é uma figura poderosa. Eu uso a filosofia sobre Satan/Lúcifer – o portador da luz – em nossa música como uma figura orgulhosa, exaltada, majestosa que resistiu a todas as influências, um sedutor. Para que um sujeito possa tomar suas próprias decisões, ele precisa trilhar seu próprio caminho como um rebelde, um gozador contra as massas. Uma das grandes frases do novo álbum é: “As sombras são tentadas, pela sua presença maligna.”
Clovis Roman – Considerando os temas que o Belphegor aborda em suas letras, você consideraria recusar a dividir o palco com bandas com as quais você tenha diferenças ideológicas, como bandas cristãs ou algo do tipo?
Helmuth – Grupos cristãos são uma doença para o Death/Black Metal. Na minha opinião, no metal em geral, eles deviam sumir e deixar o metal em paz. O Rock/Metal nunca foi sobre hipocrisia ou política. Pior ainda são as pessoas que não bebem mais e querem dizer as pessoas para pararem de beber após terem passado suas vidas inteiras bebendo e ingerindo drogas. Isso é simplesmente errado, você sabe… Cristãos renascidos no Metal! Deixem o metal em paz. É a “música do diabo”, rebelião – resistência… Contra tudo e todos… É sobre o espírito individual em cada um.
Clovis Roman – Desde 2006, o Belphegor é basicamente uma banda que consiste apenas em dois membros. Como é trabalhar dessa maneira? Era mais fácil quando a banda tinha outros 3 membros oficiais?
Helmuth – O Belphegor tem sido uma banda de dois membros desde 2006 e isso provavelmente não irá mudar. Você sabe, eu aprendi algo nessa última década: nunca dizer nunca. Bem, nós sempre recrutamos músicos experientes para as nossas sessões espirituais para garantir shows matadores a os nossos fãs.
Nós não traímos aqueles que nos apoiam e não fazemos teatro para ninguém. A maioria das bandas profissionais hoje em dia consistem de apenas uma ou duas peças com músicos contratados. Não é fácil liderar uma banda como o Belphegor. Democracia nem sempre funciona, cara. É como durante uma guerra, você precisa de apenas um general ao invés de 10. É assim que as coisas funcionam para nós. Músicos que tocam conosco tem que ser do metal, entender nossa visão para a banda e serem capazes de lidar com a intensidade física dos nossos shows. É sempre bom recrutar sangue novo, essas pessoas trazem novas ideias e energia nova para as tropas enquanto o núcleo da banda continua a postos para detonar com tudo.
Clovis Roman – Você já esteve no Brasil algumas vezes. Quais são suas memórias desses shows, e o que os fãs podem esperar dos shows em dezembro?
Helmuth – Em primeiro lugar, eis a lista de shows que faremos no Brasil:
05/12 – Natal (Armazén Hall);
06/12 – Rio de Janeiro (Espaço Acústica);
07/12 – São Paulo (Extreme Hate Festival);
12/12 – Zombie Ritual Festival (Santa Catarina).
Acho que já fizemos cerca de 5 ou 6 turnês pela América Latina. Muitas memórias legais, cara. Visitamos lugares mágicos, viajamos para vários lugares e conhecemos a comunidade metal dessa parte do mundo. Vocês realmente sabem como celebrar o Death/Black Metal. Estou ansioso para retornar e oferecer um show matador.
Obrigado pelo espaço e obrigado a todos que escutam os nossos discos, compram mercadorias nos shows, e a todos que marcam presenças nos rituais ao vivo do Belphegor. Invadam as lojas de discos das suas cidades e comprem o disco “Conjuring The Dead”. O inferno os espera!