Texto e fotos por Rodrigo Gonçalves
Quando falamos em shows de heavy metal no Rio de Janeiro, pensamos logo em casas como o lendário Canecão, o importantíssimo Circo Voador ou até mesmo o ótimo Citibank Hall, na Barra da Tijuca e que costuma abrigar os maiores espetáculos do gênero quando estes vêm ao Rio de Janeiro. Mas, de uns tempos para cá, as coisas tem mudado um pouco de figura. Desde o show do Azul Limão e Stress em Agosto de 2007, o agradável Teatro Odisséia localizado na Lapa tem se mostrado uma ótima alternativa para shows de pequeno e médio porte na cidade maravilhosa como Doogie White, Muncipal Waste e D.R.I, só para citar alguns.
Depois de um atraso de uma hora e meia para a abertura da casa, uma breve introdução feita por uma pessoa ligada à produção do espetáculo serviu para trazer a banda Suprema para o palco e explicar que o atraso ocorreu porque a produção estava trabalhando duro para deixar tudo pronto para o show. Pode parecer pouco, mas o simples fato de dar uma satisfação e explicar o que aconteceu, conta muito diante de uma situação como essa. Tratar o fã com honestidade é sempre o melhor caminho.
Suprema
Feita todas as apresentações, os paulistas do Suprema subiram ao palco dispostos a mostrar aos cariocas que eram merecedores da chance de abrir o show do Evergrey. Embora nas duas primeiras músicas a banda tivesse sofrido com o som alto e distorcido, desde os primeiros acordes a qualidade dos músicos e das músicas chamaram a atenção. Quando eles tocaram a música “Escape”, trouxeram as pessoas que estavam do lado de fora e outras que perambulavam pela pista para frente do palco, empolgadas com o som poderoso que emanava do palco. Durante “Iced Heart”, o vocalista Pedro Nascimento chamou a atenção pela versatilidade da voz. “Powermind” é anunciada como sendo a última música da noite e responsável por abrir as portas para a banda no exterior, tendo sido tocada em rádios de fora do país e sendo responsável por tours na Europa e América do Norte.
O show do Suprema foi um dos melhores que vi de uma banda de abertura em todos esses anos como repórter. Em uma época onde as bandas encarregadas de aquecer o público se preocupam apenas em tocar covers de bandas famosas para caírem nas graças do público, devo enaltecer a decisão dos paulistas de fazer um show inteiramente com material autoral, sendo três músicas de seu novo trabalho de estúdio, ainda sem título ou data de lançamento definida. Um caso raro de perfeita sintonia entre banda de abertura e ato principal.
Set list: Escape / Fury and Rage / Spyeyes / Iced Heart / Powermind
Evergrey
Passados mais de quarenta minutos após o fim da apresentação do Suprema, finalmente as luzes do palco se apagam, a introdução de “Leave It Behind Us” é ouvida e, um a um, os músicos entram no palco para dar início ao show. Sem tempo para conversas, “Monday Morning Apocalypse”. “As I Lie Here Bleeding” (onde um fã mais alterado tentou subir ao palco, não tendo conseguido, beijou a mão de Tom). Ao final de As I Lie, Tom Englund se dirige aos cariocas pela primeira vez, pergunta como todos estão e anuncia uma música do terceiro álbum gravado pela banda, “In Search of the Truth” de 2001. A música, é claro, só podia se tratar do clássico “The Masterplan”, cantado a plenos pulmões pelos cariocas.
Após “Rulers of of the Mind” e “Mark of the Triangle”, Tom fala mais uma vez aos cariocas e comenta sobre o concurso “feito por uma de nossas revistas” no qual um fã foi presenteado com a oportunidade de tocar o solo na música Wrong, do novo disco, ‘Glorius Collisium’. Depois de “Blinded”, o vocalsita diz que vão tocar uma música muito, muito velha, do terceiro disco da banda, Solituted Within. Durante Nosferatus, problemas técnicos dificultaram bastante para que os presentes conseguissem ouvir a voz de Tom. “I’m Sorry” foi a responsável pelo momento mais bonito da apresentação, onde ficou evidente a capacidade vocal e a técnica do vocalista sueco. Vale também destacar a belíssima participação dos cariocas. Em certo momento da música, Tom parou de cantar e o público levou a canção.
Sem deixar os ânimos esfriarem, “Frozen” é tocada e infelizmente um problema técnico causado pelo mesmo fã que beijou a mão de Tom, acaba fazendo com que a banda corte a música pelo meio. Felizmente, os seguranças agiram rápido e retiraram o rapaz da casa de shows e tudo retornou ao normal. Após o final de “Frozen”, a banda deixou o palco, logo o baterista e tecladista retornaram, fizeram um breve solo, quando a banda toda reapareceu para dar inicio a ultima parte do show, com a trinca “Recreation Day”, “Broken Wings” e a clássica “Touch of Blessing”, que encerrou a noite de maneira brilhante.
Set List: Leave It Behind Us / Monday Morning Apocalypse / As I Lie Here Bleeding / The Masterplan / Rulers of the Mind / Mark of the Triangle / Wrong / Blinded / Solitude Within / Nosferatu / I’m Sorry / Frozen / When the Walls Go Down / Recreation Day / Broken Wings / A Touch of Blessing
Certa vez, conversando com um amigo sobre o pequeno público em um show que aconteceu há muitos anos atrás, lembro claramente de ter dito a ele. “Cara, esqueça o público pequeno. Todos que tinham de estar lá estavam e agitaram tanto, que fizeram o show ser extremamente divertido, a banda se empolgou tanto que nos deu uma apresentação de altissímo nível, não se importando com o público pequeno”. E foi mais ou menos o que aconteceu nessa noite de domingo no Rio de Janeiro. Certamente a produtora (há muito tempo não via um evento tão bem produzido por aqui) e tampouco a banda mereciam o público reduzido. Aliás, pouco público foi algo constante nessa turnê do Evergrey pelo país. Uma pena, pois essa é uma das melhores bandas de heavy metal na atualidade e por isso merecia tocar para plateias maiores. Ainda bem que o profissionalismo da banda e a vontade de satisfazer os fãs falou mais alto, fazendo desta uma apresentação memorável para os poucos privilegiados que tiveram a oportunidade de acompanhar.