Texto por Clayton Franco – Fotos por Marcos Bullino Oficial Dave Evans Facebook – Edição por André Luiz
Confesso que quando vi o anúncio da tour do Dave Evans pelo Brasil fiquei realmente surpreso. Já tinha ouvido falar que o AC/DC teve um vocalista antes de Bon Scott e que seu nome era Dave Evans, mas nunca cheguei a fazer uma pesquisa sobre ele e muito menos ter procurado alguma gravação rara dele no AC/DC ou em outras bandas pela qual tenha passado. Quando vi o cartaz, movido mais pela curiosidade do que pela expectativa, resolvi fazer a cobertura deste show. E devo dizer, para quem foi sem expectativa nenhuma para o evento, o show realmente me surpreendeu de forma positiva!!!
Dave Evans gravou somente um compacto 7” com o AC/DC, um single com as músicas “Can I Sit Next to You Girl” no lado A e “Rocking in the Parlour” no lado B. Na biografia do grupo australiano conta-se que ele foi expulso da banda pois se recusou a subir no palco em uma apresentação sem nenhuma explicação lógica para isso. Em seu lugar, com o show prestes a começar e sem vocalista, o motorista da Van que levava o grupo se ofereceu para cantar aquela noite. Pasmem, este vocalista era Bom Scott!!! A partir daquela noite, a história consagrada deste medalhão do rock e metal todos já conhecem.
O show iniciou em torno de 01h da manhã. Dave sobe ao palco com uma competente banda de apoio brazuca tocando a sua primeira música gravada com o grupo: “Can I Sit Next to You Girl”. Devo dizer que seu vocal um tanto quanto rasgado e sua pose de palco me surpreenderam. A canção foi emendada com “Rocking in the Parlour” (segunda e última música que gravou com o grupo).
Após a canção Dave Evans conversa um pouco com a platéia, dizendo o quanto está feliz por estar no Brasil e agradece a presença de todos na casa. Nos conta que estas foram suas músicas com o AC/CD mas sua contribuição para o rock não se resume a isto, e que agora nos apresentaria algumas músicas de sua carreira solo. Temos uma trinca composta por “Back On The Firing Line” seguida por “Take Me Down Again” e emendada por “Only The Good Die Young” (presentes em seu disco “Sinner” de 2006). As três canções pouco empolgaram os presentes. O público aplaudiu e se remexeu um pouco nas cadeiras com uma modesta dança, mas não vi quase ninguém cantando-as juntas. Percebi então que não era o único ali que não conhecia quase nada de sua carreira solo. Mas, isto em nenhum momento abalou Dave, que cantava as músicas de forma rasgada e com uma grande presença de palco, seja dançando ou girando o microfone em torno do corpo ou erguendo o pedestal do mesmo pelos ares!!!
Era chegado o momento em que todos os presentes esperavam: a execução de alguns clássicos do AC/DC na voz de Dave Evans. Mas ai, meu caro leitor me pergunta: “Mas calma ai Clayton, você não disse no início da resenha que ele já havia tocado as duas canções gravadas com o grupo?”. Sim eu disse, por isso mesmo é que o show se tornou interessante!!! Dave nos contou que muitas músicas dos primeiros álbuns australianos do AC/DC (High Voltage de 75, TNT de 75, Dirty Deeds Done Dirt Cheap de 76 e Let There Be rock de 77) foram compostas quando ele estava na banda… Muitas destas canções tiveram letras modificadas posteriormente e até mesmo alguns arranjos musicais diferenciados nas gravações. Nesta parte, o show vira uma verdadeira aula sobre os tempos seminais do AC/DC com a execução de “Rock N Rol Singer” e “Its A Long Way To The Top (If You Want To Rock n Roll)”, durante a qual o público deixou o conforto das mesas e cadeiras para levantar e cantar juntos com várias garotas dançando em frente ao palco. Interessante saber a versão de Dave sobre sua época no AC/DC ao longo da noite, inclusive desmentindo que ele havia se recusado a subir no palco e dizendo que chegavam a fazer três shows por noite sem receber, motivo alegado para ele deixar o grupo.
O show realmente pegou fogo com estas canções e nem a inclusão de “Turn It Up”, “We Don’t Dance To Your Song” e “Sold My Soul To Rock N Roll” (canções solos de Dave) abalaram o agito do público que já havia sido contagiado pela alegria e simpatia de Dave. O show já se encaminhada para o final, e novamente temos a execução de alguns clássicos do AC/DC como “Baby Please Don`t Go” e “TNT”, durante a qual todos cantaram a plenos pulmões. Somos brindados com uma última canção solo de Dave “Too Much Rock N Roll” (do disco gravado com a banda Rabbit em 76) e o encerramento que deu o tiro de misericórdia em todos os presentes: a dobradinha “Highwat To Hell” e “Let There Be Rock” que fez todos os presentes bradarem a letra em alto e bom som. O show já havia finalizado com estes clássicos, mas ninguém arredou o pé da casa, pedindo para que Dave voltasse aos palcos. O grupo de apoio entra novamente dizendo o quanto Dave estava feliz por todos os presentes, e o mesmo volta ao palco para encerrar de vez a noite com “Whole Lotta Rosie”. Após esta parte derradeira, alguns voltam para casa com a sensação de uma ótima apresentação executada por um grande vocalista de uma das partes mais obscuras do AC/DC. Para aqueles que ficaram na casa, Dave atendeu a todos depois de um descanso. Sempre sorridente e alegre agradecia a cada pessoa presente e tirava foto demonstrando carinho por todos. Quanto a mim, após o show, teria ainda duas horas dirigindo pela Dutra para voltar a minha cidade, e para quem saiu as 3h da manhã da casa de show, realmente é uma canseira.
Aproveito este espaço final da resenha para tecer comentários acerca do local do show, o Gillan’s Inn English Rock Bar em São Paulo. Excelente localização (próximo a várias estações de metrô e da Praça da República em SP). A casa em nada deve a outras do gênero, possuindo um amplo salão e um bom palco com altura ideal para todos os presentes. Este foi o primeiro show internacional realizado no Gillan’s e a primeira vez que fui na nova casa. Realmente o espaço me surpreendeu em relação à acústica, atendimento e decoração (com várias referências ao rock e metal espalhados pela parede). Se o local continuar investindo em shows internacionais de menor porte, tem tudo para ser um grande espaço para estes eventos e o público paulistano só tem a ganhar. Parabéns para o Sr. Luiz Franco, proprietário do local pelo atendimento cordial a todos presentes. Um abraço a todos que leram esta resenha e nos vemos em um próximo show!!!