Texto por Clovis Roman – Fotos por Clovis Roman (Hatebreed e Skin Culture), Kenia Cordeiro (Hatebreed), Angela JP (Napalm Death), Makila Crowley (Napalm Death) – Edição por André Luiz
Há um famoso ditado aqui no estado, usado em um determinado programa esportivo, que diz que “tal time abutuou o outro”, quando a vitória de um sobre o outro foi inquestionável. Mesmo não sendo uma competição, a frase cabe perfeitamente para descrever o que a lenda Napalm Death fez com o Hatebreed. E olha que o show dos americanos foi muito, mas muito bom. Primeiro, há de se lamentar – mais uma vez – a tímida presença do público no Music Hall, que não é das maiores casas da cidade (apesar de ser um dos espaços mais bacanas por aqui). A lotação mal ocupava metade das dependências do recinto, o que, num chute sem ângulo, deve ter dado umas 350 pessoas, no máximo.
Antes de chegar as atrações principais da noite, vamos falar da abertura, que ficou por conta dos paulistas do Skin Culture. A participação deles ou foi pouco divulgada ou foi confirmada bem perto da data do show. O fato é que muita gente nem sabia que eles iam tocar. No fim das contas foi proveitoso, pois vimos um bom show, apesar do som deles destoar um tantinho dos outros grupos da noite. O setlist, como abertura, obviamente foi bem curto, mas já deu pra sacar a grande competência dos caras, com destaque para o batera Marcus Dotta (que tocou no finado Thram) e para o simpático vocalista Shucky Miranda, que agitou – e muito – mesmo com pouca gente os assistindo naquele momento. Durante “Slave New World”, do Sepultura, o cara desceu do palco e foi se esgoelar na grade junto com a galera. De resto, tivemos as quatro primeiras faixas do último álbum dos caras, o excelente The Fire Still Burns Strong, mais a antiga “Septic”.
Aí chegava a hora da banda mais furiosa “onstage” de todo o planeta. Só quem viu sabe o que a banda é capaz de fazer no palco. O que é algo incompreensível é o fato deles terem tocado antes do Hatebreed. Relegados a banda de abertura, o set teve que ser tesourado, e acabamos ficando sem obras fabulosas como “Necessary Evil”, “Taste The Poison”, “On The Brink Of Extintion” e “Self Betrayal” (esta em especial foi uma grande perda). Mas o que rolou foi violento demais, a banda está em grande forma, afinal não é pra menos: os quatro estão tocando juntos desde 1989 (por tempos houve um segundo guitarrista, Jesse Pintado, morto em 2006).
Sobre o setlist, ele foi aberto com Multinational Corporations, Part II, já emendada com canções mais novas, “Silence Is Deafening”, “Everyday Pox” e “The Wolf I Feed”. A partir daí, foi uma mistura de todas as épocas do Napalm, com uma ênfase especial em Scum, clássico mor da barulheira, do qual vieram 8 das 21 músicas tocadas por eles, em pouco menos de 1 hora de show. E sim, você, ouvinte mais casual, eles tocaram aqueles clássicos como ”Suffer The Children”, “Mass Appel Madness”, “Nazi Punks Fuck Off” (do Dead Kennedys) e “Siege Of Power”, além da ultrassônica “You Suffer”. Um arregaço em forma de música.
Sobre a performance individual, o baterista Danny Herrera destruiu seu kit com uma precisão absurda, como é de costume. O baixista Shane Embury, em sua segunda passagem pelo Brasil este ano (veio antes com o Brujeria) mostrou solidez nas quatro cordas, com uma sonoridade pútrida e tosca – e vale citar que em dezembro ele volta ao país, mais uma vez com o Brujeria. O guitarrista Mitch Harris estava mais calmo que nas outras vindas do Napalm ao Brasil, e outra coisa que mudou foi seu cabelo, que agora está curtinho. Ele foi um exemplo de humildade ao atender os fãs após o show. Mestre. E por fim, o frontman Barney Greenway mostrou presença de palco única, com suas danças e movimentos pouco convencionais para um cantor de podreiras.
O Hatebreed veio a seguir, e foi sensível a debandada de pessoas após o massacre sonoro do Napalm Death. Mas os americanos não fizeram feio, e em duas dezenas de canções (meio parecidas entre si, é verdade), os caras colocaram os sobreviventes para se quebrar em rodinhas sem o menor pudor. Os destaques foram vários, mas posso citar “A Call For Blood”, “Never Let It Die” e a nova “Honor Never Dies” (curiosamente, a única representante do novo disco dos caras, The Divinity Of Puposes). E pra encerrar, tivemos uma boa cover do Slayer (não tem como estragar uma música deles), com “Ghosts Of War”; e depois, a dobradinha “I Will Be Heard” e “Destroy Everything”. No meio, foi tudo igual, pancadaria e fãs mais que satisfeitos, ainda mais que o set foi bem especial, focando trabalhos anteriores em detrimento do mais recente. Mas não há o que discutir: o Napalm Death abutuou o Hatebreed.