Metallica & Raven – 22-03-2014 – São Paulo (Estádio do Morumbi)

Metallica - SP - 2014 - por MRossi t4f

Texto por Clayton Franco – Fotos por MRossi (T4)

Falar do Metallica é praticamente “chover no molhado”, sem que isso seja um trocadilho com o show de sábado em São Paulo. Mas quem não conhece a banda? Junto com o Iron Maiden e com o Guns, praticamente é uma das bandas que serve como porta de entrada para que adolescentes do mundo inteiro venham a conhecer o heavy metal. Isso se deve ao fato da banda ser grandiosa não apenas no meio do metal, mas sim, em toda a mídia de rock e pop também (devido a muitas músicas que foram sucessos em rádios). E foi sob uma chuva tórrida, que a multiplatinada banda fez seu show no ultimo sábado para um Morumbi lotado e sedento pelos clássicos criados pelo quarteto californiano.

Já era por volta de umas 20h quando subiu ao palco um dos precursores da NWOBHM; estamos falando de Raven. Para quem não conhece a banda, sugiro que pesquisem o seu som, pois seus três primeiros discos são irrepreensíveis e o duplo ao vivo “Live At The Inferno” mostra toda a fúria deste power-trio sob um placo. Infelizmente, a banda teve o set list muito reduzido devido ao fato de ser apenas a banda de abertura, mas isso não desanimou o trio; pelo contrário, demonstraram ainda mais energia sob o palco mostrando a todos os presentes o quanto estavam felizes por estarem ali. O show começou com “Take Control”, seguida por “Rock Until You Drop”, na qual o baixista e vocalista John Gallagher interagia com o público pedindo palmas e gritos no refrão. A mesma simpatia foi demonstrada pelo seu irmão, o guitarrista Mark Gallagher que fazia os backins vocais e a todo o momento brincava com o público. O show continua com “Faster Than The Speed Of Light” e para encerrar a apresentação fazem a intro de “War Pigs” do Black Sabbath, puxando o coro de “ooo” com o público e já introduzem “Symptom Of The Universe”, também cover do Sabbath que encerrou o rápido set list do Raven.

Algumas coisas podem ser ditas de sua apresentação… Infelizmente o pouco tempo que tiveram sobre o palco não foi suficiente para muitos conhecer o quanto essa banda é importante para o cenário metal. Muitos clássicos do grupo faltaram, eu particularmente trocaria o cover do sabbath por qualquer canção do disco “All For One” facilmente, pois considero um dos melhores trabalhos do trio. O fato do show também ser em um estádio aberto, o vento demasiado e uma regulagem que deixou a desejar contribuíram para que o som do grupo não tivesse refinado. Muitas vezes o vocal de John sumia no meio das canções e a bateria estava muito embolada. Mesmo com todas as pedras no caminho, o show foi digno de nota, pois a simpatia e o vigor que a banda demonstrou no palco superaram e muito estes percalços. Com certeza, aqueles que gostam da banda curtiram o show, e a visibilidade que a banda ganhou ao abrir para o Metallica, trará novos fãs para o grupo aqui no Brasil.

Já se aproximava das 22h quando a atração principal da noite sobe ao palco, deixando para trás quatro anos sem colocar os pés em São Paulo (as últimas tours do Metallica passaram pelo Rock In Rio apenas). A introdução do show com “Ecstasy Of Gold” (música de Ennio Morricone), não trouxe apenas o grupo para o palco, mas também, a chuva torrencial que atingiu São Paulo no início do show. E foi debaixo dessa pesada chuva que o Metallica iniciou a apresentação com “Battery” emendada por “Master Of Puppets”. A água que molhava a cabeça dos 65 mil fãs na plateia, também caia com gosto em cima do palco… E isso parecia trazer mais energia à banda. James completamente encharcado corria de um lado para o outro cantando, enquanto Lars socava a bateria. Em cada batida no prato ou na caixa, víamos a água acumulada sobre as peças da bateria voar para todos os lados.

O show continua com “Welcome Home (Sanitarium)” e “Fuel”, agradando aos presentes. Aliás, o set list com certeza seria de agradado de grande parte do público, pois a idéia da tour “By Request” foi a dos fãs escolherem quais canções seriam tocadas em cada show. Portanto, todos que compraram ingressos podiam votar no site oficial da banda qual música queria ver no set list do show a qual comprou o ingresso.  Foi exatamente o poder dado ao público de escolher o que quer ouvir que trouxe “The Unforgiven” ao set list executado, canção que há algum tempo não vinha sendo tocada em alguns locais. Logo após, temos “Lords Of Summer”, a grande surpresa da noite, visto que a música foi criada especialmente para essa tour.  Particularmente eu gostei muito da canção, e se o próximo álbum do Metallica seguir esta linha, aguardo ansiosamente para ouvi-lo, devido a velocidade da canção e a presença rápida de um bumbo duplo a conduzindo.

Metallica - SP - 2014 - por MRossi t4fII

Tirando a surpresa da nova canção, o show prossegue com o set escolhido pelos fãs com “Wherever I May Roam”, “Sad But True” e “Fade To Black”. Em todas as canções sempre há o agito entre a banda e o público, com James convocando os presentes para cantar os vocais juntos e animando o pessoal. Tal entrosamento entre o público e banda foi muito grande durante toda a noite… Não apenas por todos estarem partilhando da mesma chuva, mas pela proximidade do palco com o público, e pelo pessoal do fã clube sorteado para ficar junto do grupo ao lado do palco. Tais fãs presentes no palco em dados momentos eram chamados pela banda para contar de onde eram e o que significava estar ali, e também anunciar a música que seria tocada. Em determinado momento, Lars ate chamou um deles para fazer uma intro junto de si na bateria.

E o show, que já estava em sua metade, prosseguia com “And Justice For All” e “One”. Aliás, esta canção foi a grande vítima da chuva torrencial (e já havia sumido consideravelmente no dado momento). A esperada introdução, composta por fogos de artifício sincronizados com as explosões e tiros da introdução da canção não ocorreu. Segundo o que fiquei sabendo pesquisando com pessoas que trabalharam na produção, houve sim toda a montagem dos efeitos pirotécnicos no palco que ocorreriam na execução de “One” e tais efeitos foram destruídos pela chuva. Mas deixando isso de lado, o show tinha que continuar, e foi com a trinca “For Whom The Bell Tolls”, “Creeping Death” e “Nothing Else Matters” que o público foi presenteado em seguida. O Metallica, com seu carisma sob o palco e convocando a participação maciça dos fãs presentes, não precisa de fogos sob o palco para fazer da noite uma grande comemoração.

E o show ia chegando ao fim, e guardaram exatamente para esse momento a execução de uma das músicas mais conhecidas de toda carreira. Encerraram a primeira parte do show com “Enter Sandman”. Muitos fãs ditos mais “trues” condenam o disco “Metallica” por muitos conhecidos como “Black Album”, devido à aproximação da banda com algo mais pop e menos pesado, mas é impossível negar o quanto esta canção é vibrante em um show e o quanto todos a cantam a plenos pulmões… Realmente um encerramento maravilhoso para um grande show. E foi nesse clima de vibração entre banda e público que o quarteto voltou ao palco para o encerramento do show com “Whiskey In The Jar” e “The Day That Never Comes”. Esta canção teve um adendo a mais, visto que durante todo o show aparecia no telão uma escolha para o público. Os presentes poderiam votar em ouvir “Ride the Lightning”, “The Day That Never Comes” e “Memory Remains”. A votação se dava através de torpedos SMS e a mais pedida seria executada. Eu particularmente queria muito ouvir Ride the Lightning, mas ela ficou atrás da mais votada por uns 4 mil votos de diferença. Que pena! Encerrando de fato o final do show, tivemos a já conhecida “Seek and Destroy”. Após sua execução, todo o grupo agradece ao carinho dos presentes e fazem uma verdadeira chuva de palhetas nos primeiros da fila. Saem do palco sob aplausos de todos os presentes e com a sensação de dever realizado. A nós, cabia-nos a sensação de ter assistido um grande show, e irmos para casa de alma literalmente lavada tanto pela chuva quanto pelo grande show repleto de clássicos.

Fim do show, um último e importante ponto deve ser salientado. Muito se falou sobre o desrespeito que ocorreu no show do Sabbath com os Portadores de Necessidades Especiais (PNEs). Vários cadeirantes não tiveram acesso ao local que lhes é de direito para assistir ao show. Também tiveram negados a presença de seu acompanhante para facilitar acesso e deslocamento (direito também respaldado por lei), além de ter sua área delimitada invadida por outros no show (uma verdadeira vergonha). O show do Metallica foi o primeiro show de grande porte da T4F a ocorrer após o Sabbath, e aqui eu pude presenciar o quanto a mudança de atendimento aos PNEs evoluiu. Todos os cadeirantes tiveram sua ala delimitada e respeitada, guardada por seguranças e bombeiros que auxiliaram o seu translado até o local, além de terem garantidos a presença de um acompanhante (que também comprou ingresso) e acesso ao banheiro adaptado para suas necessidades. Parabéns a produção não apenas pelo respeito as leis que garantem esses direitos aos PNEs, mas pela forma respeitosa com que foram atendidos. Digo isso pelo que eu presenciei, pois assisti o show todo, bem ao lado da área delimitada aos PNEs. A inclusão e o respeito a todos os presentes no show (PNEs ou não) ajudam não apenas a fazer um show e uma noite melhor, mas sim, uma sociedade melhor e mais igualitária.

Despeço-me de todos, deixando meu abraço aos que leram essa resenha e meus agradecimentos a T4F pelo credenciamento de nosso veículo de imprensa, em especial a Tatiana pelo atendimento aos profissionais presentes de forma respeitosa. Nos vemos nos próximos shows.

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