Texto por Clovis Roman. Foto por MRossi/ Divulgação T4F.
Turnês com grandes bandas juntas têm seus pontos positivos e negativos. O lado bom é, por exemplo, ver dois ou mais grupos com apenas um ingresso. Do outro lado, apenas a principal tem um setlist completo, sobrando para as outras pouco tempo no palco (exemplos recentes foram Slayer e Ghost abrindo para o Iron Maiden, e Megadeth com o Black Sabbath). E foi o que aconteceu no Bioparque, em Curitiba, no último dia 15. O Whitesnake, banda com mais de 35 anos de estrada, ficou com a função de abrir a noite, e tocou por aproximadamente uma hora, focando principalmente nos seus grandes clássicos da década de 80. Afinal, das 14 músicas apresentadas (entre trechos e versões completas), excetuando-se as canções do Deep Purple e duas do mais recente trabalho, todo o resto foi gravado no máximo até 1987. E para abrir, veio uma música do disco que leva o nome do ano recém citado, chamada “Give Me All Your Love”, que funcionou muito bem como abertura. “Are you Ready An Willing? Cos we are!”: com esta frase, o vocalista David Coverdale chamou “Ready An Willing”, do disco homônimo. Com o Whitesnake apostando em alguns medleys, o show foi enérgico do começo ao fim, e mesmo nas músicas novas – “Love Will Set You Free” e “Steal Your Heart Away” – o público permaneceu atento ao palco. Todos os integrantes da banda tiveram seus solos individuais, com destaque para o baterista Tommy Aldridge, que literalmente espancou a bateria, após arremessar suas baquetas para a platéia. O clima em cima do palco era ótimo, com Coverdale fazendo caras e bocas, e até brincadeiras com seus músicos, como quando parafraseou um de seus grandes sucessos ao abraçar o barbudo baixista Michael Devin: “Is This Beard?”, disse, antes de cantarolar a melodia de “Is This Love”. Após as execuções enérgicas de “Fool For Your Loving” (apenas um trecho), “Here I Go Again” e “Still Of The Night”, a banda encerrou seu show relembrando sons do Deep Purple, banda que Coverdale cantou antes de formar o Whitesnake. Ele cantou a cappella a belíssima “Soldier Of Fortune” antes de tocarem “Burn”, clássico infelizmente esquecido pelo Deep Purple após o retorno de Gillan, e que ainda contou com trecho de “Stormbringer”.
Após a abertura de luxo e um tempo de espera, começa a ser executado nas caixas um som estilo Rap – que curiosamente fez muita gente dançar – precedendo a primeira música do Aerosmith. Eles trocaram a abertura novamente, e no lugar da esperada “Draw The Line”, veio a igualmente ótima “Let The Music Do The Talking”, música do Joe Perry Project, que a banda regravou no Done With Mirrors, em 85. Seguiram com “Love In An Elevator” e a pesada “Toys In The Attic”, na qual Steven Tyler conseguiu colocar o nome de Curitiba no meio do refrão, além de se aproximar do baixista substituto David Hull (Tom Hamilton teve problemas de saúde) para cantar junto com este. O vocalista e o guitarrista Joe Perry permaneceram boa parte da apresentação na passarela que saia do centro do palco e entrava no meio da pista Premium. Eles foram de encontro aos seus colegas na única composição do novo disco, Music From Another Dimension, tocada: “Oh Yeah”.
Para uma banda com tantos anos, certamente fica difícil fazer um setlist, tanto que o excelente Nine Lives teve apenas uma representante, a dançante “Pink”. Além desses dois trabalhos, outros que tiveram apenas uma música tocada foram Just Push Play, com a belíssima “Jaded”; Permanent Vacation, com “Dude (Looks Like An Lady)”; e Rocks, com “Last Child”. Mas com 20 músicas dá pra fazer um bom estrago, e tocaram toneladas de clássicos e grandes sucessos comerciais, indo de “Same Old Song And Dance” e “Last Child” até baladas indispensáveis como “What It Takes” (onde Tyler cantou os primeiros versos sem acompanhamento), “Cryin” e “I Dont Want To Miss A Thing”. Para o final, entre hits como “Walk This Way”, houve espaço para duas covers, “Come Together”, do Beatles, e “Mother Popcorn”, de James Brown. No encore, veio a soberba “Dream On”, com Tyler e Perry novamente na passarela, e “Sweet Emotion”, a música de encerramento de todos os shows recentes do Aerosmith.
Quando muitos já se preparavam pra sair, a banda, visivelmente feliz com a recepção do público, inesperadamente adicionou “Crazy” ao setlist. Durante a apresentação, apareceu alguém segurando uma placa escrito “Movin Out”, e o Aerosmith resolveu atender o pedido, tocando-a. Não satisfeitos em fazer um show soberbo e adicionar músicas de última hora, eles ainda tiveram energia para mandar uma excelente versão para “Train Kept A-Rollin”, encerrando de vez mais um show histórico na capital paranaense. O público de aproximadamente 20 mil pessoas pode se considerar privilegiado com uma autêntica aula de Hard Rock proporcionada por Whitesnake e Aerosmith.