ESPECIAL EARLY DAYS TOUR 2005
Matéria por Rodrigo Gonçalves - Edição: André Luiz
Fotos por The Official Iron Maiden Website (ironmaiden.com)
Iron Maiden em Praga, Rep. Tcheca - por Johnny B (ironmaiden.com)


O Iron Maiden sempre foi uma banda pioneira, sempre pareceu estar à frente das outras bandas do cenário metálico mundial, além disso, soube como poucos oferecer espetáculos de qualidade aos seus ardorosos fãs. Muitas de suas turnês ao longo dos últimos 25 anos marcaram época e revolucionaram para sempre o modo de se fazer um show de heavy metal. Depois do sucesso de Dance Of Death, a banda surpreendeu os fãs mais uma vez ao anunciar um de seus projetos mais ambiciosos. Tratava-se do lançamento do primeiro de uma série de DVD's que contaram a história da banda nos mínimos detalhes. A primeira parte desse DVD englobava desde o primeiro momento que o jovem Steve Harris passou a se interessar por música, até o lançamento e a turnê do álbum Piece Of Mind.


Iron Maiden em Praga, Rep. Tcheca - por Johnny B (ironmaiden.com) Iron Maiden em Praga, Rep. Tcheca - por Johnny B (ironmaiden.com)Iron Maiden em Praga, Rep. Tcheca - por Johnny B (ironmaiden.com)


Trata-se de um material histórico, algo nunca antes feito por qualquer outra banda. Esse DVD veio abarrotado de materiais raros, tais quais; fotos dos primeiros ensaios, entrevistas com pessoas importantes nos primeiros anos de vida e entrevistas com vários ex-integrantes que nunca haviam falado sobre a banda. E para promover esse lançamento, a Donzela sairia em turnê no verão de 2005 tocando faixas apenas dos quatro primeiros discos. Não preciso nem dizer à comoção que isso casou entre os fãs.
O primeiro show a ser marcado e anunciado foi na cidade Luz, Paris. O show seria realizado no estádio Parc de Princes, do clube francês Paris St German. Mesmo tendo sido anunciado com nove meses de antecedência, os ingressos logo se esgotaram e pessoas de várias partes do mundo estariam presentes a esse show. Foi anunciado que a banda somente tocaria material dos quatro primeiros álbuns e os fãs lotaram os fórums e páginas da Internet dedicadas à banda com o intuito de discutir quais músicas a banda deveria tocar.
A razão para tamanha discussão e comoção é bem simples, na verdade. O fato é que todo mundo sabe que o Maiden é uma banda extremamente conservadora no que diz respeito ao repertório dos shows. Nos últimos 10 anos, poucas músicas mudaram e as últimas grandes surpresas haviam aparecido na Ed Hunter realizada devido o retorno de Bruce e Adrian à banda. Foi quando eles reviveram clássicos há tempos esquecidos como Aces High, Stranger In A Stranger Land e Powerslave.
E daí vem uma das maiores críticas que os fãs fazem a banda. Por isso, tamanha empolgação por parte deles com a possibilidade de serem tocadas canções como Phantom Of The Opera, Die With Boots On entre outras que deixaram os fãs em êxtase. Muitas dessas faixas não eram tocadas há mais de 20 anos. Só que infelizmente, o set list só seria revelado no dia 29 de maio de 2005, em show a ser realizado na República Tcheca.
Nesse meio tempo, Steve aproveita para produzir o mais novo disco ao vivo da banda, Death On the Road que foi gravado em Dortmund, na Alemanha, durante a aclamada Dance Of Death Tour. O baterista Nicko Mac Brain montou uma banda cover do Iron Maiden e aproveitou para fazer alguns shows e workshops pelos Estados Unidos. De todos, o que mais se manteve ocupado foi Bruce Dickinson. O nanico ocupou a maior parte de seu tempo livre pilotando aviões comerciais na Grã Bretanha. Fora isso, ele ainda arrumou tempo para comandar um programa de rádio na BBC e gravar o seu mais recente cd da aclamada carreira solo. Cerca de oito dias antes do show na República Tcheca, os músicos se reúnem e iniciam os ensaios para a nova turnê. Tudo flui da maneira mais perfeita possível, rapidamente eles conseguem tirar as músicas e nem pareceu que tinham faixas que não eram apresentadas há mais de duas décadas.


Iron Maiden no Mystic Festival, Polônia  - por Johnny B (ironmaiden.com)

Iron Maiden no Mystic Festival, Polônia  - por Johnny B (ironmaiden.com) Iron Maiden em Graz, Áustria  - por Johnny B (ironmaiden.com)Iron Maiden em Graz, Áustria  - por Johnny B (ironmaiden.com)


E é chegado o grande dia. Os fãs cada vez mais ansiosos congestionaram os servidores do fórum oficial da banda em busca de notícias sobre o set list. E elas estavam sendo enviadas diretamente do Móbile Arena. Desse modo, as músicas eram conhecidas assim que eram executadas. A banda entregava aos fãs sons como Ides Of March (tocada em play back no sistema de som) e logo em seguida entravam em cena com o petardo Murderes In The Rue Morgue. Faixas como Another Life, Prowler, Remember Tomorow, Die With Your Boots On já faziam a alegria dos fãs ao redor do mundo. Pensou que isso era tudo? Ledo engano. Eles ainda surpreenderam e incluíram no set Phantom Of The Opera, Charlot The Harlot e Drifter, músicas as quais eu nunca pensei que os veria executando ao vivo. Simplesmente emocionante! O palco, outro fator sempre importantíssimo em se tratando de Iron Maiden, agora era todo decorado com temas que nos remetiam aos quatro primeiros álbuns, como a capa do single Running Free, além de locais históricos para a banda como o famoso bar Ruskin Arms. Mais um ponto para a Donzela que sempre mostrou uma incrível capacidade na hora de oferecer grandes espetáculos aos seus fãs.
Para o show na Polônia, nada mudou e a banda executou exatamente exatamente o mesmo cronograma. Já na Áustria ocorreu uma mudança significativa no set: A retirada de Charlot The Harlot e a inclusão da manjadíssima Wrathchild, gerando muita reclamação por parte dos fãs. Ninguém sabe ao certo o porque da banda resolver fazer essa troca, relatos de pessoas que estiveram presentes aos dois primeiros shows dão conta de que essa música foi recebida com certa frieza por parte do público, o que pode ser a explicação para a mudança. Mas até hoje tudo permanece na base da especulação.
A essa altura o mês de junho já havia chegado e no seu primeiro fim de semana, o sexteto rumou à Alemanha para se apresentar em dois festivais na sede da Copa do Mundo de 2006. O primeiro e mais esperado deles foi o tradicional e muito aguardado Rock Am Ring. Eu digo aguardado porque todo ano, esse festival é livremente transmitido via Internet e desse modo fãs de outras partes do mundo tiveram a primeira oportunidade de acompanhar a banda ao vivo durante a tour histórica. O site alemão que transmitira o show alcançou recorde no número de acessos, gerando assim uma lentidão na rede que em alguns momentos chegou a sair do ar. Por volta de 5 da tarde, a banda sobe ao palco e encontram a sua frente mais de 75 mil barulhentos fãs prontos para presenciar o novo espetáculo que a banda preparou para eles. Ao contrário do que se pensava, nem tudo ocorreu bem e o show foi mais difícil do que o comum. E os culpados disso são o frio e a ventania em Nurburgring naquele momento. Mas a banda em nenhum momento deixou a animação cair e fez um show do mais alto nível. Após a apresentação, o baterista Nicko chegou a comentar que esse foi o show mais difícil da vida dele.


Iron Maiden em Graz, Áustria  - por Johnny B (ironmaiden.com)

Iron Maiden no Rock Am Ring, Alemanha  - por Johnny B (ironmaiden.com) Iron Maiden no Rock Am Ring, Alemanha  - por Johnny B (ironmaiden.com)Iron Maiden no Rock Im Park, Alemanha  - por Johnny B (ironmaiden.com)


Imediatamente após o fim da apresentação, os fãs mais uma vez entupiram milhares de páginas dedicadas ao Iron Maiden ao redor do mundo com o intuito de discutir o espetáculo que haviam acabado de presenciar. E tudo foi discutido nos mínimos detalhes. No dia seguinte se apresentaram no festival Rock In Park para em seguida rumar à Islândia e fazer o primeiro show da banda por lá. Seguiram tocando nos maiores festivais europeus, como o Gods of Metal na Itália, Lorca Festival na Espanha, até chegarem à Paris para fazer aquele que era um dos shows mais aguardados da Tour. A banda fez a alegria de mais de 60.000 mil fãs naquela noite. Um fato curioso sobre esse show é que este foi o primeiro da nova tour a ser anunciado e, mesmo com nove meses de antecedência, os ingressos se esgotaram em poucos dias. No dia seguinte se apresentaram no Graspop Metal Meeting na Bélgica, na última das apresentações com abertura dos americanos do Dream Theater. Esse foi outro fato legal no giro que a banda fez pela Europa, várias bandas de diferentes estilos abriram esses shows. E algumas eram de grande porte como Dream Theater e Dio.
A essa altura só faltavam mais sete shows até o encerramento da tour na Suécia. A banda teve que fazer shows extras em Oslo e Hellsinki tamanha foi à procura por esses ingressos. No dia nove de Julho, a banda faria a última apresentação da tour européia. E mais uma vez, não se tratava de um show comum. Como é de conhecimento de todos, a Suécia é um dos países em que a banda tem mais seguidores e todos os shows por lá, assim como os realizados na América do Sul, tomam proporções estratosféricas. Nesse dia, cerca de 55 mil fãs compareceram ao estádio Ulevi em Gotenburgo para conferir a apresentação da Donzela. Esse show foi transmitido ao vivo direto do estádio para alguns dos países escandinavos e ainda por cima no sistema de som 5.1! Como uma qualidade absurda de imagem, som e ainda por cima a apresentação da banda, esse show acabou se tornando um DVD Bootleg perfeito.
Desse modo terminou o giro da banda pela Europa, com saldo extremamente positivo. Eles haviam acabado de realizar o melhor show da tour, fãs ao redor do mundo estavam cada vez mais extasiados com a Donzela, eles estavam muito felizes com toda essa repercussão boa alcançada pela tour. Foram realizados ao todo 21 shows em vários países do velho continente. E a grande maioria teve a sua lotação esgotada, provando mais uma vez a força do Iron Maiden e do Heavy Metal mundo afora.
Agora, era chegada a hora da banda partir para a turnê americana. O que não se sabia a essa altura, é que certos eventos ocorridos durante a viajem pela América, marcariam para sempre a história da banda. Mas para contar o ocorrido precisamos ir por partes e voltar um pouco no tempo para entender alguns pontos.


Iron Maiden no Hammersmith  - por George Chin (ironmaiden.com)

Iron Maiden em Paris, França  - por Johnny B (ironmaiden.com) Iron Maiden em Oslo, Noruega  - por Johnny B (ironmaiden.com)Iron Maiden em Full Force Festival, Alemanha  - por Johnny B (ironmaiden.com)


Primeiro de tudo: nos últimos anos a relação entre a banda e o público americano não tem sido das melhores. Vários fatores contribuíram para isso, como o fato de a banda só ter feito três shows por lá durante a Dance of Death Tour. Mas eu diria que o principal motivo para isso tem sido a língua cada vez mais afiada do vocalista Bruce Dickinson. Nos últimos anos ele vem criticando cada vez mais o público americano, dizendo que eles não se empolgam nos shows, não participam, que apenas se preocupam em encher a cara de cerveja e de hot dogs e que permanecem sentados olhando as apresentações. E o baixinho chegou até a falar que para a banda, não era interessante excursionar pelos Estados Unidos. Foi por isso que muitos não entenderam quando foi anunciado que a banda se juntaria ao festival itinerante de Ozzy.
De cara, muitos fãs torceram o nariz para essa tour. Muitos queriam vê-los como Headliners e não queriam pagar o preço abusivo cobrado pelos ingressos da Ozz fest, apenas para ver o Iron Maiden, já que a line up do festival esse ano não era grandes coisas. Outro fator que gerou muita reclamação: eles seriam a banda de abertura do Black Sabbath, e como resultado disso teriam apenas uma hora para se apresentar. A última vez que a banda havia sido banda de abertura, foi há 20 anos atrás no Rock In Rio 1, quando abriu o show do Queen. De lá para cá, nunca mais a banda abriu um show. Muitos consideraram isso como um retrocesso, mas a banda não compartilhava dessa opinião. Para eles, essa era a única chance de shows pelos EUA.
Muitos apostavam que o fato de poder tocar apenas uma hora faria a banda reduzir drasticamente o seu set list, e foi exatamente o que aconteceu. No dia 15 de julho, a banda iniciou em Boston a perna americana da tour. E como dispunha de apenas quase 60 minutos, a banda fez drásticas mudanças no set list da apresentação. Faixas como Another Life, Murders In The Rue Morgue e Drifter foram deixadas de lado e a banda tocou apenas os “hits”, gerando insatisfação geral por parte dos americanos. Alguns fãs chegaram a se sentir lesados por a banda ter deixado de lado aquelas músicas que fizeram a alegria dos Europeus. Esse set list padrão que contava com apenas 11 músicas, só não foi executado nas datas que não faziam parte do festival. E elas foram três no total. Quebec, Toronto e Denver. Nesses shows, os fãs tiveram a oportunidade de presenciar o mesmo show que foi mostrado aos Europeus. Inclusive o show de Toronto foi apontado como um dos melhores da tour. Nicko chegou a comentar que em certos momentos encontrava dificuldades em escutar seu próprio instrumento devido a grande participação do público.
Durante toda a tour, o vocalista Bruce Dickinson alfinetou a família Osbourne. Nos seus já famosos discursos entre as músicas, do nada, ele chegava ao microfone e dizia coisas do tipo: “Nós não precisamos de um reality show para nos promover”, “É uma vergonha um vocalista ler as letras de um monitor”. Provocação barata que estranhamente demorou a ser revidada.


Iron Maiden no Hammersmith  - por George Chin (ironmaiden.com)

Iron Maiden no Hammersmith  - por Danny Clifford (ironmaiden.com) Iron Maiden no Hammersmith  - por George Chin (ironmaiden.com)Iron Maiden no Hammersmith  - por George Chin (ironmaiden.com)Iron Maiden no Hammersmith  - por George Chin (ironmaiden.com)


Até que no dia 20 de Agosto, dia do último show da banda pelo festival, Sharon Osbourne e sua imensa filha, Kelly, orientam membros de sua equipe técnica a jogar ovos na banda. Tudo isso da primeira fila. Além disso, durante toda execução de seu set, o Iron Maiden teve problemas com a energia que era desligada sistematicamente, atrapalhando e muito o sexteto. Pensa que isso os parou, os fez diminuir o ritmo? Pelo contrário, parecia que a cada ato de loucura cometido pela esposa de Osbourne, a banda ficava com mais raiva e tocava cada vez com mais garra, realizando desse modo uma das apresentações mais memoráveis de sua carreira. E nada como ter um grande frontman em sua banda. Bruce sabe como ninguém interagir com o público e fez os 45 mil fãs presentes ao evento ficarem do seu lado e vaiarem Sharon Osbourne. Ao fim do show, a banda deixa o palco ovacionado por todos e com sensação de dever cumprido. Notícias de pessoas presentes ao show, dão conta que terminada a apresentação da Donzela, quase metade do público deixou o local em que estava sendo realizada a apresentação, a outra metade se virou de costas para o palco, fazendo desses um dos piores shows da história dos veteranos do Black Sabbath. Certamente eles não mereciam isso.
Mas enfim, a confusão não parou por aí e continuou através de bate bocas pela imprensa americana e européia. Em minha opinião os dois lados erraram. Primeiramente o Iron Maiden, uma banda com todo o seu porte e história, não precisava se sujeitar a tocar em um festival como o Ozzfest e deixar o seu fiel público americano extremamente decepcionado, tudo por uma clara decisão comercial. Ou vocês acham mesmo que a banda não consegue alavancar uma tour pelos Estados Unidos? Mais errado ainda foi o vocalista Bruce Dickinson que foi mexer com quem estava quieto e acabou sendo um dos principais pivôs dessa confusão toda.
Do outro lado, Sharon Osbourne, que atacada, resolveu revidar da pior maneira possível e acabou gerando mais antipatia ainda pelo seu nome e de sua família. Foi realmente uma atitude lamentável, e ela mereceu tudo o que foi falado sobre ela na imprensa. Espero que os dois lados tenham aprendido suas respectivas lições e que fatos lamentáveis como esse, nunca mais ocorram para nenhuma das partes.
Seguindo com a vida, o Iron Maiden retornou para o Reino Unido para realizar os últimos quatro shows dessa maravilhosa turnê. Desses quatro shows, destaco dois. O primeiro deles foi realizado no lendário festival inglês Reading Festival, do qual o Maiden não participava desde 1982. Há exatos 23 anos, a banda promovia o lançamento do álbum The Number Of The Beast, se apresentou no festival e roubou a cena, deixando uma ótima impressão. O segundo show que eu destaco seria também o último da tour. Marcado no apagar das luzes, o show na famosa casa de show de Londres foi marcado como uma forma de angariar fundos para o tratamento do ex-baterista da banda, Clive Burr, que sofre de Esclerose Múltipla. O Hammersmith Odeon, que agora se chama Hammersmith Apollo, sempre foi um dos palcos preferidos da donzela, e seus shows por lá se tornaram lendários. Só para se ter uma idéia, durante a Somewhere on Tour de 1986, a banda chegou a fazer cinco apresentações seguidas por lá e todas tiveram sua lotação máxima. Por isso e pelo fato de ser um show para angariar fundos para Clive, fizeram desse um show tão especial. Para essa apresentação, somente fãs que são cadastros no fã clube oficial da banda puderam comprar ingressos, e assim, no dia dois de setembro de 2005, o Iron Maiden fez o seu melhor show nessa turnê, e fechou de maneira vitoriosa a mesma.
Essa turnê já entrou para a história como uma das mais vitoriosas e importantes da carreira da Donzela. Só mesmo uma banda como o Iron Maiden para inovar e proporcionar um espetáculo desse tipo aos seus fãs. Uma pena que mais uma vez América do Sul e Japão não foram agraciados com um show dessas turnês de verão. Quem sabe um dia? Não custa nada sonhar...